2010-12-07
Arsénio Pires - Porto
Meu caro Gaudêncio:
Como seria bom que, serenamente, todos nós soubéssemos discutir e aprofundar alguns dos temas que o nosso tempo nos põe diante dos olhos. Infelizmente, já nem de pensar somos capazes. Parece! Aqui!
A nós coube (e cabe…) ser testemunhas duma das maiores crises da história humana. O Homem total está em crise. O polvo neoliberal estendeu os seus braços pela Terra inteira espalhando a confusão e o desequilíbrio em que nos encontramos: económico, social, cultural, climático, religioso, ético e espiritual. E, como consequência, essa confusão e desequilíbrio atingiu o essencial: o sentido da vida deste ser a que chamamos Homem!
E desistimos. Parece que baixámos os braços dizendo:
- Não podemos fazer nada. Deixa andar! A ver em que tudo isto vai parar...
Tu dizes, e muito bem: “O que julgo é que, em épocas de crise, na ausência de valores firmes e no desaparecimento das utopias, a sociedade tende a virar-se e a agarrar-se a qualquer coisa que possa substituir o vazio que nos desnorteia presentemente.”
Fizeste-me reflectir e dei comigo a perguntar-me:
- Será que o Homem só é capaz de pensar em si e no seu destino quando está em crise?
Será que o Homem tem andando tão distraído com o seu umbigo que nem sequer encontrou tempo para se olhar "olhos nos olhos"?
Será que só agora se deu conta que o ser humano é um ser “vazio” a exigir plenitude?
Será que só no silêncio deste deserto de crise o homem consegue encontrar um sentido para a sua existência?
Será que a crise tem, ao menos, esse lado positivo?
Será?
(Alguém aqui virá dizer que “isto” é muita filosofia para tão pequena camioneta. Será?).