2011-01-27
Ismael Malhadas Vigário - Braga
Nem de direita nem de esquerda. Isto não é possível. Mas é, pois a verdade pode estar em dois ou mais lados. A verdade não se resume a uma classificaçaõ dicotómica. Essa divisão é apenas uma possível classificação académica. As classificações dos objectos respondem a determinados interesses do sujeito. Henri Lebvre, pensador francês, dizia que havia mais pontos de contacto entre a esquerda e a direita que divergências. E, neste ponto, acho que, hoje, estes dois conceitos ou dois esquemas de "arrumar" a realidade político-ideológica é, cada vez mais vazio e mais gasto.
O ser humano é incapaz de se calar, de guardar silêncio, de escutar, de receber a palavra do outro e dar-lhe um tempo de maturidade, para depois a poder oferecer ao outro com uma mais-valia. As palavras vão e vêm e algumas são tão recorrentes que as esvasiamos pelo facto de com elas pronunciarmos as mesmas ou quase mesmas ideias a que a elas andam associadas.
Neste ponto, agrada-me a palavra dos poetas, a sua figuração, porque recriam novos sentidos e deleitam o leitor pela sua força estética, pela enorme abertura que manifestam e pela oferta de um mundo, quase sempre novo e estimulador para a confiança do homem. Viva o Alexandre, o Fernando Echevarría e o Bernardino dos Fóis e todos aqueles que, beberam dos nossos valores e palmilharam os campos da Barrosa, que riram e suaram nos jogos, nas pequenas tertúlias e que continuam a viver connosco.
Esquerda e direita.
Ninguém devia acreditar nestes conceitos, porque redutores e, em geral, portadores de coisa nenhuma. Até aqui, neste sítio, já houve vezes que nos desentendemos. Porque é mais importante tudo aquilo que nos une, que nos aproxima e nos identifica e, esta realidade redutora, necessariamente que pouco tem a ver connosco. Viva o Aventino, grande amigo, que me ofereceu o seu livro e que me deliciei a lê-lo, porque falou de uma realidade recriada pelas virtualidades da palavra e sentidos sempre novos que sabe atribuir às palavras e com elas sabe dar esperança ao leitor.
O desencanto pela política começa a ser já um tormento. E essas duas arrumações já fizeram grandes estragos. Imagination au pouvoir, diziam os revolucionários do Maio de 68.
Com isto, Arsénio, ponho tudo mesmo saco e bem atado, tal caixa de Pandora!...
Um abraço pra todos.
Ismael Vigário