2011-02-01
Arsénio Pires - Porto
Ando com o poema do Aventino
no bolso
e aperto-o sempre que as lágrimas me turvam
porque o poeta é um fingidor
mas não todos dias.
Também eu tive mãe
e certezas que esqueci
e cabritadas que comi
e disse amo-te sem saber que o amor
nunca se diz
inefável que é como as flores que crescem
e morrem
sem nunca terem nome.
Ando com o poema do Aventino
no bolso
junto bem junto ao coração.
Matar-me? Para quê?
Ainda se ao menos acabasse de vez…
Mas morrer é apenas deixar de ser visto
como Pessoa
depois da curva do caminho
e então lamentaria eternamente
não ter abraçado os meus amigos
naquela cabritada bem regada
lá para os lados dos Arcos
onde o Vez
corre sempre novo debaixo dos salgueiros
e das sombras dos salgueiros
e das folhas dos salgueiros
e das flores dos salgueiros
em cada primavera que me acorda.
Ando com o poema do Aventino
no bolso
junto bem junto ao coração.