2011-01-31
Ismael Malhadas Vigário - Braga
Caros amigos,
Primeiro de tudo, um pedido de desculpas pelos meus erros ortográficos. Um e-mail não é como as cartas que antigamente escrevia. Antes grafava com a mão e a mão seguia o pensamento e a mão só escrevia depois de autorizada, agora é uma revisão rápida e é logo um clic. O Arsénio desculpou-se em tempos que não tinha algumas teclas. Penso que tenho tudo, mas depois de ler outras vezes, reparo que não posso emendar Lefèbvre, Fóios e tantas outas palavras mal escritas, mas sei que as pronunciei bem para mim mesmo. Temos os destinatários e eles são superiores aos emissores no acto da escrita.
O poema do Aventino comoveu-me. Senti-me arrepiado com as palavras e os sentidos tão diversos que o poeta polixamente estampou na página expendida de estrofes.
Aqui na minha escola costumamos fazer um festival de poesia. E um dia um filho meu que agora já tem quinze anos declamou um poema em público e fez-me descompor em choro e, ainda agora me comove , quando me remonto a um ponto daquela memória que selou em mim algo de alegre e triste que as palavras nos desconjuntam e locomovem da realidade.
Portanto, Aventino, já sabes que tens um enorme efeito em mim. Não vou comentar o teu poema, pois vou obedecer ao mestre Arsénio: os poemas não se comentam. Talvez, vivem-se. Senão fico como referi, atrás, com o poema do meu filho - perdemos a postura e os outros acham que não podemos extravasar a emoção, sermos sujeitos do poema que alguém escreve e que, sem sabermos, também nos é endereçado.
Não será isto também a relidade? Ou é só falarmos de economia, economia... finanças, dívida... crise , diis te perdent - como diziam os latinos.
Façamos poesia, se for esse o nosso modo de sermos nós próprios, bebamos o vinho em companhia, pois pode ser o acto poético por excelência, quando nos apraz a companhia e o nosso ego se reforça e a espenrança é um rio para lá das nuvens, de outros universos e mundos, os da imaginação e que fazem parte de nós, como o frio que bate na pele ou o olhar do outro que me acarinha ou me fustiga.