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2019-04-24

alexandre Gonçalves - Palmela

OS NOVENTA DE LUÍS GUERREIRO

 

Companheiros das vastas ilhas, afinai ouvidos e memória! Há um barco no mar, que passará por todas as moradas, distribuindo convites e apelos para um encontro a norte. Para quem não se lembre, o pretexto é mais uma homenagem a Luís Guerreiro, esse heróico navegante, nascido em Gondarém, Caminha, em Julho de 1929. Dele se pode em rigor dizer que a sua longa biografia dava um longo filme. De tanto participar nas actividades associativas, e dado o brilhante passado anterior, bem como a sua obra literária, de todos conhecida, não é necessária qualquer apresentação.

Recordo apenas que há dez anos, quando celebrámos os seus gloriosos oitenta, nos reunimos em grande número sobre as águas do rio Minho, num restaurante próximo da sua aldeia. O rio e a paisagem verde que o envolve terão sido um dos primeiros apelos de escrita, como se verifica no último livro publicado. Luís Guerreiro nasceu, cresceu, sofreu e ali escreveu o seu destino. A teia da vida é imprevisível e misteriosa. Mas esta infância, nesta margem esquerda, nesta envolvência vegetal e pura, nestas águas de  fronteira, terá dado muita força para os muitos regressos. Foi a pensar nisto tudo que alguns de nós nos pusemos ao caminho, e, em acordo-surpresa com a Hirene, decidimos que era ali o local adequado para a festa.

Sei que já está em preparação o novo encontro. Apresso-me a  saudar os organizadores. Porque nada se improvisa com êxito. Mas gostava de sugerir que não fugissem desta maravilhosa paisagem, que viu o Luís Guerreiro a aprender a voar. É a linha final de um país comprido. Do outro lado, é o mundo europeu, a enorme Espanha, nossa irmã. Este lugar é bom, é limpo, é genuíno. E tem silêncio que chegue para a nossa idade. Não se deve procurar longe o que temos à mão. A minha aldeia tem um rio, dizia o outro. O Guerreiro também o diz. E nós, pela memória acumulada, também o dizemos. Restaurantes há muitos, mas nenhum que se afaste deste doce rio cumpre a nossa intenção.

Noventa sim, mas no coração. Na simplicidade líquida destas casas, destas margens. Onde se aprendeu a voar!!!


  

2019-04-20

Manuel Vieira - Esposende

As festas pascais animam por todo o país a época baixa e as tradições ainda são o que eram ,sobretudo na região norte, onde os compassos continuam a dar vida e muita cor no domingo, segunda feira e até na pascoela.

Vale bem visitar nestes dias a região alto minhota, a zona da Ribeira Lima, a freguesia limiana de Vitorino das Donas onde os homens que asseguram o compasso usam lenços de mulher atados nas cabeças e são acompanhados por uma orquestra de instrumentos de corda, ou as vianenses Meadela e Portuzelo com as gaitas de fole e os tamborileiros  marcam o ritmo das mordomas e das jovens minhotas coloridamente ataviadas.

Em Fiscal, terra do António Variações, o compasso desce o rio Homem em dia de segunda feira, com várias embarcações construídas para o efeito, onde navegam a Banda de Música, o compasso agora sem  o padre Joaquim recentemente falecido, os fogueteiros e os jornalistas e os fotógrafos.

A espiritualidade destes momentos também pode ser intensa,  vivida nos locais certos mas a festa familiar traduz a importância que ainda se dá à intensidade da vida e à partilha de tempos felizes.

Não vou estrear roupas novas como era tradição na minha infância mas alegra-me lembrar-vos nestes dias de festa.

Uma Páscoa Feliz e um abraço...


2019-04-11

alexandre gonçalves - palmela

 

 NOTA INTRODUTÓRIA: ELOGIO DA INSURREIÇÂO


"Foi o lugar que sucumbiu. Só vinga

a espécie de halo que ficou a dar

para a distância". F. Echevarría (Introdução à Poesia)


 

Saudações insurreccionais! Abril trouxe um pouco de chuva, o bastante para o ventre da terra se agitar de fertilidade. Num  súbito gesto solidário, e claramente deslumbrados pela explosão dos campos e dos bosques, emergem da penumbra alguns dos ARs mais atentos à vertigem da idade. Rejeitando concordâncias e resignações, aí estão os suspeitos do costume, a subverter a nossa precoce aposentação, de amplo espectro... O Aventino e o Gaudêncio, em pleno exercício de leitura, convocam-nos para qualquer forma de insubordinação. Eu larguei a courela, a vinha e o faval para participar neste regresso. Abaixo as previsões melancólicas de um arismo decadente e sentado, comendo cozinhados de TV e resíduos de um cristianismo apático e obeso. Esta página é excelente para dizer uma ideia livre e criadora. Não é para jeitosos inflamados. É para todos os que preservaram a palavra e a leitura. Que seguram sentimentos e convicções. E para todos os que aprenderam a rir disto tudo que nos rodeia e sufoca. Devemos um pensamento luminoso à sociedade que nos financiou, que julga ter-nos amado e se prepara para nos instituir. Seremos cães mudos? Será perfeito o mundo onde fomos jovens? Teremos uma poupança-reforma para gerir a solidão? Dizer não é só um direito. É também uma atitude ética. 

Com estes apelos, atirei-me sem rede sobre a memória. O resultado foi um naco de prosa perturbada, com a qual me recuso a fechar a porta. Quando Echevarría foi homenageado pelos seus noventa, comentou de improviso: "e muito mais escreveria, se outros  noventa houvesse!" Houvera vinte justos como ele, a pensar por escrito o que se passa na nossa rua, nós podíamos destruir este mundo e criar outro mais habitável. Se em vez de vinte, houvesse dez, fundávamos outra cidade. Se em vez de dez, houvesse cinco, íamos a Creta e pedíamos à formosa Ariadne que nos desse um fio de ouro e nos conduzisse ao Dinossauro. Porém, disse Deus uma vez que nem um justo haveria. Por isso, arrasou Sodoma e Gomorra. Mas como nós estamos em autogestão, mesmo que nem um justo abra a fascinante brancura desta página, está ainda longe de se apagar a luz que a viu nascer.

(Dada a hora avançada e a abusiva extensão da nota introdutória, fica para breve a "prosa perturbada" referida.)


2019-04-10

Aventino Pereira - Porto

GASTRONOMIZA-TE

 

E, eis que do alto deste penhasco, vislumbro ao longe o resto dos prazeres que nos restam:

                                                                                     I

-De avental ao peito, mexe que mexe, remexe, remexe, o panelão a ferver , e o VIEIRA,

Oh mulher! Já ferve,

e ele prova, volta a provar, medita nos sabores sentidos e o que lhe apetece é começar já já a comer,

uma pitada mais de sal fica mais apurado,

a colher rola, rola outra vez, agora o vinagre, tinto, mulher é do tinto, todos pra mesa, grita ele,

eei-la: fémea, gorda, grande, às postas a abrilhantar a gula de um repasto de deuses.

                                                                  II

-O CASTRO é todo butelo e casulas que vieram lá do fim das terras quentes do Nordeste para ali, naquele cantinho de Sabrosa, à vista do vale onde o Douro parece abraçar-nos.

Fez-se silêncio. A primeira garfada à boca esilêncio de novo. Começou o banquete. Mastigai bem, devagar, devagar, que isto é indigesto, diz o Castro, e ele sorve, chupa, trinca, lambe, osso a osso,

que nada se perca,

o dia começou cedo é preciso alimento forte para aguentar,

e a vinha, vinhedos de Sabrosa onde ele ainda vai namorar o tempo antes de regressar ao Porto. Oh mulher! despacha-te que quero estar com os netos.

                                                                   III

-Agora, seja  o ALEXANDRE, vem de Sesimbra, uma posta de cherne no “O Velho e o Mar” e dois comunas ao lado, na mesa ao lado, espreitam, espreitam o prato do Alexandre e conspiram,

a burguesia come peixe fino, diz o comuna invejoso;

os pobres comem peixe vagabundo, diz o outro comuna invejoso.

O Alexandre segue o seu caminho, Coina para a direita, Palmela para a esquerda, hesita se vai a Coina ou para Palmela, pensa (o Alexandre não pensa, cogita) e lenta, lentamente, refugia-se no seu refúgio:

-ao menos se o meu pensamento parasse!... e adormece.

                                                                      IV

-Na Rua das Portas de Santo Antão, o GAUDÊNCIO espreita, espreita as ementas, restaurante, outro restaurante, outro, o Gambrinus:

-folhado de perdiz:  50,00 euros

-crepe suzete:           30,00 euros

-café de saco:               9,00 euros.

Ladrões, grita o Gaudêncio. Ladrões, Ladrões, grita o povo na rua, chamem a Polícia, ouve-se, chamem a polícia, a sirene, a patrulha chega, arma, escudo no braço, viseira e cassetete em riste para o que der e vier,

onde estão os ladrões, onde estão os ladrões grita o polícia baixinho borrado de medo,

e o Gaudêncio,

ali, ali, e aponta o Gambrinus.

Continua a subida, agora sereno, a alegria interior própria de uma patifaria infantil de que todos nós gostaríamos de ser os autores,

Avenida da Liberdade, encosta-se à vidraça e vê. Que luxo, diz baixinho, “Je ne sais quoi”, JNcQUOI restaurante, aberto das 12 horas às 02 horas, e lê os preços, incrédulo, outra vez os preços,

“grandes ladrões, soletra,

continua a subida, Avenida de Berna, o Rêgo, passagem para o outro lado, “Adega Tia Matilde”. E repasta-se. Finalmente.

                                                                       V

-O ARSÉNIO ainda não decidiu. Entre um peixe grelhado em Matosinhos e um cozido à portuguesa, talvez um bife do lombo, “mal passado, faz favor”. E depois? Depois, meditar e poetar!

                                                                       VI

-Quem circula pela A28 e pela A3 depara-se com uns cartazes que ficarão na memória para os nossos restos de sempre:

“3ª edição da Foda à Monção”.

O MARTINS RIBEIRO ri-se, impõe-se, goza com quem não sabe, é muito bom é, diz ele, em forno de lenha o anho a assar e pinga, pinga sobre o arroz, continua, mas saibam bem que a boa foda é lá nos Arcos, na minha terra.

                                                                         VII

-O nosso ASSIS escarafuncha, ancinho numa mão, a pá na outra,

a terra ainda está seca, tenho que regar isto, fala com as rosas, beija aquelas orquídeas altas que tem junto à porta e volta ao quintal,

mais mês menos estas hão de estar boas

e nós à espera das favas lá para maio ou junho misturadas com grandes doses de afeto com que nos haveremos de amar, ali, em terras de Orbam.

                                                                          ***

E eu, um prato de sopa de nabos, acompanhada com a minha imensa solidão.

 

AVENTINO, algures, em abril de 2019 (d.c.)

 

2019-04-03

Manuel Vieira - Esposende

O tempo vai encurtando, escrevia eu há dias noutro espaço, referindo-me ao desaparecimento precoce do nosso colega Amândio Acácio Pires de Mirandela, que terá entrado em Gaia no ano de 1961.

Não o conheci pessoalmente, mas dirigi-lhe palavras  escritas de agradecimento por nos ter apoiado com a cedência de um autocarro num belo Encontro que realizamos naquela região e nos permitiu calcorrear o castelo de Ansiães com as doces  cerejeiras à entrada, subir ao monte da Senhora da Assunção em Vilas Boas e descer à foz do Tua onde nos deliciámos com os gulosos "peixinhos do rio".

Faleceu com 70 anos de idade e na altura do dito Encontro estava ligado ao Município de Mirandela. Paz ao seu espírito.

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