Vou trazer novamente p’raqui a poesia, desta vez não da lamecha mas da pesada. E então vos conto: escrevia eu, por volta dos anos sessenta, sob o pseudónimo de A.Licantes, vários trechos literários no único jornal que existia em Monção, minha terra, "A TERRA MINHOTA", mais para fruição duma pena ociosa do que por obrigação ou necessidade. Poucos anos antes do 25 de Abril que se afigurava ainda uma miragem, enviei para o referido jornal um poema de certo modo profético. Se fosse hoje nunca o teria escrito porque esse evento, como logo após se pôde verificar e o tempo desgraçadamente confirmou, foi a maior tragédia que se abateu sobre esta Pátria milenar e o princípio da sua derrocada. Presentemente repudio o facto histórico mas mantenho o poema porque, em quase tudo, também ele pode ser aplicado aos dias de hoje.
Então, aí vai:
POEMA DAS MÃOS
Mãos benditas, malditas mãos!
Malditas mãos de Nero que incendiaram Roma
E depois, sobre essas labaredas infernais,
Tocaram na cítara a canção da loucura!
Mãos benditas que levaram ofertas ao Redentor recém-nascido,
Malditas mãos de Herodes que degolaram os inocentes.
Mãos benditas de Cristo cravadas pelo ódio á revolução do amor fraterno,
Cínicas mãos de Pilatos que tentaram lavar-se do sangue do Justo.
E as mãos diabólicas que retorceram as almas nos campos de Auchwitz,
Que degradaram a essência humana nos gases de Bergen-Belsen
E se tornaram monstruosas manipulando pilhas de cadáveres nos crematórios de Dachau?
Mãos nefandas que incineraram Hiroshima,
Mãos benfeitoras que deram vida ao descobrir a penicilina.
Mãos prostituídas que matam no aborto.
Mãos redentoras que salvam nos partos difíceis,
Nas camas dos hospitais, nas salas de operações!
Mãos vilipendiosas que brandem o chicote da escravidão dos senhores feudais!
Mãos grandiosas que constroem arranha-céus ou choupanas!
E as mãos que sobem ao céu,
Que descem ao fundo dos mares,
Que penetram nos mistérios das cavernas?
E as mãos que tratam chagas, cancros, podridão?
E as mãos que tapam as bocas a abafar gritos de Justiça?
E as mãos que bendizem um filho assassinado sem o poder vingar?
Oh! Benditas mãos que arais a terra
Mourejando nas planícies ardentes ou nos socalcos gelados,
Tentando encontrar o saciar da fome!
Oh! Mãos amaldiçoadas que fomentais a guerra entre os homens, entre as raças,
Que puxais o gatilho das metralhadoras,
Que lançais granadas, bombas, que colocais minas nos ardentes sóis africanos!
Oh! Mãos benditas do lenhador, do pedreiro, do carpinteiro;
Não merecereis vós o prémio da humildade?
Oh! Descaradas mãos que bebeis "Whisky" e champanhe em taças de ouro,
Que comeis manjares exóticos e requintados
Para que outras mãos comam esterco em gamelas sórdidas!
Mãos infames de políticos que roubais o fruto de esforçado trabalho
Deixando famílias inteiras a morrer á míngua de pão!
Queridas mãos que acariciais o rosto de uma mulher amada!
Nojentas mãos de carrascos que queimais peitos de virgens com pontas de cigarro!
Mãos de missionários que pelo mundo semeais a "Boa Nova" de Cristo,
Da caridade, do amor ao próximo, a amigo ou inimigo;
Sois benditas!
Mãos de Padres que gesticulais nos púlpitos as arengas dos Opressores;
Mãos que traís o Evangelho, aplaudindo os que escravizam o Povo de Deus;
Mãos de Pastores que entregais o rebanho que vos foi confiado ao lobo devorador;
Sois malditas!
Mãos que rodais as chaves das jaulas
onde se crispam outras mutiladas mãos que lutaram pela liberdade;
Sois malditas!
Mãos inocentes de crianças que, arrebanhadas, de batas brancas,
Atirais ingenuamente pétalas de flores aos carrascos que passam, triunfantes!
Mãos imundas que bebeis o suor e o sangue dos escravos,
Como no reino dos vampiros tenebrosos!
Mãos que fechais portas e portas e portas
Para que se não ouçam longe demais os gritos dum Povo esmagado!
Mãos desgraçadas que limpais lágrimas da mãe
Que chora por um filho que parte para a guerra.
Mãos de pai que agitam lenços num adeus de embarque!
Mãos duras de emigrantes que moldais solo estrangeiro
Porque na vossa Pátria não produzem nem flores nem pão!
Mãos desnorteadas que aclamais os tiranos
E bendizeis os que vos roubam o amor e a paz!
Sois vós, mãos, que badalais alegremente os sinos nas bodas e baptizados
E que também os tangeis, lânguida e tristemente, nos mortórios!
Sois vós que embalais entre cantigas doces um filho recém-nascido
E que transportais igualmente o caixão ao cemitério
A depositar um irmão, um amigo, nas entranhas da terra!
Sois vós, mãos benditas, que fazeis o bem!
Sois vós, malditas mãos, que acarretais todas as calamidades!
Vós sois benditas, mãos, quando tratais das flores e malditas quando cortais as flores;
Sois benditas quando plantais árvores e malditas quando cortais árvores!
Sois benditas quando dais vida e malditas quando matais!
Sois benditas quando abençoais um amigo e malditas quando o apunhalais pelas costas!
Sois benditas quando construís o Mundo e malditas quando destruís a Terra!
Mas eu tenho fé, ó mãos, benditas mãos, que um dia quebrareis as algemas
Que outras mãos opressoras vos colocaram nos pulsos;
E então, erguidas para o céu, bem erguidas, haveis de saudar;
Primeiro a liberdade, com frenesi, com alvoroço;
Em seguida montar um imenso tribunal onde fareis Justiça a todos os Neros;
E depois, operosas, aliviadas,
Sobre os escombros do ódio, dos tiranos e dos algozes,
Construireis em paz uma Pátria Nova, um Mundo Novo!
Arcos de Valdevez, Maio de 1970
A.Licantes
(Prosas de intervenção)
Às vezes chego a pensar que os padres fizeram muito bem em nos dar um pontapé no backside!
A avaliar pela quase ausência de espírito de iniciativa, capacidade de discussão e partilha de opiniões reveladas neste nosso site e nas nossas actividades colectivas (poucos são os que intervêm...), quase todos daríamos uns lustrosos, sebosos e barrigudos frades enterrados no fundo do sofá, ruidosamente arrotando quando não silenciosamente folatando após a sesta.
Se lá ficássemmos, o Reino de Deus, por oposição ao Reino de César, ficaria para os outros, para aqueles que não fizeram os votos de pobreza, castidade e obediência como nós que pobres nunca seríamos, castos saberiam Deus e elas, obedientes nunca conseguiríamos sê-lo porque nunca suportámos chefes!
Miserere nobis, Domine, quia…
Hei por bem comunicar-vos que foi também por ela que me enamorei.
Não é mulher nem lampreia. Nem sequer rosa ou outra coisa feminina.
É a amizade que neutra é quanto ao género
e abraça toda espécie de amigos.
Também eu vos amo, AAAR’s, mas não à quinta-feira.
Sexta, pode ser mas é melhor um sábado.
Reformado trabalha e não é pouco.
Vinde todos!
Vem Aventino!
Quer partilhar alguma informação connosco? Este é o seu espaço...
Deixe-nos aqui a sua mensagem e ela será publicada!