2011-03-07
António Gaudêncio - Lisboa
Obrigado, meu caro Arsénio, duplicamente obrigado !!!!!!!!
E obrigado,porquê? Por duas coisas bem simples:
a) por teres trazido à nossa leitura esses dois textos, muito bonitos, sobre esse nobre português que foi Zeca Afonso;
b) por teres demonstrado com esse teu gesto, de bom gosto, que aquela " barbaridade " que, faz tempo, escreveste sobre o mundo pular e avançar sempre que morre um comuna, devia ter alguma subjacente picardia, ou alguma motivação malévola contra alguém.
E falo "dos comunas" porque é um pensamento recorrente na cabecinha de todos os reacionários primários ( perdoem a cacofonia ) deste cantinho, que o Zeca Afonso era comuna. Não era. Ele era outra coisa bem diferente: era um homem culto, era um homem bom, era um homem atento ao seu semelhante, era um homem muito sensível às injustiças sociais, era um homem que prezava a liberdade, era um poeta com P grande e era um cantautor do melhor que tivemos durante décadas.
Convido os "reacionáros" que, infelizmente, abundam neste País, a despirem os seus preconceitos sobre o Zeca e peguem nos seus CDs e num livreto com as suas poesias e leiam-nas e, ao mesmo tempo, oiçam as suas músicas. E, em simultâneo, tentem imaginar as condições em que algumas dessas obras de arte foram compostas e cantadas.
O Zeca viveu pobre e morreu pobre. Nunca conheceu uma vida desafogada e teve uma vida atribulada porque nunca abdicou dos seus ideais. Foi um desalinhado a quem alguns nunca perdoaram essa sua independência
Conheci o Zé Afonso, no verão de 1963, na cidade de Faro onde ele leccionava Português e eu aguardava que um barco dos grandes me levasse para a guerra de Angola, o que veio a suceder mesmo no final desse ano.
Desse nosso conhecimento nada ficou porque o Zeca, nessa altura, ainda não tinha ganho o espaço que alcançou nos anos seguintes no campo da música de intervenção e, já então, a PIDE não lhe largava as canelas. Naqueles anos a sua canção mais conhecida talvez fosse " O meu menino é de oiro, oiro......" ( totalmente inócua ). As canções de intervenção ( Vampiros, Coro dos Tribunais, Menina dos olhos tristes, etc ) vieram depois.
A minha admiração pelo Zé Afonso poderia levar-me a escrever sobre ele até amanhã mas descansem que vou terminar mas não sem uma pequena provocação: Esse patusco desse Papa João Paulo II, que deve ter feito "santos" à média de 15 por semana, podia ter tido um gesto nobre e devia, também, ter elevado aos altares o nosso grande Zeca Afonso porque ele ao menos deu-nos grandes exemplos de bondade para com os nossos semelhantes, teve uma vida despojada, nunca procurou bens terrenos e nunca foi capitalista nem ganancioso como o SSSAAANNNTTTOOO J. M. ESCRIVÁ.
Agora batam!!!!!!