2019-08-04
alexandre gonçalves - palmela
AINDA O ANO NOVENTA
Saudações marítimas a todos os AAARs que ou já navegam pelo infinito oceano ou estão de partida! Aproveito para reconhecer a excelente qualidade dos textos, em homenagem ao L.Guerreiro. Não sendo pertinente referir nomes, sempre direi que alguns revelam uma escrita madura irrepreensível, quer pela reflexão produzida quer pelo exercício da escrita alcançada.
Não me tendo sido possível, em tempo útil, entregar a minha colaboração, sirvo-me deste meio para divulgar o "Soneto de Navegação", já enviado na data respectiva ao seu legítimo destinatário.
SONETO DE NAVEGAÇÃO
Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.
Sophia M.B. Andresen (Mar Novo)
Na minha aldeia passa um rio antigo,
que tem exactamente a minha idade:
foi ele que me deu identidade,
fui eu que o escolhi p’ra ser comigo.
Na solidão opaca do perigo,
nas ciladas obscuras da cidade,
procurei com angústia a liberdade,
que em guarda estava num abraço amigo.
O meu rio nem quis parar na foz.
Foi nele que aprendi a navegar.
E à voz do mar juntei a minha voz.
E tu, Milene, se alguém me chamar,
explica aos que mais perto estão de nós
que o som das ondas canta o verbo amar.
(Ao Luís Guerreiro, ao mestre que à palavra sempre associou uma prática de assinatura; ao homem serenamente inquieto, que trocou todos os confortos e ambiguidades por uma coerência à prova de fogo; ao cidadão do mundo, a cujas causas deu a vida, o pensamento e o coração; ao escritor, ao penoso exercício da escrita, a quem atribui a belíssima longevidade e onde perpassa uma autobiografia cheia de coragem e pudor, por tantos e tão grandes desafios que teve de enfrentar; com profundo afecto e admiração, A.G.)