Claro que me regozijo com a opção do percurso Beirão. E, ainda mais, tendo encimado o escritor Vergílio Ferreira. Não por ser uma visitação aos recônditos fantasmas do Seminário, mas por Vergílio Ferreira ser um represente de uma certa maneira de intepretar o trágico da alma portuguesa. E todo o beirão tem um pouco desta índole que, junto da serra ora cálida ora nevada, com ela a esculpiu. Falando de "A manhã Submersa" e, emitindo um ponto de vista sumário, relata uma vivência seminarística dos nossos avós. Rimo-nos um pouco daquilo. Uma tia beata que pedia um corpo sacrificial a um jovem seminarista, para honrar o Senhor. Vergílo viveu pelo Alentejo, fez da dor e aridez da planície um mote de inspiração. Porque a Beira tem montanhas, tem vales e rios e amores escondidos e é diferente da grande planície a esmagar-se contra o eu. Vergílio Ferreira é um escritor existencilista e apreciador dos poetas e filósofos franceses: "Existencialismo é um Humanismo" da Editorial Presença, é um certo ideário básico do sartriano português. Mas depois vieram os volumes de Contracorrente, onde o escritor interfere criativamente com os temas da actualidade portuguesa e expõe, de forma criativa, os seus pontos de vista.Mas, como Beirão, agrada-me esta escolha. Não que precise de calcorrear, pois tenho lá a "alma"e ela não se confunde com os percursos geográficos, mas com as marcas das pessoas e dos tempos lá vividos. Ir à Beira, para mim, é entrar dentro de mim e estar em casa. É passar numa rua de um qualquer lugar e poder dizer bom dia e boa tarde e ser logo retribuído na saudação. É ouvir o bem haja e um sorriso de um velho que nunca deixei de conhecer.Na Beira há mulheres louçanas e que fazem um homem ser poeta. Na Beira há bom cabrito e bom queijo de saborear. Vão à Beira e alimentem-na, não a deixem desertificar.
Está bom de ver que a ida a Fão não teve, de forma alguma, a única finalidade de saborear a esquisita lampreia e sim a de conviver com antigos companheiros para revivalismo de tempos que, sabemos, não hão-de voltar nunca mais, para acalmar as inúmeras tensões do presente e, acima de tudo, para cultivar a amizade. Falo por mim!
Aqui chegado e ressaltando esta última característica, não posso deixar passar em claro a generosa pena do grande amigo Peinado que me brindou de forma manifestamente exagerada com frases elogiosas que, a meu ver, não mereço. O companheiro Peinado é um magnífico amigo que muito prezo, pois lê pela minha cartilha da amizade.
Mas, por outro lado, toca num ponto acertado quando vai abrindo a antevisão duma ideia que já em devido tempo me acorreu e que vagamente manifestei no sentido da sua concretização. Na altura certa será anunciada, com todos os pormenores, a realização dessa ocorrência.
Quero dizer-vos que não vos escandalizeis com a bizarria de tal nome porque a dita “Foda” é uma expressão cultural da minha terra, Monção, e que a respectiva Autarquia registou para evitar que haja adulteração ou delapidação desse património gastronómico. Para ir fazendo crescer água na boca, esclareço que se trata de um prato típico que consiste em anho assado em forno de lenha por cima de arroz de açafrão. Queríeis saber o resto, não? Tende calma! Só vos digo que, bem feita, é um inimaginável manjar, digno dos Imortais da Agápia.
Falo agora nisto para que vades pensando no assunto com o devido tempo e possais decidir como convém. Vou adiantando, contudo, que o acontecimento ocorrerá tendo como pano de fundo - background, como se diz em termos gráficos - o cenário grandioso da esmagadora beleza da montanha e da natureza.
O meu prazer será que compareçam muitos. Até lá, se Deus assim o permitir!
Há gente que vai a Fão para apreciar a boa lampreia, há gente que vai a Fão de propósito para se lambusar com as Clarinhas e os Folhadinhos. Isto quase que é indesmentível e quem o faz sabe porque o faz e alguns confessam-no. Outros juntam o útil ao agradável e o útil pode também interpretar-se pela sã e animada convivência, como podem confessar os nossos estimados colegas que passearam pelas ruas de Fão e depois se sentaram à mesa.
Este meu intróito pretende apenas confrontar o meu amigo Ismael de Vale de Espinho com os estímulos gerados para atrair os nossos colegas, que calcorrearam muitos quilómetros de linhas férreas para assentar prazeres pertinho dos corcéis de Ofir, que a lenda atribui a Salomão e às suas riquezas.
É que Fão até para comer é bão. E para conviver,claro...
Vergílio Ferreira atiçou o Aventino, às vezes de tantas parecenças que têm.
Ainda não li as Manhãs Submersas mas as palavras do Aventino forçam ao desejo de ler essa obra que retrata as marcas comuns de um paradigma dominante na educação fradesca.
Dizia há dias o Professor Pinto da Costa que o ser humano transporta cerca de 30% de herança genética, sendo o restante resultado de uma formação composta do meio, da educação e outros factores.
A interacção dos factores exógenos com o ADN irá resultar certamente, deduzo, nas formas diferentes de ler e de reagir, embora eu ouça sempre dizer dos ex-seminaristas que "têm cara de padre", o que me leva a supor que determinadas marcas em idades de crescimento deixaram o desenho do ferro.
Provavelmente também a psicofisiologia tenha dado algum contributo na caracterização psicomorfológia de um-seminarista e aí começo a compreender melhor o nosso colega Aventino, que lê em cada um a irreversibilidade desse marcante destino.
Louvo a opção por Vergílio Ferreira para o grande encontro dos AAR´S de 2011. Esse maravilhoso escritor de, por exemplo, "Nítido Nulo", "Para Sempre", "Aparição","Até ao Fim", "Cartas a Sandra". Vergílio Ferreira é um dos maiores escritores mundiais do século XX e tive a felicidade de o conhecer pessoalmente por via dum meu condiscípulo da Academia de Coimbra, sobrinho e afilhado do escirtor. Lêde, lêde, pois, todos os romances de Vergílio Ferreira mas, por favor, não o "Manhã Submersa". Podereis, porventura, reconhecer os lugares, os dias e a tragédia de vida ali contados.
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