2011-05-23
Alexandre Gonçalves - Palmela
bem, após as previsíveis saudações, um único autocarro nos levará a Gouveia, a Melo(aldeia de V. Ferrera) e a Folgosinho, já em plena serra, onde almoçaremos os famosos cinco pratos assinados pelo mestre Albertino. Refeitos da jornada, retomaremos o itinerário pelas elevadas cotas da montanha no sentido norte-sudeste, passando por Vale de Rossim, nascente do Zêzere, Manteigas, indo acabar esta etapa na belíssima cidade do Fundão. Porém, no final do dia estará à nossa espera uma festa de cerejas na aldeia de Alcongosta, com tasquinhas do melhor que na região se produz. Para este fim de dia, que se presume feliz, sugere-se o método da autogestão...Após o que, será o hotel do Sabugal e a noite por conta da imaginação. Excepto o direito a uma sopa camponesa e a uns petiscos de circunstância, no bar da vila. Regime voluntário gratuito. No dia seguinte, após um inebriante pequeno-almoço, haverá a visita à cidade, ao castelo e à barragem, bem como um porto de honra na casa do castelo. Iremos então até ao Rio Coa, o rio mais belo que corre em Portugal, "porque é o rio da minha infância"... Segue-se o almoço no Soito, onde nos vai surpreender uma original "canja de cornos", e o mais que se verá. Por fim, fazem-se os discursos, canta-se o "V(B)ivat" e damos início ao regresso, desta vez pela A25, não sem antes o nosso esclarecido Rei Davide nos aclarar a úitima invasão napoleónica, destroçada aqui pela valentia patriótica dos nativos... nossos conterrâneos.
Por tudo isto e muito mais que aqui não se revela, é imperioso não haver desistências. Os compromissos estão tomados, a lotação esgotou-se e perder uma oportunidade destas seria um acto de distracção imperdoável. O resultado previsível ultrapassará as expectativas. Trata-se dum regresso à mais remota infância, lá onde ficámos um dia na esquina do frio, à espera que nos viessem buscar. Provavelmente ainda por lá estaremos, quietos e mudos, porque às vezes não sabemos de onde nos chega uma incerta dor abstrata...
Que "a abundância de dias enriqueça/ esta velhice desprendida,/ de forma a os frutos lúcidos da terra/ dispensarem maior sabedoria"(F.Echevarría). Sigamos este conselho do nosso poeta da casa e não nos arrisquemos a sobrar, porque os anos acumulados não dispensam a urgência de preservar a vida enquanto o vento ainda sopra. Preservá-la é convocar aqueles que estiveram perto, que riram connosco e connosco viajaram. Afinal, este programa não é mais que um hino à montanha, de onde partimos um dia. À água, em cuja pureza lavámos a memória. Às cerejas e ao fogo que nelas há, onde ardemos pela primera vez e gritámos de alegria pelo esplendor da terra. Vinde e vede se há melhor ventura do que este regresso de todos a tudo, porque tudo está nestas paisagens, nestes rostos, nestes gestos, nestas palavras que se foram dizendo para virmos.
Para quê, perguntará o Sanches. Porque a vida inteira, responderá Vergílio, estará toda numa simples janela que se abre pela manhã para a montanha.