E vós saboreais já o repasto imaginado no falado Albertino em Folgozinho. Varreu-se-vos da vossa memória a palavra gula e a palavra pecado com que tantas vezes nos varreram a nossa cabecinha de meninos imberbes e sonhadores de um prato cheio de comida como outros tinham, num outro lugar, de um outro país? Ou, porventura, não se varreu nada e lá está a sêmea e a maçã, o grão de bico e a sopa e os esquálidos corpos dos meninos da Barrosa pendurados em ossos que mesmo assim teimavam em crescer?
Havia um desses meninos que era alérgico ao leite. De manhã vinham umas cafeteiras de café com leite para todos mas esse menino não o tomava porque sabia que se o tomasse haveria de o vomitar de seguida e vomitar era, òbviamente, proibido. Havia ainda o medo, o medo de ser diferente, de ser doente e o menino que fosse doente haveria de ir embora, se não nesse mesmo dia, ao menos no fim desse período escolar. Era o medo, palavra bela para quem o impõe, palavra tenebrosa para quem o sente. Então durante os primeiros dois anos, esse menino não tomava o pequeno almoço e assim estava toda a manhã sem nada de comer no corpo e com muito pouco sentir na alma.
Quem sabe se a gula no Albertino de Folgosinho a que vos aprontais não nos é a catarse desses tempos de fome e incerteza, desses tempos de todos os dias iguais de uma solidão consentida. Não se me varreu tudo desses tempos, não, infelizmente, e mais tarde percebi que é preciso espalhar o medo no coração de uns para que os outros reinem e que por este mundo maravilhoso profileram tantos e tantos que todos os dias, a todas as horas, o fazem em todos os continentes. E o pior de tudo isso, é que o fazem com êxito.
Depois do silêncio comatoso que pairou sobre o nosso site parece que, finalmente e com a chegada do Peinado de umas primeiras férias, (a gente fina goza várias) as línguas, isto é, as canetas se começaram a soltar. Ainda bem!
Foi o Arsénio, depois o Alexandre e também o Vieira que botaram faladora versando as maravilhas do tal Mestre Albertino de que eu já tinha ouvido falar mas sem conhecer em pormenor os seus dotes culinários, não me custando acreditar, por isso, no que dele relatam os referidos companheiros aqui intervenientes e muito mais credenciados que eu para ajuizar tal matéria de comes e bebes. Conheço bem Folgosinho, no entanto, estou a vê-lo pela sua vertente cultural, também digna de ser mencionada. Tem como principal característica a difusão de centenas de quadras que proliferam, debruadas com desenhos em filigrana, estampadas em painéis de azulejos dispersos por tudo quanto é prédio, fonte ou monumento. Creio bem que, depois das moedelas da viagem, saberá pela vida parar para descansar e tomar um “folegosinho”, em Folgosinho.
Já tive o prazer de falar com o Guerreiro que teve a gentileza de me contactar logo acabado de chegar das Terras de Vera Cruz. Vamos ter o gosto de o abraçar no nosso programado encontro.
Diz o Vieira que fizeram falta alguns dos companheiros habituais para quebrar o silêncio ocorrido e que não estiveram para aí virados, mormente o J.Marques: quem, Vieira? Cruzes canhoto, abrenúncio, t’arrenego, vade retro e demais latinórios esconjuradores do demo. Só se o amigo J.Marques vier com um discurso comedido que, se vir com a explanação das suas “heresias”, fará aqui tanta falta como um elefante enfurecido dentro de uma loja de cristais; no meu entender, claro. Gostaria, isso sim, era de vê-lo lá para Setembro no planeado repasto dos nossos "duros", pois tenho a certeza de que sairia de lá muito mais santificado.
Pois... O nosso Alexandre levantou a lebre ao falar do mestre Albertino.
Ouvi há muito dizer que o Albertino de Folgosinho é catedral de bom comer, onde não há mistério encoberto pois a genuinidade dos produtos autóctenes dá garantias de bons sabores e ninguém de lá sai sem vontade de voltar.
Para além das entradas de morcela ou chouriça, o Menu pode ter vários pratos como Arroz de cabidela de coelho, cabrito assado no forno, leitão à Albertino, vitela de Folgosinho* e javali com feijão ou batata.
Normalmente a sobremesa inclui arroz doce ou leite creme, um pouco à moda das terras do Lima no Minho e também um requeijão com doce de abóbora.
A alta cozinha com estrelas Michelin também aposta numa diversidade grande de pratos e diferencia-se muito no empratamento, uma técnica de arte visual que reduz a quantidade e dá um toque estético que consola também as vistas. Os produtos são geralmente muito caros na origem, como são exemplo as trufas. É a cozinha gourmet com os grandes “Chefs” de Escola, que normalmente não passaram por Folgosinho, provavelmente com algumas excepções em busca de inspiração na confecção tradicional.
Claro que o nosso Alexandre podia ter escolhido outras mesas, mas não era a mesma coisa…
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