2011-05-27
Arsénio Pires - Porto
1.
O Aventino tem a pena de escrever palavras
como mãos que falam.
Ninguém fica sentado se os seus textos
batem leves na janela da manhã
e acenam e despertam e vos chamam
como um amor infante e proibido.
Não fora assim e os momentos fortes
que aqui passámos mudos e a gritar
teriam sido ausência em tudo e todos.
Um silêncio que não chega a estar calado
para que possamos respirar e quem sabe
ainda vir.
Daí que, lá e aqui, o Medo.
Com letra grande o Medo,
condição de todo o Anjo que é carnal.
De tudo o Medo e de ninguém
que nos ata internamente e nos sufoca.
2.
Em tudo sois iguais aos outros homens.
Excepto no pecado.
Nascestes sem ele como as pedras da montanha.
E em virgindade fostes concebidos.
Depois, viestes ressurgidos de entre os montes.
E aqui estais.
Como se tudo começasse agora mesmo
e gritásseis: Vede como tudo é bom!
3.
Abraçai-vos assim enquanto é tempo.
O Tempo de não ter Medo a ninguém.