2011-07-10
Arsénio Pires - Porto
Caro Gaudêncio:
Tinha dois objectivos com aquela minha intervenção. Um deles, confessei-o hoje ao Vieira, era espevitar o povo e, duma maneira agressiva (se quiseres…), fazer nascer água do rochedo!
O outro objectivo, que não era só para ti (se o fosse, já tinha intervindo mais cedo…) era pôr, mais uma vez o ponto em todos os “is” (tu não assististe a muitas das nossas lutas nesse sentido) sobre aquilo que se pode considerar facciosismo: tanto da parte dos que pretendiam transformar a AAAR numa espécie de Ordem Terceira (a expressão que sempre usei…), como da parte dos que queriam fazer da AAAR unicamente um clube dos que se sentam com os pés debaixo da mesa.
Ora, a minha luta em público, mas mais nos subterrâneos, foi procurar que imperasse o meio termo: fazer da AAAR um espaço de tolerância onde TODOS, crentes ou não-crentes, se sintissem bem, sem alfinetadas de parte a parte. O que nos une é muito mais do que as crenças ou descrenças que cada um tem!
Foi assim que, graças a essa luta, conseguimos este equilíbrio de gerações e sentimentos que faz da nossa Associação um espaço livre mas tolerante, onde ninguém se pode sentir menos confortável. Cabemos todos!
Só nesse sentido é que, também, na minha intervenção na nossa Assembleia passada, eu me levantei dizendo: Para transformar a Associação Nacional dos Ex numa arma a utilizar pela Igreja portuguesa, Não! Obrigado!
O nosso sonho foi concretizado: fazer da AAAR um espaço não confessional. Que cada um intervenha na sociedade civil ou religiosa como bem entender. (E olha que, apesar de tu já uma vez mo teres dito, eu não tenho sonhos de “voltar a ser diácono, padre ou bispo” (nunca o fui, nem concordo com essa ordem hierárquica nem, muito menos, desejo a ela pertencer!).
Mas concede-me ao menos algum mérito de, por variadas vezes ter dado o corpo ao manifesto para que a nossa Associação seja hoje o que, na realidade, é: Um espaço livre e tolerante. Nos actos e nas palavras! Que também nas palavras podemos ser menos tolerantes!
Termino: A minha “hipersensibilidade” não é a respeito das palavras que tu disseste dirigidas a todos (como as minhas, aliás!). Se ela existe é em relação ao equilíbrio tolerante e respeitante entre TODOS nós. Esta tem sido a razão da minha constante presença na nossa Associação.
Consigo perfeitamente distinguir entre o que são ideias e o que são as pessoas. Podes combater as minhas ideias ou crenças que a minha amizade e consideração por ti em nada mudam. O nosso passado é muito maior e mais “igual” do que as nossas diferenças.
Mas há quem não consiga fazer esta distinção! E nós temos que saber acolher todas as sensibilidades!
Foi só por isso que intervim.
PS. Quanto ao Afonso Costa. Este republicano, também conhecido como o “mata frades”, proclamou do alto da sua ética maçónico-republicana:
“Ao fim de duas gerações não haverá catolicismo em Portugal”.
A minha referência a este personagem medíocre da nossa Primeira República, concedo, foi um pouco cínica! Peço desculpa a quem, eventualmente, se tenha sentido menos bem com esta tirada!
Um abraço (que não é “de atacado” como alguém baptizou os que aqui costumo mandar). É sincero!