2011-09-17
AVENTINO AVENTINO - PORTO
E porque marcais vós repastos e banquetes a esses dias?
Vou consultar Freud e Marx, Platão e Séneca. (Os Evangelhos, não; Deuses não. Não vão eles dizer-me as razões que nem eu quero saber).
Vá lá meus queridos AAAR: Dizei-me vós o porquê desses dias improváveis de terças-feiras e quintas-feiras, vá lá, dizei-me.
António Lobo Antunes escreveu, numa das suas divinas crónicas (vêem, vêem, como estou quase, quase a tornar-me crente?) que uma das suas mulheres, a primeira, claro, na hora de uma morte anunciada, perguntou-lhe as horas,
-que horas são?!
-seis menos um quarto, um quarto para as seis, respondeu-lhe Lobo Antunes.
-Que hora tão improvável!, disse-lhe ela. E morreu.
Os dias e os silêncios têm disto; o improvável e a certeza, a cor do vento e a água benta na nudez pura de uma criança. Os dias que agora conhecemos dos AAAR são à volta de um repasto, gordo, calórico, com álcool e doces em iguarias a que nem todos os possíveis AAARS são chamados.
A minha voz de hoje é a voz da inveja, essa voz da tristeza de não ter mergulhado a boca numa comida gorda, de cabrito, cordeiro ou de anho, de muito álcool e muitos doces, para adoçar uma tristeza triste de não vos ver, de não me rir convosco, de não vos poder dizer, oh! meu irmão, "A F...começou mesmo em Vila Nova de Gaia, há tantos anos que nem eu nem tu sabemos mesmo quando fomos isso, F...de favorecidos".
Vá lá, meus queridos Peinados, Ribeiros, Arsénios, Vieiras, Assis, vá lá meus queridos seminaristas de mesa: aceitai ao vosso lado aqueles que navegaram nessas mesmas vossas águas dos anos sessenta em diante. Vá lá, tende misericórida, marcai um sábado, um domingo, uma sexta feira ao finzinho da tarde num qualquer canto deste nosso belo e eterno Portugal. Batei sinetas e trompetes, e-mails e telecópias, sms e telemóveis. Chamai a todos, mintam, mintam que nada é de seminário, de religião, de recordações ou vivências, de passados ou complexos. E então, não mais aqui escreverei: "E AQUELES QUE FICARAM".