Tinha tudo para ser um dia memorável: uma manhã luminosa que logo dissipou em mim o receio de uma condução periclitante àquela hora, um ânimo sereno, boa disposição, uma caixinha de charutos dos Arcos, esquisita iguaria de doçura, carregada como simbólica etiqueta da minha presença no desejado evento, manifesto entusiasmo por mais uma ocasião de poder registar em imagens esta nova e excitante aventura na quinta de Oliveira do Paraíso. Cheguei á estação dos comboios de Braga a tempo e horas, confiante e prazenteiro no pensamento de me encontrar com os companheiros amigos dali a minutos. Porém, ao dirigir-me ao competente departamento dos serviços logo fiquei informado da realidade; o Alfa para Lisboa que deveria partir dentro de breves momentos não se iria efectivar por motivo (me foi dito) de uma greve levada a cabo em dias anteriores. Não posso exprimir em prosa redonda a sensação que de mim se apoderou nesse momento, só sei que me invadiu uma frustrante impotência, uma incontida e surda raiva, um desprezo alarve e bochornoso pela minha dignidade a ponto de me queimar a mente o engulho e a náusea de um desprezível cachorro. E, com o rabo entre as pernas, lá voltei a casa, ruminando inúteis praguejamentos.
Que me perdoem todos os refinados "abrileiros" pelo que vou dizer, mas é o que sinto: como uma Nação de quase mil anos pôde descer a tão fundo abismo? A que estágio de degradação nos levou essa fatídica e revolucionária efeméride! Ninguém se entende, procedem como putos de escola, caprichosos, sem senso nem respeito, urdindo birras infantis que não conduzem a nada nem nada resolvem. Havia lá muita mais gente, alguma barafustando, outra mais resignada e incrédula. Alguém lembrou tempos distantes onde havia respeito e ordem mas, pasmem, logo outro bacoco atalhou que embora dantes fosse assim não nos poderíamos manifestar como o estávamos a fazer. Pelo nojo que me inspirou tal afirmação não me pude conter e repliquei com certa indignação e ironia:
- Que grande conquista, meu amigo! Pelo que entendo vejo que o ser roubado, espancado ou morto não lhe dá cuidado, mas o não poder barafustar, sim; não há dúvida, grande conquista esta da funesta abrilada. Como diz, nesse tempo não se podia reclamar, só que, podendo-o fazer agora, é muito pior porque se riem ainda por cima
Telefonei ao Assis na companhia de quem deveria viajar e na conversa falei também com o Peinado que me afirmou ter ouvido no altifalante de Campanhã o aviso da chegada de um comboio Alfa proveniente de Braga; rematada mentira fácil de desmascarar pois, se este site permitisse a inserção de imagens, haveria de nele mostrar os respectivos bilhetes anotados pelo funcionário da CP de Braga em como tal comboio se não efectuou e cuja anotação me irá permitir, espero eu, o reembolso do seu custo.
Nunca pensei que em toda a minha já longa vida pudesse experimentar tão humilhante situação que me trouxe vários transtornos e prejuízos, despesas de combustível e do quarto que, entretanto, marcara no hotel e cujo preço tive de pagar por já não ser possível cancelar a reserva.
Até o tempo, ao fim desse dia, voltou ao tom de negrume e tristeza, retomando o seu cariz sombrio e tempestuoso que parecia esborrachar-nos a alma.
À volta da fogueira sente-se o calor empurrado das labaredas da fagulha e nas cinzas avermelhadas estalam por vezes as castanhas acossadas pelo frenesim experiente da vara que alarga os espaços."
26 comensais mostra como Palmela é já catedral dos bons convívios, ali de onde o velho castelo alcança do alto os fumos do magusto.
"Tou" a ver o Davide de avental e boina basca a dar vida à boa mesa, mestre como sempre nas artes sápidas.
Ler o Alexandre é sentir com ele os preparos da estreia e Oliveira do Paraíso é sempre cenário das boas memórias e das emoções festivas.
Claro que vou estar lá, numa liberdade dinâmica do espírito.
Devagar, devagarinho, mas a "malta" vai começando a aparecer. Foi o José Castro e agora o Assis; tem ele toda a razão em andar de candeias ás avessas com essa ganga dos fornecedores da Internet pois eu também já tive os meus problemas com essa gente. Presentemente - deixa-me bater na madeira -a coisa tem andado menos mal.
O Assis veio estragar-me a vida ao declarar a sua intenção de ir a Palmela, ao célebre magusto do Alexandre; e porquê? Todos sabem que já não sou nenhuma criança e o PDI pesa como um penedo e, além disso, nestes últimos tempos o meu "canastro" não tem andado na sua melhor forma possível. Isto de ter de me levantar ás quatro e tal da manhã, conduzir até Braga e regressar depois a casa ás tantas da noite, devem convir que é areia demais para uma camioneta como a minha. Mas, no meio disto tudo, há um senão: é que eu sou um doidinho por estas coisas e quando mete magustos e castanhas - ah, castanhas, ah, Oliveira do Paraíso, ah, andar de comboio - não consigo resistir, sobretudo se as ditas forem como devem ser, como também o são outras conhecidas iguarias, quentes e boas. Tinha a coisa alinhavada com o Peinado com quem tinha combinado uma resposta até amanhã e apesar de ser um companheiro a quem muito prezo previa, no entanto, dizer-lhe que, desta vez, não iria alinhar em tais aventuras, porém, com a posição do Assis fico baralhado e não sei ainda para onde cair.
Bem, vou estudar melhor o assunto e depois comunicarei a minha decisão que, possivelmente e para minha frustração, vai ser mesmo a de ficar entre lençóis..
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