2011-09-03
A. Martins Ribeiro - Terras de Valdevez
Vem aqui o Alexandre, num belo e filosófico texto, perorar sobre o abstracto e, como se diz em direito -creio eu- “quanto aos costumes disse nada.” E tal era importante: nem disse ele nem ninguém, a não ser o Assis que, ao menos, foi franco e sincero:
— não contem comigo para a dita de Monção porque, (pasme-se), vou para Barcelona.
Viva o luxo, digo eu!
Parece-me que, pelos vistos, ninguém está disposto para a função programada nem sequer para aí virado. Por isso e a propósito, vou contar-vos uma história verdadeira sobre o dito trabalhinho que vos seria posto gratuitamente diante da focinheira, para não dizer da tromba.
Era eu pequeno e, por alturas da Páscoa, estava em plena praça Deu-la-deu de Monção um indivíduo á fala com uma distinta e respeitada senhora da sociedade daquele tempo, afirmando-lhe convictamente:
— a senhora esteja descansada que eu vou arranjar-lhe uma boa “foda” e vai ver que vai ficar satisfeita.
Passava então nesse momento pelos dois interlocutores o Delegado do Procurador da República, magistrado quase sempre doutra região do País, e ao escutar tal destempero de linguagem e julgando que o cavalheiro estivesse a faltar ao respeito a tão distinta dama, interpelou-o com dureza e rematou com decisão:
— o senhor está preso por atentado ao pudor!
O homem, atrapalhado, lá foi explicando ao magistrado que a “foda” de que ele estava a falar não era outra coisa senão o anho da Páscoa, conhecido por essa bizarra designação e que ele, como comerciante dono de um talho, procurava apenas prestar o melhor serviço aos fregueses. Confirmado tal facto pela madama ficou sanado, dessa forma, o equívoco.
Bom, e então lá terei eu de fazer o mesmo no local escolhido para o repasto. Vejo-me obrigado a ir dizer á Natali, filha do dono do restaurante e que nasceu em França:
--minha senhora, eu tinha-lha pedido que se aprimorasse na “foda” mas, afinal, parece-me não ser preciso porque aqueles com quem eu contava para dela desfrutarem se estão nas tintas e não querem saber dela, dando a ideia de que andam de papo cheio.
Ó companheiros, deixai-vos de silêncios e de filosofias e resolvei-vos porque, como muito bem diz o Peinado, é um sacrilégio perder tão delicioso pitéu!