fale connosco


2011-12-31

manuel vieira - esposende

Falava eu há dias sobre a "Roupa Velha", esse ditoso prato que mistura a verdura das couves ou coivões em segundo uso, o bacalhau e a as batatas azeitadas  com as chalotas e o alho sem grelo.

Na minha aldeia com ares de cidade ainda "se bota o ano belho fora", numa tradição que cresce em carrelas de ripas de pinho e as caras besuntadas de disfarce em grupos de 5, em despique com prémios endinheirados.

"E bota o ano belho fora, e bota o nobo cá pra dentro..." cantarola a miudagem calcorreando os recantos mais movimentados e as portas dos comércios na procura da moedinha. Em cima vai o "ano velho", lestinho no peso e na altura para não desgraçar os ombros dos moços do andor.

"...e bota o nobo cá pra dentro " ouve-se em coros entrelaçados na rua principal onde cheira já a bolo rei especial das boas pastelarias que concorrem em convencimentos adocicados.

"Boas saídas e melhores entradas" para os meus bons amigos que já oiço lá ao fundo.

2011-12-27

manuel vieira - esposende

Hoje, meus amigos, foi "Roupa Velha" e atentos à quadra podemos naturalmente descodificar a receita, sem confusões com o uso desmesurado de indumentária.

É uso da consoada o reforço das panelas com esse fim, numa tradição que tem atravessado gerações.

Limpinho de espinhas e da pele, lasca-se o bacalhau e reserva-se. Noutro recipiente cortam-se e reservam-se os "coivões" e as batatas também sobrantes.

 

Num tacho alargado aloira-se em bom azeite a cebola e o alho limpo do grelo, com folha de louro e toque ligeiro de pimenta preta moída na hora.

Adicionam-se os ingredientes reservados da ceia e vai-se mexendo, dando-lhe a frescura e intensidade de umas gotas muito ligeiras de vinagre Moura Alves, o tal com 10 graus de acidez estagiado em barricas de carvalho durante 10 anos . Também um toque de cominhos pode reforçar os aromas.

Emprata-se a Roupa velha, remoçando com ovo cozido em rodelas generosas e azeitonas pretas e um toque subtil de salsa cortada finamente.

É uma velha tradição portuguesa com arraiais fortes no Minho e pode ser cozinhado em versões ligeiramente diferentes.

Nas sobremesas as aletrias, os mexidos, os frutos secos, as rabanadas, os bolinhos de abóbora, o bolo rei e outros sustentos bem doces enxameiam as mesas.

Por cá fica o meu contributo...

 

2011-12-23

manuel vieira - esposende

"Vou comer os meus pirús", alguém diria por aqui em entoação de ligeira rusticidade e "assados são melhor que o céu", quase a afirmar "diz-me o que comes, dir-te-ei quem és", alheios, claro, à malvadez dos mafarricos do esquentado inferno aludido por Jorge de Sena.

 

"O prazer da mesa é de todas as idades, de todas as condições, de todos os países e de todos os dias; pode ser associado a todos os outros prazeres, e permanece como o último, para nos consolar da sua perda", dizia Brillat-Savarin em "Fisiologia do gosto" em 1825 e ainda hoje referenciado por ilustres chefes de cozinha.

 "Só o homem de espírito sabe comer: os animais alimentam-se" dizia ainda em aforismo, percebendo que nas manjedouras natalícias o eu sensitivo não prescinde da individualidade comensal.

 

Não sei se consegui afirmar alguma coisa mas não terei qualquer dúvida de que " a mesa é o único sítio onde ninguém se aborrece durante a primeira hora" e quando é na "Oliveira do Paraíso" do nosso Alexandre, não há minuto que aborreça, como aconteceu certamente na Terça-Feira onde se juntaram 12 colegas para um ditoso almoço de Natal onde se apascentou um expressivo arroz de lebres, sápido e de escorrido tempero das artes do Davide.

Natal que acalenta o nosso diálogo de mensagens, de abraços tantos já recebidos de vários recantos.

Natal que traz poesia e encanto e sensações várias e se serve em mesas longas.

 

Com a relevância da amizade, para todos envio um abraço natalício.

 

2011-12-22

Arsénio Pires - Porto

António de Montesinos

 

 Faz hoje, 21 de Dezembro, 500 anos que António de Montesinos, em nome da comunidade dos frades dominicanos de La Hispaniola, pronunciou um sermão em defesa dos índios explorados pelos colonizadores da ilha que actualmente é República Dominicana e Haiti.

 "Todos vós estais em pecado mortal. Nele viveis e nele morrereis, devido à crueldade e tiranias que usais com estas gentes inocentes. Dizei-me, com que direito e baseados em que justiça, mantendes em tão cruel e horrível servidão os índios? Com que autoridade fizestes estas detestáveis guerras a estes povos que estavam em suas terras mansas e pacíficas e tão numerosas e os consumistes com mortes e destruições inauditas? Como os tendes tão oprimidos e fatigados, sem dar-lhes de comer e cura-los em suas enfermidades? Os excessivos trabalhos que lhes impondes, os faz morrer, ou melhor dizendo, vós os matais para poder arrancar e adquirir ouro cada dia... Não são eles acaso homens? Não tem almas racionais? Vós não sois obrigados a amá-los como a vós mesmos? Será que não entendeis isso? Não o podeis sentir?"

2011-12-22

Arsénio Pires - Porto

COMEI OS VOSSOS PERUS


Comei os vossos perus
burgueses anafados
e dai esmolinha aos pobres
que tendes esfomeados.
Um dia há-de chegar
em que sereis assados
não para subir ao céu.

Jorge de Sena (1919-1978)

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