2011-11-27
Nicolau - Oeiras (Soito)
Conversa, à soalheira...
Foi no sábado, já lá vão 15 dias, que mais uma vez a festa aconteceu. Todos os caminhos iam dar a Palmela, mais exactamente ao santuário do Alexandre. Mas logo que deixámos o alcatrão, fomos guiados pelo silêncio, a lembrar as veredas das nossas aldeias. Não se viam os anjos, mas eles cantavam. Não se viam rebanhos, mas o som dos chocalhos, à solta, em loucas correrias, faziam lembrar o meu rio, sempre a cantar... Não sei porquê, mas logo que se passa o portão da entrada, com o olhar concordante do imponente Serra da Estrela, todo o espaço nos faz respirar uma energia muito positiva, energia essa que nos transporta para uma paz, harmonia, equilíbrio e um bem estar inigualável, pelo que somos obrigados a respirar a sensualidade de todo aquele espaço envolvente. Os sentidos, sem quaisquer restrições, aceitam e envolvem-se neste convite. Mais além, numa pequena leira, está o alfobre das palavras do anfitrião. Pelo viço que irradiam, adivinha-se uma boa colheita para uns bons regos de escrita. Ficarei à espera para ter o privilégio de os gulosar. E já que estamos a falar de palavras, quero aqui expressar que sou um ávido leitor da escrita do Alexandre, pois sente-se nela a força de um touro, a leveza da gazela, a rebeldia do vento e a profundidade dos mares. E leio-a com o mesmo prazer com que, quando menino, comia uma grande talhada de melancia, com o sumo a escorrer-me pelos braços abaixo.
Portanto, não tenho dúvidas algumas, que este bem estar começa logo pela maneira como o Alexandre recebe os amigos - espontaneidade e muita alegria. Penso que não haverá ninguém que não fique feliz com estes gestos e mimos que sabem tão bem a quem os recebe.
E agora não pensem que vou relatar tintim por tintim todos os passos de um dia em cheio, muito bem passado e com o nosso ego bem repleto. Longe disso! Porque, para os ausentes, curiosos, só lhes digo que tivessem aparecido. Mas resumindo, posso informar que nos abifámos e nos avinhámos, onde não faltou o bom pão com olhos, o bom queijo sem olhos e o bom vinho a saltar para os olhos.
Quanto às sobremesas, que fariam pecar qualquer monge, estiveram à altura das nossas conversas imateriais.
Depois...
Bem, depois, lá mais para a tarde, eis que o momento mais solene aconteceu, como que por encanto. Tocaram-se as trombetas, acendeu-se a fogueira e a conversa continuou, agora com palavras mais quentes. Trocaram-se ideias, botaram-se discursos, apresentaram-se argumentos, arquitectaram-se projectos e todos assinaram a acta. Por fim, fez-se uma prece à divindade do fogo, enaltecemos a partilha daquele momento ímpar e após a dança da Lua, num estonteante strip tease, a amizade saiu reforçada. Até o Sol, escondido atrás de uma nuvem, estava em lume, ao assistir a tão belo espectáculo.
E para ser franco, para mim, este encontro foi, o verdadeiro grande encontro. talvez pela liberdade, pela coerência e pela verdadeira amizade, vivida entre todo o grupo, tão naturalmente. Mas tenho de dizer que o encontro havido no Verão passado, valeu pelo reencontro com todos os antigos companheiros, mas principalmente com o meu amigo e condiscípulo Júlio, pessoa que sempre tive e tenho no meu álbum de recordações. Um bom amigo! E valeu também pelo bando que ocupou o último banco do autocarro, nas muitas centenas de quilómetros do percurso. Falámos de tudo e mais alguma coisa. Contaram-se anedotas, lembraram-se episódios, cochichámos sobre as namoradas antigas, gargalhámos ao desbarato e tudo o que mais possam imaginar. Mas valeu a pena todos os quilómetros de conversa, havida no banco traseiro. E pasmem-se os céu! Não fomos expulsos, nem por mau comportamento, nem por amizades particulares. Portanto o artº. 37 da Constituição cumpriu e até saiu reforçado.
Mas, embora não esteja bêbado, volto a repetir que gostei mais do encontro de Palmela. Como dizia um camarada meu e companheiro da guerra quando se referia ao gostar. "Um só adjectivo: GOSTEI!"
E agora vou abrir a janela do tempo e vou até ao terreiro da minha escola, para jogar ao pião e lançarmos o papagaio, feito de papel, com as cores do arco-íris. O Davide, meu amigo, primo, conterrâneo, companheiro de carteira, padrinho, deve estar farto de esperar por mim...
Volto já!
Nicolau