Gosto sempre da irreverência do Alexandre Pinto e das saudáveis diferenças, importantes para estimular algum debate, daquele que até pode tirar o descanso ao Martins Ribeiro.
O Arsénio lançou um desafio ao Ismael como prenda de aniversário convidando-o a participar na sua revista Palmeira. Para este número já não irá a tempo mas fica o repto para outras edições.
Esta "conversa" de amigos é condicionada por ser escrita e por vezes não se interliga como convém a qualquer diálogo, pois comentamos por vezes o que escreveu o " Zé" e quando colocamos online a mensagem já escreveu também o "Quim" e pode levar a interpretações desajustadas.
Mas isso é o risco normal de um sítio que controla a admissibilidade das mensagens pois a sua colocação online não é imediata, para evitar situações abusivas de interlocutores estranhos ao grupo.
Mas como diz o nosso amigo Alexandre é importante "esta saudável guerra civil" pois o silêncio não deve ser nosso parceiro por largo tempo e mesmo a dita guerra, retirando o sono ao Ribeiro, também nos favorece pois estimula os escritos, as invectivas, até os "maus pensamentos" da década de sessenta.
Meu Caro J. Marques---------------------------------------------------------------------
Parabéns por este regresso auspicioso! Mal entraste na arena, desencadeou-se de imediato uma saudável guerra civil. E já que se fala em J.Cristo, é bom lembrar que ele veio trazer a guerra e não a paz. Herdámos desse tempo uma teologia do vazio. A Trindade e outras construções dogmáticas de carácter barroco ocuparam-nos de tal modo a inteligência que só nos podia sobrar tempo para a dúvida. Os que ainda duvidam são uns privilegiados. Porque ainda preservam a humildade de interrogar, de querer resolver resíduos de inquietação que incomodamente perduram. E não é para menos. À distância, esse tempo de crescimento e abertura à vida parece estar carregado dum terrorismo espiritual, que nenhuma pedagogia moderna poderia aprovar. Deus, feito à imagem e semelhança dos deuses gregos, era um pesadelo. Chamavam-lhe pai mas no gelo das instituições parecia um carrasco, um olho infinito que se infiltrava pelas múltiplas ranhuras do corpo a crescer. Até no banho espiava. De noite, sem o mínimo pudor, misturava-se com os sonhos hormonais, que a idade tão generosamente oferecia. Nas poucas férias concedidas, metia-se em todos os buracos onde uma pobre alma tentava esconder-se. Nas ribeiras do verão lá andava ele, entre os juncos e os amieiros. Quando se regressava, ele pedia contas. Aparecia logo uma auditoria. Ao terceiro dia de retiro, já todos tinham perdido a inocência. O inferno era o justo prémio dum olhar, dum desejo, dum toque subtil e apressado numa superfície bem mais pura que a alma do maior santo. Vinha então o confessor, uma espécie de bombeiro de serviço, a apagar a consciência incendiada. Que tens, meu filho? Fizeste coisas feias? Mexeste no teu corpo? São perguntas para sequestrar uma vida inteira. Para não falar de outras boas práticas, que só de se lembrarem causam arrepios. Na Idade Média já seriam uma barbaridade. Como adjectivá-las na década de sessenta?----------------------------------------------------Formaram-se assim bons cristãos? Será o Cristianismo a glória da humanidade? Terá a Religião Católica o monopólio da ética? Bom J. Marques, se tens dúvidas, preserva-as! Caro Ismael, o teu texto só merece a nossa admiração. Se ele é claro, que tenham paciência os leitores! A clareza não é a maior virtude de quem escreve. Se é rigoroso e demolidor, parabéns por teres semeado pelo menos alguma indisciplina! E bom amigo Arsénio, falta pouco para pormos a cereja em cima do bolo. Isto é, estamos quase a atingir a plena maturidade do site e da nossa reflexão colectiva. Temos é de passar da teologia da salvação, que corresponde exactamente à era pós-moderna do vazio, para uma ontologia da existência, na procura pessoal do sentido e da alteridade. E já todos percebemos que cultivamos com brio as nossas diferenças. Não temos só de as respeitar mas cumpre-nos também estimulá-las. E tu já deste o teu contributo para estas pedradas no charco. Cuidado, companheiros de viagem! A idade não é compatível com um pensamento de piedosas conciliações. Pensar é preciso. E subverter também!| Cá dentro e na cidade que está ao lado.
Como é costume antes de ir para a cama dou sempre uma vista de olhos pelo "fale connosco" e hoje, fazendo-o, li as últimas postagens, do Assis e do Arsénio e, muito embora não me apetecesse intervir nestas questões da dita Fé, em face do que li, vou ter que o fazer e não ficar indiferente e calado. Só que já é quase uma hora da manhã e está um certo frio; mas vou aguentar. Assim sendo, estou com o nosso amigo e companheiro Arsénio e com a sinceridade que declara. Nunca pus em dúvida as suas ideias nem as concepções que exprime, nem nunca belisquei ou pus em causa essa sinceridade da sua dedicação á nossa obra da qual, aproveito para o afirmar e pelo que sempre constatei, tem sido um dos grandes impulsionadores. Pelo que deduzi da sua leitura, parece que alguém manifestou dúvidas. No que toca a argumentar com as nossas ideias que julgamos certas e entrar, por via disso, em confronto, será outra história. E, já que ele faz o apelo, também vou falar claro. Nas questões de Fé, eu tenho a minha e entendo que sobre a mesma, não posso nem quero entrar em diálogo seja com quem for. Eu acredito naquilo que quero nem que seja nas coisas que para os "eruditos" possam considerar-se como de alguém com bacoquice extrema ou que tenha um neurónio a menos. E desde que não entremos no campo da ofensa ou da blasfémia, quero lá saber que o nosso Assis esteja contra a fé dos dogmas, que o J.Marques acredite em gambuzinos, que o Ismael venha com "ininteligíveis" tiradas filosóficas, que o Vieira tente deitar água nas fervuras ou que o caro Peinado aprecie e tenha fé em boas lampreiadas ou arrozadas de marisco. Lá com eles! Que lhes aproveite! E sabem uma coisa? Vou-me deitar que já "vai alta a lua" e logo será outro dia.
Depois deste post do Assis, sinto-me na obrigação de dizer o seguinte:
Antes de me remeter a um provável bem longo silêncio neste espaço da AAAR, quero dizer, para quem duvide, que tudo o que tenho feito pela e na Associação o tenho realizado com “SINCERIDADE”, dedicação e respeito pelas pessoas com quem dialoguei ou tentei dialogar. Posso não o ter feito, por vezes, com as mais correctas palavras que, à distância do sorriso e do gesto e, por cima, ao som apressado do teclado, dão motivo a mal-entendidos. Disso não só peço desculpa como, pela mesma via, também desculpo.
Dialoguei e, como já várias vezes aqui repeti, não quer dizer que tenha ou possa concordar com todas as ideias, ou parte delas, daqueles com quem aqui dialoguei. Tentei argumentar e fundamentar as minhas posições permanecendo aberto às dos meus interlocutores. Como sempre o tenho feito também noutros fóruns onde melhor consigo entender e ser entendido. Bem melhor do que aqui.
Tenho também tentado ser muito claro, conciso e concreto nas minhas intervenções. Demorou bastante tempo mas acho que consegui libertar-me daquele “maneirismo” clerical que diz quase sempre aquilo que não diz nas palavras que ouvimos. Falar claro é muito difícil. Até porque ficamos bem mais expostos e sem recurso a desmentidos e a posteriores esclarecimentos. A falar CLARO é que a gente se entende.
Mais. Infelizmente, continuamos a não saber distinguir entre pessoas e as respectivas ideias ou crenças. Profunda pena!
Por tal motivo, sinto-me muito triste quando, por dedução “a contrario”, penso poder concluir que se duvida da sinceridade com que dei os parabéns ao Samuel no dia dos seus anos.
Esta é a minha fé. Nas pessoas e não em livros ou jornais.
Ponto final.
Amigos da AAAR:
Já não tão 'baralhado', mas ainda sem a 'fé' que alguns dizem possuir - em minha opinião só as coisas se possuem, 'acredito nas pessoas' - creio, antes de mais, que o amigo Ismael de Vale de Espinho faz hoje 59 anos. E creio na sinceridade dos votos de parabens que o Né Vieira lhe dirige, votos a que me quero juntar e levantar o meu 'cagãozinho' de vinho do Porto. - Parabens, Ismael!
Também eu já tenho 59 e dentro em breve farei 70, espero... Até à minha idade, ainda tens quase 11 pela frente, amigo Ismael. Poderás ler muito, e muitos textos escrever neste teu e nosso 'site'. Poderás ainda deixar muita gente 'baralhada', mas não deixes de escrever ainda que 'textos inestéticos, apoemáticos, aliterários..., em verso ou em prosa, mesmo que continuemos, como leitores, a procurar em tudo um sentido lógico
A 'Fé' (a dos dogmas) também não é lógica e alguns continuam a possuí-la alegremente, dizem. Eu prefiro 'Acreditar', pois faz-me mais humano. Vou pela lógica e só acredito na 'fé' quando ela deixa de ser coisa possuída, quando de 'dom recebido' passa a dom 'dado'.
Não foi a leitura dos livros das pessoas que habitam o Vaticano - donos da Fé - que me trouxeram até aqui. Foram os outros: os livros daqueles que 'Acreditam', e que alguns acusam de 'terem perdido a fé'.
Termino aconselhando a leitura (não de um livro) do "Jornal Fraternizar"- colocado há dias na internete. Talvez nele encontremos algo de novo, mesmo que de coisas velhas e algumas mesmo 'caducas' se possa nele falar. Apenas se exige que se parta para a sua leitura sem o alforge dos 'preconceitos'.
Boas leituras...
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