Caro Ismael (e outros que por aqui falam):
Nada como o tempo para sarar as feridas. Ainda que esse tempo seja de dias ou horas.
Se as palavras rissem. Se elas chorassem…
Mas as palavras são contentores. Com elas, mais facilmente se faz a guerra do que a paz. Traem-nos (traem-me…) quase sempre.
Portanto, as palavras são traidoras. Dois pontos.
Obrigado pelo teu poema. Sairá na próxima Palmeira que a de agora vai, dentro em breve, para os prelos.
Fácil seria dizer-te que o achei belo e que, nele, me aconteceu poesia. Mas não o digo pois pode soar a oportunismo ou outra coisa qualquer…
Mas, com frontalidade digo: Nós, os habitantes da Quinta (e eu em primeiro lugar!), somos bem melhores poetas que prosadores.
Volta sempre.
Eu estarei por cá.
(Oferta aos meus amigos da aaar: ao Arsénio. Assis, Aventino, Alexandre, NÉ Vieira, e a todos os que nesta refrega de palavras têm prazer e escrevem à noite até doerem os olhos, as mãos das teclas, porque gostam de partilhar a amizade, as dúvidas, a dor, mesmo que seja a metafísica, que pode ser melhor bálsamo e dádiva da amizade.)
Recado
Aurora radiosa
Vem sentar-te ao meu lado
E segreda-me
uma palavra escondida.
Uma palavra diáfana
a escorrer dos teus lábios luminosos
vem, aurora radiosa
e segreda-me o teu amor glorioso
de dias azuis e transparentes.
Vê aqui,
neste ponto do meu lugar,
o diálogo dos teus raios
são de prata.
as palavras procuradas.
Desce,
doce e fresca manhã
e inebria-me na tua brisa.
Vem visitar-me
E afaga-me de luz
nos teus róseos dedos.
Nos campos de Marte
Jazem corpos em delírio
Saúdam a terra
E em estado decadente
Repetem o ritmo
De deuses ancestrais.
Deixa os deuses do olimpo
E vem sentar-te
Aqui.
Viemos de longe
E perdemos o rasto
Da melodia das palavras
À força de as pronunciarmos.
E o tempo urge
É de viagem a pé
À soleira da porta.
Vem,
Senta-te aqui
E falemos da ponte
da água que
aqui nos trouxe.
Saúdo-te
Por nos termos encontrado
Nesta ponte de caminheiros
E façamos outra ponte
A do futuro de hoje
Deixemos o tempo em que fomos órfãos,
Somos as mãos que o delírio
Não consegue abraçar.
Quisemos estar sempre juntos
E perdemos o rasto do horizonte crepuscular.
Peguemos no bordão
subamos a montanha
Nem que seja por uma breve ilusão.
O tempo ainda é de oiro
E pesa ainda
Sobre nossos ombros partidos.
E são esquálidos estes dias finais,
Ainda sabem a mosto e a maresia
E vale a pena
Ouvir o marulhar do mar
E em turbilhão e seja fraca a inspiração.
Ainda sabe bem sentir os odores da cozinha
E as palavras que embalam o coração.
Às vezes trocamos palavras azedas
E a nossa procura fere na alma
E ouvem-se vozes e cantos
E choros e vigílias.
E tudo apenas
Por nos cruzarmos
No mar da comunicação.
Vem sentar-te
À minha mesa
Sempre desejei o teu convívio
E das palavras surdas
que as procurei sempre dentro de mim.
Fala-me e diz-me
Das vozes que ainda
Estão dentro de ti
E se ouve palavras de sangue
Palavras de ausência
De loucura.
Podes falar.
Senta-te aqui
e ri e chora
E reconhece
Que tens direito
Ainda e sempre a poder SER.
Ismael Malhadas Vigário
É claro que já perceberam que confundi o nome do Ismael por Samuel. Cosas do adiantado da hora.
Ismael, peço desculpa pelo erro. Mas era em ti que pensava!
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