A favada do Assis é mais um comprovativo de que a amizade à mesa tem elevada substância nos diversos sentidos, pese o facto de os gaios e os melros pretenderem ser os primeiros beneficiários do repasto, numa versão mais vegetariana.
Umas enguiasitas fritinhas ou em caldeirada para os lados da ria também são pitéu e infelizmente ficaram reservadas em escabeche.
Sabe sempre bem ler o Alexandre na sua bem elaborada dissertação. Ler a Palmeira também é um privilégio dos nossos colegas e subentende-se a mastigação lenta, como lentos são os comentários que se pretendiam "escutar" mas o hábito já veste o monge há muitos anos.
O "Peregrino" do nosso colega Guerreiro vai dar-se à luz nos finais deste mês e fico muito curioso pela sua leitura, tendo em conta também por saber quem é o verdadeiro actor e pelo seu autor cujas obras eu bem aprecio.
Sexta Feira Santa, um feriado que foge à saga de abate, à laia das produtividades ofuscadas pela qualidade da gestão dos recursos de trabalho, dá-nos mais tempo para o relaxe do teclado e para uns dedos de cozinha para lambusar as massas do pão de ló, pese o incremento no preço dos povos por causa das gaiolas das galinhas.
Sendo uma época festiva com larga tradição entre nós, desejo aos meus estimados colegas uma Páscoa Feliz, recomendando um cabritinho de boa temperança assadinho no forno a lembrar Monção, regadinho com uma boa colheita e acolitado nas sobremesas pela boa doçaria regional com lembranças de conventos.
O pão de ló, as amendoas torradas e de chocolate de dureza conveniente, os magníficos folares transmontanos de enchidos caseiros e outras coisinhas boas de cada região são lembranças que sossegam alguma gula que nestas alturas festivas não são pecado.
Um abraço pascal...
Meus caros:
O nosso colega Luís Guerreiro escreveu-me ontem um simpático e-mail onde teceu largas e elogiosas considerações sobre a nossa última Palmeira!
(Coisa rara no reino da nossa Associação onde o reconhecimento do trabalho realizado por alguns em prol de todos raramente é feito. Repare-se nas opiniões saídas a público neste nosso portal, sobre o último número da Palmeira, que não tenham sido de elementos do grupo que a elabora.
E sobre os outros números… Quase só os colegas brasileiros…que, nisso, são exemplares!
Não é que alguém esteja à espera de palmadinhas nas costas para realizar o trabalho a que se voluntariza. Se assim fosse, a revista não ia já no nº 32. Trata-se duma questão de “ser em grupo” onde, mais do que apontar o que está menos bem, o reconhecimento do que está bem se traduz em cada vez melhor desempenho. Mas a nossa pedagogia, não só na Barrosa… tem sido mais pela aplicação das orelhas de burro do que pelo estímulo! Perdoem o desabafo…).
Mas, então, o Luís Guerreiro.
A sua opinião sairá no próximo nº da Palmeira.
Quero é deixar-vos as seguintes notícias que ele transmitiu:
“Arsénio, mando-te este e-mail na tarde de Quinta-feira Santa. Não sei quando sairá um novo número da “Palmeira”. Apesar disso, não me quero dispensar de, por teu meio, enviar a todos votos de feliz Páscoa.
Já fixei o dia 27 de Abril para o lançamento de “O Peregrino”. Lá por meados de Julho, estaremos de novo em Portugal.”
Era isto.
Boa Páscoa para todos.
Viajantes do Atribulado Rectângulo:--------------------------------------------------
Apesar da sobriedade virtual, que o irrequieto Francisco teima em subverter, raramente a PALMEIRA agitou tantos gestos como agora. Cada ramo, por mais galho que possa parecer, aponta caminhos, endereços físico-geográficos, perspectivas de longo alcance. Como se a ressurreição do mundo já não fosse um mero conceito teológico, mas antes uma força renovada, tão natural como o verde fulgorante que se alevanta pelos campos. A idade traz-nos a urgência da primavera e a lucidez da mobilidade. Já temos poucos dias para tanto esplendor. Cada qual a seu modo não deixa correr em vão o rio que está a passar por dentro da vida, rente aos sentidos e à memória. É ver lá no alto o Francisco, num tão alto lugar que até eu o vejo desde aqui do sul. Nunca lá fui mas não me glorifico de tão obscura omissão. E agora com as favas, o problema cresce exponencialmente. Elas acordam em toda a parte uma gula fresca, com sabor de água e aroma de vinho verde. Mas em orbacém, nem o paraíso de palmela se resigna. Nem que eu fosse de cavalo. Diz a data, bom "moço", e eu deixarei meus cuidados amorosos e afins, em troca dessa promessa. Levarei comigo o Eça e a fogosa donzela que em tormes serviu o arroz de favas. ---------------------
Não muito longe deste festim, já se ouve a voz do António Peinado. Proclama ele as amplas liberdades que a "ex-reclusão" só agora e por escassos intervalos nos vai dando, em abundantes mesas de fruição gástrico-cultural. Quem participou, comeu alegria e risos e palavras de que os chefes culinários nem suspeitam. Ficámos sem as enguias mas cento e cinco anos à sombra duma maternidade aconchegante, que é interrompida bruscamente, justificam em pleno o cancelamento de Ílhavo. Restam solidários sentimentos que, embora tardios, demonstram sempre a insubstituível amizade que nos vai ligando.-------------------------------------------------
Há ainda o Encontro Nacional de setembro, já alinhavado e com promessas motivadoras. O Sousa Pires até já salta o calendário, a ver se ainda chega a Vila Pouca e a Vidago. Este registo é a garantia dum testemunho irrefutável. A interioridade "telúrica" do nordeste escasseia injustamente nos nossos olhos, já intimidados pelo tempo. Eu creio em vós, meus amigos. "Quando nunca a infância teve infância, o que faz falta é avisar a malta...Quando a raiva nunca foi vencida, o que faz falta é acordar a malta... Quando dizem que isto é tudo treta, o que faz falta é agitar a malta..." Avisar, acordar, agitar, como quem rejeita liminarmente a obscena TV, por onde se destila com subtileza um mórbido veneno e uma sucessão de rótulos gerais, que frequentemente visam a nossa idade. Resistir e avançar, entrar na guerra e treinar os verbos. Denunciar e partir. É a idade do ouro. Como ousam desacreditá-la? A Palmeira é alta e sensível ao vento que vem do mar. E era aqui, longe de atenas e sitiando tróia, que eu me queria deter. Mas pressinto que tanta prosa já esteja desmoronando qualquer hipótese de leitura. Mesmo assim, não posso omitir o sul de que vimos falando. É um excesso. Uma surpresa ardente. Os anfitriões preparam não mais um banquete, nem mais um passeio, nem qualquer outra forma de esbanjar o divino ócio. Destaco três apontamentos, já confirmados por atenta e severa apreciação. Ponto 1. A abertura da paisagem. Não são eles os seus donos mas foram eles que viram a luz, o mar, os laranjais, os amendoais, os barrocais e tudo o que rimar com sugestões mediterrânicas. Chegaram, sentaram-se em cima da paz e beberam por uma concha de cortiça. E disseram: isto não cabe nos nossos olhos. Precisamos de muitos olhos, para que isto não pareça tão infinito. Ponto 2. "Cerca da Aldeia". O Delfim virou fera. Pega numa horrenda retro-escavadora. Atirou-se às irregularidades territoriais. Rasga espaços. Nascem pedregulhos cósmicos. Árvores centenárias e barrocas são amestradas para o evento. Das brutas paredes emergem bíblicos textos que interpretam a alma e o tempo. Ponto 3. O Programa. Por enquanto é um anúncio de intervenções culturais. Eu já ouço duas vozes femininas, temperadas pela mais inebriante tradição clássica, vestindo de seda azul a noite algarvia. E o velho piano, que acumula cordas e sons de eternidade. Diz aos mortais, ó inspirado Telémaco, onde encontraste um corpo tão puro que me lembra o de Ifigénia, antes de ser imolada aos tirânicos deuses? Piano significa corpo de donzela, de teclas de alabastro, onde o Amadeus, vindo dos confins da melhor música europeia, imprime fluências, ritmos e respirações, como acontece em todos os actos musicais de amor.
E para sensibilidades mais viradas para o visível, há as abundantes mesas, que já também elas vão sendo clássicas nos clássicos encontros. Que a notícia se propague e que todos os ARES do quintal exerçam o direito da atenção, para não perderem nem uma gota deste orvalho que atravessa abril!!!
Meus Amigos:
Já os gaios rondam a mesa das favas
apressêmo-nos a tomar nossos lugares
antes que a noite aconteça...
o calor da primavera veio e
quase em simultâneo
a flor da fava
com frutos chegou
Preparai-vos
urgente
o convite
o dia certo irá marcar
PS - Que tal este meu ar de poeta?...
Antes de vós já eu me ri
O importante é a favada e nela a nossa amizade
Já desde Folgosa, mas pouco folgado ainda, pois que de Cabanas cheguei há não muito, todavia agora melhor servido pela internete... Ismael amigo, tu que que de "Vigário" tão só tens o nome, para ti o agradecimento de um sentimento telurico, sentimento que a ambos nos une. Não tenho vinho, mas tenho já favas e ervilhas prometidas e o deus baco não deixará de ser no momento generoso. E tenho flores sem conta... Desejava mandar-te algumas por este meio mas, diz o Né Vieira, impossível...Então o seu perfume... Fico a aguardar a tua visita a Cabanas de Orbacém para que in loco o comproves... Pelo Gamail, vou enviar-te algumas das mil e uma côres com que por lá a natureza se pinta. Não exagero... posso afirmar que levo a melhor ao belo arco-íris... Como poderás ver, também as favas já por lá andam e, dentro de breves dias, serão comestíveis. Mais, temo que a passarada lhes deite já a dentuça...é que esta tarde já por lá vi um gaio manhoso...Música de CDs não lhes falta, ao menos pendurada. Espero que não sejamos nós a dançar enquanto eles enchem o papo...
O convite fica pois aqui, para ti e para quantos desejarem fazer o favor de nos acompanhar na "Favada". Se a produção for pequena... no mercado de Caminha, ou em Vila Praia, haverá fava que baste para a todos consolar...
O meu abraço fraterno
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