Amigos... Vida da boa para todos vós, e não boa-vida...como aquela que o amigo Peinadao levou nestes últimos dias, a dar banho à minhoca ali pela serra do Gerês, pois seria sinal de que teriam de substituir por água o bom vinho minhoto ou do douro. Mas que a água, bebida ou em banhos, faz tanto bem como o vinho, ele já não tem dúvida alguma...Até só o facto de me recordar a favada - que terá lugar em Cabanas/Orbacém no próximo dia 26 do corrente mês de Maio, um sábado portanto, a menos que algo de extraordinário impeça tal acontecer - só o recordar da favada, já os bons odores de baco devem ter sido transportados por ventos suaves até seus poros olfativos. O gosto, ele o deixou por ora para a data marcada. - Amigo Peinado, obrigado pelos teus votos que, sei, são sinceros, como os de tantos que se lembraram dos meus 70. Só nós, os idosos mas não velhos, sabemos o que é entrar nos 70. Mas cá vos esperamos a todos, meus amigos, esperamos e espero que sempre com vontade de vos sorrir, pois lágrimas não pagam dívidas, nem nos devolvem aos 20. Por ora ainda me não arrependi de dar o salto. Creio que a boa música como aquela que neste momento escuto, a boa leitura e a enxada me têm ajudado a este meu não arrependimento. A leitura de todas as vossa mensagens, como agora as últimas do Alex e do nosso Presidente, têm o condão de me proporcionarem um certo "sopro" para continuar a sonhar com a tal Noite de Primavera de que falam. - A todos o meu agradecimento por esse alento.
- Antes de me despedir, comunico-vos que este sábado tive o privilégio de me encontrar com o meu primo José Peralta, pessoa que já não via desde 1969. Vive lá pelos lados de Almada, em Fernão Ferro. Entrou na Barrosa em 1951, creio, e pertencia ao curso do pe. Lopes, Jacinto, António Vieira, Barbas e Calé (estes já falecidos)...mas esteve pouco tempo em Gaia. Recebe a nossa Palmeira que "muito aprecia". Junto o seu Email para quem deseje contactá-lo - «zecaperalta@hotmail.com». - Voltarei, diz o Peinado e eu espero seguir-lhe os passos...
Sonho de uma noite de Primavera ou talvez uma noite de sonho onde o lirismo das vozes e a execução nas teclas emocionaram uma sala em tijoleira rústica sem regra nos assentos e libertina em tantas emoções. Um texto exuberante do Alexandre onde as amoras negras também me transportaram para o clafoutis, um doce francês muito apreciado que usa os frutos silvestres e as cerejas escuras e bojudas.
O Assis antecedeu-se e em resposta ao Ismael mostrou a forma e o jeito poético, não se omitindo de mencionar as favas que agora crescem com tanto calor e humidade e serão pretexto para um salto à montanha, a tal de onde se avista e contempla o mar por entre o ondulado dos montes.
O lugar de Cabanas, onde Boursicaud respirava alento, tem belezas tais que até o acesso à casa do Assis se faz pelo caminho do Fradinho e por ali se perfuma de natureza e encantos rústicos ao jeito do Minho. Sem esquecer as tardes de outono cheinhas de diospiros ou as tangerinas e laranjas doces que sustentam a sede.
Cada recanto tem seus encantos...
e nós que somos tantos...
SONHO DUMA NOITE DE PRIMAVERA - I---------
Caros Delfim e Dulce: desculpem que até agora não tenha escrito uma palavra. Mas como temia um silêncio, de certo modo colectivo, eu fui adiando... para manter por mais tempo, no gume da faca, o sangue das amoras pretas. Felizmente, foram bastantes os que se referiram, na fala ou na escrita, ao ENCONTRO DO SUL. Mas temos o vício da palavra rápida, como se ela nascesse dum teclado. E nessa rapidez, não nos custa transformar em adjectivo o verbo gostar. "Gostei" ou "gostei muito", como se disséssemos, em jeito de síntese luminosa: foi tudo muito lindo. Ou então, "não há palavras" que exprimam o que ali se passou. Como quem diz: esta já foi, venha a seguinte! Só que isso pode em boa verdade dizer-se de quase tudo. Por isso nos repetimos, nos imitamos, e caímos sem nos dar conta no pântano dos lugares comuns. Eu sei que somos na maioria aposentados e que o tempo já vai sendo pouco para aquilo que ainda não fizemos. A menos que a aposentação seja absoluta, desde os ditos até ao saber que a idade impõe... Esta última hipótese abandono-a já, para recomendar a todos que usem em pleno todos os dotes de que a natureza e a cultura nos equiparam. Salve-se a imaginação quando já nada mais possa ser salvo!!! ------
Falava eu de amoras. Que frutos sugestivos e carnudos a mãe terra nos dá! Basta uma breve gota de suor, como a que terá deslizado pelos trasmontanos sentidos que se evidenciam no Delfim. Num dia de primavera, farto do ruído urbano, rasga uma pequena ferida no solo da cerca. Nessa fenda aconchega as frágeis raízes de duas amoreiras. Faz depois uma pequena costura e a cicatrização foi imediata. Dois anos apenas foi o tempo de que as plantinhas precisaram para se cobrirem de frutos oblongos e negros. O seu criador, qual deus atravessando a tarde serenamente, disse: vinde e comei, vós todos os que chegais como amigos dos largos campos da infância! Na verdade, sois meus irmãos de sangue, desse que corre no corpo das amoras. Vinde, não temais a hora. Ainda temos tempo para erguer uma taça de vinho branco. Sentai-vos por aí! Esta casa é ampla. Cabe lá a nossa memória toda. O sul não é bem o litoral. Pode ser mais à frente ou mais atrás, mais por dentro ou mais por fora. O sul chama-se abril. Tem oitocentos metros de noras. E uma morena presença de Alá, não em pedra mas na urgência silenciosa duma alma que procura em vida o sentido da terra. Ide até à eira. Olhai o mar comum ao longe. Vede como aqui medra o silêncio e se ouve a ondulação mediterrânica. Sem as multidões sazonais. Sem o betão encavalitado nas colinas ou nas dunas. Mantende-vos por aí. Ser-vos-á servido o mais tenro cordeiro destas pastagens. Abriremos um odre de vinho velho. Intenso e perfumado. Diremos isto e aquilo, ou nada diremos. Mas esta tem de ser uma hora suave. Vamos prender nela o tempo, porque um sonho anda no ar. Em a noite vindo, atentos estai, porque ninguém pode ficar fora desta harmonia. Amadeus chegará dos confins do século dezoito e do velho piano, torturado por tantos dedos e desejos passados, arrancará uma passadeira sonora, de mil cores. Estendê-la-á por sobre esta paisagem da noite. E então, num cenário onírico que poderá fazer inveja a Mendelssohn, ouviremos as belas e trancendentes Ana e Jacinta. Assim, nomes simples, quase tímidos, arriscando-se à nossa rudeza auditiva e distribuindo-se entre nós generosamente, dando a cada um os pedaços de voz que cada um conseguir receber. Assim falou o Delfim. Assim se faça, disse a Dulce. E assim se fez, digo eu. Porque estas palavras sabem a bíblia. São criadoras. São transformadoras e não se adiam. Quem esteve antes e viu durante pode confirmar depois que tudo isto foi verdadeiro. E que para o silêncio vai o melhor quinhão. Os sons e a noite prolongaram-se no dia seguinte, desde Silves até às fontes. Expandiram-se no almoço de despedida no alto de Alte, donde se alcançava com os olhos o passado, o presente e até o futuro que possa haver. Nem é difícil presumir que este sul, assim vivido, possa marcar a memória colectiva por muito tempo. ---------------------------
"Voltarei" em breve para amar publicamente aquelas divinas criaturas, servidoras da beleza e da bondade gregas, a quem ainda ouço de joelhos, como quem rezava, no suave chão da tijoleira. Ou em diferido, entre oito colunas, na intimidade secreta do vokswagem, quando parto para longe...
"VIGÁRIOS"
dos verdadeiros
esses
andam por aí aos montões
canções de embalar nos entoam
e prontamente
em nosso bolso metem a mão
para nos roubar.
...
Como Ismael
há poucos
talvez nenhuns
Ele nos louva
mesmo sem merecermos
põe-nos nos píncaros e
carregando nossa mochila
que somos nós quem sua
não ele
diz
como poeta verdadeiro
Ismael Vigário mente
Verdade
só a amizade
lhe pode perdoar
...
Vigário Ismael
nossa amizade
na tua se duplica
Vem daí às favas e
setenta vezes sete
teus anos um dia contarás
vem as favas saborear e
na terra as flores novamente surgirão
vem a Cabanas de Orbacém
pois dum pisco amigo
seu canto meigo
para ti em doce amizade fluirá
(este meu simples arremedo de poesia... Amigo Ismael)
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