A gastronomia queirosiana também fala do arroz de favas:
“E pousou sobre a mesa uma travessa a transbordar de arroz com favas. Que desconsolo! Jacinto, em Paris, sempre abominara favas! ... Tentou todavia uma garfada tímida – e de novo aqueles seus olhos, que pessimismo enevoara, luziram, procurando os meus. Outra larga garfada, concentrada, com uma lentidão de frade que se regala. Depois um brado:
– óptimo!... Ah, destas favas, sim! Oh que fava! Que delícia! “
É claro que A cidade e as Serras não previa as boas comidas que também se confeccionam na quintinha do Assis com os bons produtos da sua horta, pesem outros acrescentos e temperos de ervas aromáticas que dão cheiros tenrinhos saídos dos tachos esfumados.
No lugar de Cabanas, de onde a paisagem abarca o mar, o quintal do Assis enche-se de legumes frescos e no sábado a paisagem vai ter novos visitantes. E tem espaços para todos!
Caros companheiros e amigos, ex-reclusos da AAAR; tenho estado calado pois acho que também tenho direito a ser interveniente de sofá e não andar sempre na cabeça do touro. Falando com o Vieira, transmitiu-me ele que, e confirmei, o nosso caro amigo Peinado, pelos vistos, esteve uns dias a "dar banho á minhoca" nas termas do Gerês. Acho que fez muito bem e a mim só me traz grande satisfação por saber que continua em boa forma e assim comparecer na "favada" do nosso Assis, a cujo sítio se pode chegar através da espantosa artéria "O caminho do Fradinho". No cimo da mesma aparece o jardim muito melhor que o do Éden, prolífero em diversas espécies de árvores, frutos e passarada, quiçá mesmo de bicharada rasteira. Meteu-se em boa o pacato do Assis. Diz o Peinado que não sabe quantas pipas terá de levar para o repasto; leve as que puder que assim me encarregarei eu dos célebres charutos dos Arcos pois as lambonadas também sabem muito bem, sobretudo nestas idades em que já se usa o viagra; t'arrenego, que eu ainda não preciso de tais mixórdias. Faço daqui um grande apelo ao Davide para que não falte, bem como ao Alexandre e, se for possível, ao Gaudêncio. Vir ao Minho deve ser sempre muito gratificador. Vamos ver é se o nosso Presidente Né Vieira terá mão firme para nos meter a todos na ordem. Desde já vos digo que conteis comigo, a não ser que desabe por estas bandas um cataclismo terráqueo ou sub-lunar. Se no fim de tudo se puder cantar o nosso hino, o ritmo será irrelevante, a menos que as vozes se apresentem tão esganiçadas que já não aguentem o compasso. Já que alguém p'raí falou que alguns textos exarados foram escritos num teclado, informo-vos que o meu não foge á regra pois foi igualmente congeminado, currente calamo, num teclado preto com caracteres brancos. Sabeis todos onde moro e, com favas ou sem favas, ide-vos também preparando para, a breve prazo, voltardes a aparecer por estes lados. Mas, até lá … sabeis a que vos aconselho? Ide trabalhar, malandros!
Caro Amigo Francisco
Antes de mais, gloriosas saudações por teres ultrapassado com glória a idiomática barreira precedente, perfazendo com inqualificável juventude uma quantia redonda e serena. Atrasei-me na data, como em tudo na vida. Se me dissessem que tinha outro tanto tempo como o que já se escoou, fazia tudo o que fiz, mas tinha de começar mais cedo. É por isso que me atraso, na vã tentativa de aumentar as horas e o tamanho dos dias. Contradições de quem está indisponível para fazer anos. Já não pratico aniversários, nem meus nem alheios. E a quem me pergunta a data, se acaso for curiosidade feminina, respondo sem pudor que já foi ou ainda está para ser. Mas em se tratando de nós, os que militamos por uma eterna mocidade, acho justo que tomemos a iniciativa de pagar simbolicamente, a quem devemos, o público reconhecimento do seu nome, da sua presença, da sua amizade.
As favas já estavam contadas desde há muito tempo. Mas em maio, elas são não só uma devoção como também um dever. Já te querem canonizar e ainda andas por aí a cavar favas, flores e desejos infinitos de salvar o mundo. Quanto a salvar o mundo, não te acompanho, pois perdi a pedalada. Extraviei-me no caminho. E em se tratando de cristãos, mais depressa lhes recomendava o inferno do que os enviava para o céu. Mas nesta heresia, até penso que estaremos solidários. No teu espírito de subversão geral, na corajosa insubmissão aos pregadores de serviço, também não andaremos longe. Uma diferença: eu mordo cobardemente pela calada. Tu vais para o terreno, sem conforto nem medo das muitas ciladas escondidas. Quanto ao silêncio que tu habitas, somos "em tudo semelhantes", como bocage e camões, na cava, na abstinência, na música pastoril das manhãs, na frugalidade conventual. Assim sendo, proponho um combate sem tréguas contra a santidade. Pois, bom amigo, com esta bandeira e contra todos os vampiros que infestam o território matricial da infância, garanto que no dia 26 serei dos primeiros a chegar. E era óptimo que no morro mais alto de ORBACÉM plantássemos uma bandeira verde, uma palmeira, um carvalho, sei lá eu, uma cousa grande que se visse bem através do verde mais tinto que houver na região. O som de Orbacém rima com tantas lembranças que apetece convocá-las e comê-las como se favas fossem. Com pele e osso. Levaremos o EÇA connosco, para que ele nos descodifique o encanto verde desta ementa, uma espécie de regresso à casa dos avós, isto é, a um portugal puro, cheio de água e de sol.
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