2012-07-12
A. Martins Ribeiro - Terras de Valdevez
Recebi por este correio a nossa revista "PALMEIRA". Nada tenho a reparar pois vê-se que ela mantém já o padrão de qualidade a que nos habituou nos últimos tempos. Li-a de fio a pavio aplaudindo todo o seu rico conteúdo. Quanto ao aspecto gráfico a mesma bitola; bom papel e boa distribuição. Reparei que nela vem destacado o Encontro de Messines como acontecimento marcante da nossa Associação, que o foi. No próximo encontro em Gaia, conforme também se anuncia na contracapa, se lá chegarmos, poderemos então ver o filme sobre aquele inesquecível evento que terminei um dia destes e que, contra a minha expectativa, me deu mais trabalho do que tinha previsto. Parece-me, no entanto, que ficou bastante aceitável, principalmente no que diz respeito á parte técnica.
Aproveito para frisar que, curiosamente, a revista chegou no "day after" ao de S. Bento, esse importante santo da Igreja muito venerado aqui nestas Terras de Valdevez em virtude da existência de diversos mosteiros beneditinos espalhados pelo concelho. O mais procurado é o de Ermelo, junto ás margens do Lima, onde na noite da véspera se realiza grande peregrinação de romeiros provenientes de variados pontos da região, compostos sobretudo por gente nova que, como é bom de ver, procura juntar a borga á devoção: mais borga, talvez. Depois vem o de S. Bento do Cando, na Gavieira, venerado numa simples capela de imagens toscas e adornos mofentas, situada na mítica e lindíssima branda encravada nas rugas da serra da Peneda, onde igualmente se leva a cabo fabulosa procissão nocturna. Existe ainda o mosteiro da Miranda e o de Sabadim onde pontificou um abade que, segundo dizem por aqui, tinha seis mulheres e quando elas se pegavam de língua, quiçá por ciúmes, ele as acomodava com os seguintes ralhos: "… calai-vos, putas, que não sois vós assim tantas!"
Mas não é só nestas terras que se presta culto a S. Bento. Vou citar só dois dos mais afamados santuários em sua honra; o de S. Bento da Porta Aberta, no Gerês, com festa de arromba no dia do orago. Dizem que também lá existe um famigerado bruxo em tempos muito procurado pelo flatulento Costa do futebol do Porto, cidadão corrupto e facinoroso, que o foi consultar provocando satânicos rituais com sangue, penas e ossos de galinha, em jeitos de macumba do Vodú ou dos candomblés dos Orixás. Uma vergonha que nem contada se acredita! Por último, falta ainda lembrar o famoso e popular S. Bento de Seixas, encostado ás margens do estuário do Minho e bem defronte das terras da Galiza. Para ele cantam as moças casadoiras quando os ares casamenteiros não lhes sopram de feição:
"Ora vira, vira,
S. Bento de Seixas
Leva-te o diabo
Se me agora deixas!"
S. Bento é o padroeiro desta Vila que ontem celebrou o seu feriado concelhio e, lá no alto, junto á igreja do antigo mosteiro beneditino, hoje propriedade privada, fica o campo santo desta paróquia, o cemitério de S. Bento. Desta forma, quando alguém da terra parte deste mundo todos falam com óbvia propriedade que tal pessoa foi morar para S. Bento. Claro que ninguém vai para lá por devoção ou de sua livre vontade e todos vamos pedindo ao Santo que não nos chame tão cedo.
Ah, já me ia esquecendo, não dum mosteiro de bons e santos religiosos, mas dum palácio onde moram os maiores ladrões deste País e dos quais nem o Senhor S. Bentinho nos pode livrar: o Palácio de S. Bento, de triste evocação!