fale connosco


2012-08-01

alexandre gonçalves - palmela

PALAVRAS, HÁLITO MATRICIAL

 

No princípio era  a palavra. E foi ela que criou o céu e a terra e tudo quanto há nela. A palavra libertou a mão. A mão libertou o homem. E o homem libertou a matéria. Espiritualizou o universo. E fez uma cidade contra o perigo. Ele era um dos animais menos aptos para andar por aqui, neste obscuro vale de inquietações. A palavra foi buscá-lo ao medo. Depois juntou as múltiplas variedades humanas em volta duma fogueira, em sucessivos círculos concêntricos. Como quando num lago se atira uma pedra e se multiplicam em movimento contínuo graciosos desenhos de água, até ficarem imperceptíveis na distância. Assim a palavra fez o homem, em círculo inclusivo. Assim nasceu a cidade, não em concorrência mas em cooperação solidária. E essa espécie, assim aparecida num solo tão arenoso como este, vingou com relativo êxito, vencendo inenarráveis aventuras que nenhuma imaginação humana consegue descrever. A história nem sempre testemunhou esta maravilha. Há mais sombras na arqueologia do coração do que luz no esplendor dos olhos. Mas as sombras nascem no opaco e arrogante silêncio dos homens grandes. As palavras são seres vivos, muito vulneráveis. Muitas vezes sofrem o contágio de mentes infectadas, que espalham vírus por uma cidade inteira. Nem é raro as palavras serem apenas um ruído viscoso. E tão intenso que nada se ouve. Muitas vezes, não passamos de calhaus sonoros, sem qualquer luz para lermos o mundo. E sem quaisquer instrumentos para negociarmos a existência comunitária. Se distraída ou perversamente aumentarmos o ruído falando muito, muito pouco escutaremos. Porém, se perdermos a doçura que há no corpo nu das palavras, e nada tivermos para dizer, então nada ouviremos, porque nada nos dirão. As palavras põem-nos em dádiva. É da sua  natureza o amor. Em faltando o amor  e a sua  dicção, nós ficamos sós e sem recursos. Condenados sem justa causa à imprevisível extinção, só nos resta voltar ao adâmico paraíso e pedir a Eva que nos traga maçãs em abundância. E que fale connosco suavemente, enquanto a tarde vai descendo. Não fomos nós que inventámos as palavras. Foram elas que, no seu ventre imaculado, nos geraram e nos deram o nome que ainda temos.

No princípio era a palavra. E no jardim que ela criou viu que tudo era muito belo. E para que ninguém chamasse em vão os seres que ali habitavam, pôs uma etiqueta individualizante em cada um. Só depois é que fez um boneco de argila, que lhe saiu demasiado rude e muito arrogante. Mesmo assim soprou-lhe vida mas aquilo não era vida. Era antes um macaco, peludo e selvagem. A palavra, que não era divina, teve de lamentar o que das suas mãos nascera. Era o início de uma infinita aprendizagem. Foi então que teve um rasgo genial. Fez cair sobre o macaco um grande sono. E enquanto ele dormia uma eternidade, não só o foi aperfeiçoando como lhe tirou de lá de  dentro uma companhia de absoluta perfeição. Então deu-lhes o respectivo nome e disse-lhes: tu, Eva, és a mais formosa de todas as criaturas, para que Adão te ame sem limites. E te deseje para sempre. E faça crescer no teu ventre a vida que eu vos dei. Porque este jardim é imenso e precisa de ser habitado. Tu, robusto Adão, transforma estes montes e estes vales, para que nada falte na vossa mesa. Ao fim da tarde, quando regressares dos campos, encontrarás Eva tomando banho no rio. Serás depois recebido como um rei no seu palácio. E tudo vos é dado, porque tudo criei para vós. Inclusivamente os frutos mais vermelhos destas paisagens. Uma só lei vos deixo em herança: amai-vos e povoai a terra. 

Eles amaram-se e nunca tiveram vergonha de estar nus. Nenhum foi superior ao outro. Ambos se davam em palavras novas que eles próprios inventavam. E eram já ambos muito belos. E tiveram muitos filhos. Mas estes, já depois de os pais se cansarem da idade, fizeram do jardim uma horrorosa guerra. Por duas razões: porque deixaram de se amar e porque as palavras morreram em combate. A palavra foi o princípio mas nunca mais foi o fim.

2012-07-31

Arsénio Pires - Porto

Caro Assis:

Porque suspeitei de alguma confusão é que te telefonei logo na 2ª feira a saber o que se passava. E foi isso: ao dizer-te que ia domingo a Trás-os-Mostes aos 90 anos da minha irmã mais velha, tu depreendeste que iria lá passar todo o fim-de-semana. De facto, só saí do Porto no domingo de manhã. POr ese motivo nem te passou pela cabeça telefonares-me.

Está o equívoco desfeito. Só escrevi aqui o meu post porque era e é, como sabes, meu desejo encontrar-me com o Luís Guerreiro e fiquei com muita pena. Mas ainda hoje ele me telefonou e fica prometido um outro encontro tal como nós tínhamos pensado.

Com o Martins Ribeiro também já falei. Está tudo esclarecido. Ele partiu para férias não sem antes dizer que, apos ouvidas as sugestões dalguns colegas, está completo o vídeo sobre o nosso encontro em Messines na quinta do Delfim e que o trará para o Encontro Nacional a fim de que, quem quiser, o possa adquirir. Sempre se arranjarão uns euritos para a nossa Palmeira... que bem precisa pois está a ficar bastante cara a sua publicação.

Boa lavoura, amigo!

Até breve.

Grande abraço.

 

2012-07-31

Assis - Folgosa - Maia

"Escrever é escrever-se" (Ismael Vigário) - Deixai que me escreva em poucas palavras, pois tenho que desfazer equívocos que nasceram em meu quintal sem serem voluntariamente semeados. O nosso amigo Martins Ribeiro, como sempre voluntarioso e generoso em palavras descreveu um paraíso que não existe e então um santo qure nunca porá os pés nos altares. Disse uma coisa muito certa: "Que a porta esteve e está sempre aberta", e mais para os amigos. - Quanto ao convite do pequeno evento de sábado passado, ele teve oigem na 6ª feira no breve encontro que tive com o nosso amigo Luís Guerreiro e a D. Irene com quem lanchei a convite dos mesmos. Já no final da tarde, depois de eu lhes ter dito que o Arsénio tinha mostrado interesse em se encontrar com eles e com o Nabais, já que a esposa deste me falara também nesse sentido, mas que esse encontro só poderia realizar-se no sábado seguinte uma vez que o Arsénio ia para a sua terra para participar no 90º aniversário da sua irmã, o Luís Guerreiro disse, já eu estava a caminho do meu carro, que gostava de se encontrar com os amigos AAAR, em grupo ou separados, mas que não tinha planos para se deslocar a Gaia. Foi então que me lembrei de lhe dizer que eu iria telefonar a alguns associados que se encontravam mais perto de Gondarém, mais concretamente ao Martins Ribeiro e ao M. Vieira, ao que ele me respondeu que o Ribeiro já estava de férias. Como eu sabia que ele só sairia dos Arcos nos primeiros dias de Agosto, disse que ia fazer todos os possíveis para que eles viessem ainda no sábado. A D.Irene perguntou-me então se também vinha o Alex. Respondi que seria muito difícil já que se devia encontrar em Palmela. - Despedi-me e fiz os telefonemas seguidamente. Ficou-me o Alex no ouvido e toca a falar-lhe. "Que era difícil, pois que a sua irmã se encontrava hospitalizada. Mas que ia ver pois lhe haviam dito que que ela se encontrava já boa e lhe dariam alta no dia seguinte." Recebi ainda mais uns 3 telefonemas seus, um deles já do hospital a confirmar a vinda. Falámos do Meira e do Cardoso. Da possibilidade de ele vir com este desde Gaia. Do Nabais nem uma palavra, mas felizmente ele acabou por se juntar ao grupo. Falei com o Meira que logo se prontificou a aparecer na companhia do M. Vieira. Tentei mais alguns associados: ao Sacadura, ao Aventino, ao Peinado e ao Freitas Escaleira. Todos eles se mostraram indisponíveis por razões familiares. Não pude entrar em contacto com mais ninguém, pois o tempo foi curto. - Apenas uma palavra mais. Peço desculpa ao Arsénio por ter interpretado mal a conversa telefónica que havíamos tido dias antes. O facto de então me encontrar na horta a trabalhar será razão suficiente para que me desculpe? Espero bem que sim. - Não foi este, pois, um encontro formal. Apenas improvisado por mim e em pouco tempo. Que ninguém se sinta pois excluido do quer que seja. A minha porta continua aberta, como sempre esteve. É um pequeno quintal com "uma casa sempre em construção" como diz o poeta, onde todos cabem.- O meu abraço fraterno.

 

2012-07-30

Arsénio Pires - Porto

O Martins Ribeiro veio, atento como sempre, dar-nos conta de mais um acontecimento que dá vida à nossa Associação. Obrigado pela notícia.

É com estes pequenos-grandes encontros que a AAAR se prolonga no tempo. Ainda por cima tratando-se, como foi o caso, dum encontro à volta do nosso grande Mestre Luís Guerreiro.

O Martins Ribeiro diz-nos que ninguém se lamente nem sinta inveja porque só não esteve lá quem não quis”. Não foi bem assim pois eu (talvez como mais gente) não tive notícia da realização desse encontro. Se a tivesse, CERTAMENTE que marcaria presença!

 

A talho de gadanha será bom lembrar que também do Encontro Nacional se faz a vida da AAAR.

E só falta pouco mais dum mês: Dias 8 e 9 de Setembro.

Necessitamos da vossa confirmação de presença, tanto para a dormida como, sobretudo para a Visita e Almoço do dia 9.

Sabeis como estas coisas têm que ser confirmadas com antecedência. Por favor, não dificulteis a vida de quem tomou a seu cargo a tarefa da logística deste Encontro.

Obrigado pela vossa compreensão.

2012-07-29

A. Martins Ribeiro - Terras de Valdevez

Por indecente e má figura, o género humano foi expulso do Éden e desde então carregou sempre na sua alma o castigo desse pecado original. Saudoso da sua felicidade, quando descobre uma réplica do que se lhe afigura um pretenso paraíso aí vai ele, correndo ansioso e carente, para usufruir das delícias perdidas. E tudo vale para o conseguir. Assim aconteceu ontem, num dia propício, no cantinho do Assis, local de privilégio onde se descansa o corpo e o espírito. Sítio deveras apetecível como convém a um paraíso. A propósito de nos encontrarmos com um companheiro nosso, um irmão mais velho que veio de longe, de muito longe, meia dúzia de AARs, inveterados pecadores de tais andanças, lá convergiu no cimo daquele cabeço entre o céu e o mar. E ali paramos a refrega diária numa tarde inteira, com a despreocupada ilusão de que a paz não terminará nunca mais. O casal Guerreiro vindo todos os anos das terras de Vera Cruz para repousar uns dias no ninho que o viu nascer, o Manuel Vieira, exímio Chefe de culinária que confeccionou uma deliciosa feijoada á transmontana, o Meira que forneceu um néctar de estalo da sua lavra, o Alexandre compulsivo palrador de filosóficas chachadas, eu próprio, o anfitrião e, haja Deus, mais dois novos parceiros que se juntaram a este grupo de pândegos. O Nabais e o Bernardo Cardoso que forneceu umas toneladas de camarão fresquinho como se tivesse sido pescado no mar ali perto. Uma mesa farta, cheia de irresistíveis tentações, vinho digno de Deuses olímpicos, frutos produzidos na horta do Assis, genuínos e simples, doces trazidos para delícia dos lambões, pão imprescindível para um ágape sagrado. Imaginem como se passou; íamos falando, entre deleites de sabores e apagadas securas de garganta: contava-se uma história e chupava-se impudicamente um camarão, partilhava-se uma experiência própria e trincava-se um delicioso fisalis, divagava-se sobre uma utopia e saboreava-se uma tralisquinha de esquisito queijo artesanal. Dissertou-se sobra as agruras da vida, sobre as recordações da juventude, sobre o amor, sobre o inato romantismo presente no coração da gente e aqui, vejam lá, alguém imaginou uma enseada tranquila que amainava o vento forte e desabrigado tornando-o numa suave e fresca brisa que ia perpassando pelo bronzeado corpo de uma mulher idealizada, espreguiçada na areia como deusa pagã e lhe revolvia com meiguice os cabelos soltos. Digo-vos: não foi um sermão de montanha onde se pregaram as bem-aventuranças porque foi muito melhor que isso; um céu aberto, um momento para relembrar, um pecado para repetir. Ao pensar nisto que ninguém se lamente nem sinta inveja porque só não esteve lá quem não quis, pois a porta esteve e está sempre aberta. Podem chamar-nos tudo, podem criticar tais extravagâncias, podem torcer o nariz, mas nós é que estamos certos e escolhemos a melhor parte. Bem hajas, Assis, promovo-te a santo por nos proporcionares um cheirinho a céu!

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