2012-08-02
A.Martins Ribeiro - Terras de Valdevez
A BALADA DO SABÃO
Quando eu era puto pequeno, diria de infantário se os houvesse nesse tempo, decorria a II Guerra Mundial e era grande a miséria nas gentes, contudo, a muita pobreza existente era largamente compensada com bastante alegria e conformismo. O povo enquadra-se bem no aforismo, pobrete mas alegrete. Um dos artigos de consumo que mais escasseava, dado ser fortemente contrabandeado para a Galiza, era o sabão. Não quer dizer que a gente não se lavasse; até lavava, quanto mais não fosse nas águas do rio Minho, logo ali mais abaixo. Porém, em vez de sabão havia as flores duma planta ribeirinha que esfregadas com as mãos molhadas produziam uma espuma parecida mesmo com a dum cheiroso sabonete. E era uma alegria. Lembro-me disto e também me lembro de que havia em Monção um simpático velhote muito pequenino e baixinho, chamado Ti Pèdrinha, com a mania da música, que aparecia em público agarrado sempre a um contrabaixo de corda maior que ele e que quase o encobria por completo. Tal qual o nosso Pedrosa daquela época, este senhor foi o fundador duma escola de música e dum rancho muito conhecido, que teve alguma fama, a que deu o nome de "Roc'ó Norte" o qual, tanto quanto sei, ainda hoje existe. Nesse tempo corriam pela voz do povo muitas canções populares inspiradas nas peripécias da vida e então o Ti Pèdrinha, como brilhante compositor que era, compôs uma modinha que recordo muito bem e que andou nas bocas do mundo; a sina do sabão, fosse ele "rosa", azul" ou "macaco". Assisti eu e vi muitas vezes com estes que a terra há-de comer, como os contrabandistas, debaixo dum cabano, faziam seis de apenas cinco barras de sabão. Tinham uma forma metálica mais pequena dois dedos do que um pau desse produto e cortando o bocado que sobrava iam enchendo o molde até completar uma nova unidade, como se pode entender uns dedos mais pequena que o convencional mas que, como a escassez era muito, ninguém notava. O certo é que, mesmo dessa forma, o produto desaparecia como por encanto e o preço era bem puxado.
E os versinhos que me ficaram nos ouvidos eram mais ou menos desta forma:
Sabão, sabão, sabão,
Onde é que te tu escondes;
Sabão, sabão, sabão,
Onde estás que não respondes?
E havia mais mas já me não lembro.
Ora, direis vós, que historinha é esta? Olhando para o "fale connosco" do nosso site e vendo o silêncio que nele grassa, (neste caso ele não é de oiro) troquei umas impressões com o Vieira sobre a analogia que parece existir entre muitos AARs com obrigações e a cantiga do sabão do Ti Pèdrinha. Poder-se-ia adaptar assim o refrão:
AARs, AARs, AARs,
Onde é que vos escondeis;
AARs, AARs, AARs,
Onde estais que não respondeis?
Raio de miséria! Agora nem o Peinado voltou, como prometeu. E então lembrei-me de escrever uma chachada destas para ver se alguém aparece! Não há vergonha?