2012-05-28
A. Martins Ribeiro - Terras de Valdevez
Falaram aqui alguns do que lhes vai na alma (e muito é) após o inolvidável convívio naquele belo recanto que surge no cimo da pequena encosta do “caminho do fradinho” assinalada, como convém, por explícita e oportuna placa: não dá, pois, que enganar. Falou o Alexandre através do seu poético texto com algumas letras minúsculas envergonhadas e fora do seu lugar (será moda?) mas que merece palmas; falou o nosso Vieira em termos mais prosaicos, falou o anfitrião Assis que, desde já o digo, não tem nada que agradecer e falou o ex-recluso Peinado tentando dar umas alfinetadas eivadas com a mistela do “biagra” ou sei lá o quê. Caro companheiro, volto a afirmar que ainda não uso nem de um nem de outro e ainda sei bem como elas mordem: nada de confusões! Sendo assim, agora também eu vou falar e digo-vos do coração que as favas excederam as minhas expectativas e estavam mesmo divinas, acompanhas de toda aquela parafernália de garrafas e garrafões de vinhos, espumantes e licores, (também água, é certo) largamente consumidos de forma que, pareceu-me, produziram já perto do fim um certo efeito de inusitada euforia. Pudera, para quem não tem a percepção destes subtis pormenores, não notou que o bródio estava bom porque tinha a mão de um experto cozinheiro, equipado até com avental a condizer. Quanto àquilo que esteve para além dos comes e bebes eu já me considero muito traquejado de outras andanças naquele deslumbrante sítio e, por isso, não extravasei o meu espanto como se faz quando acontece pela primeira vez. No entanto, fiquei com a alma cheia de encantamento só de escutar os que não falando aqui, falaram lá. A erudição poética e musical do Escaleira, os devaneios românticos do Alex que deveras me entusiasmaram e que dá gosto apreciar, as ponderadas e calmas considerações do Aventino e as explanações técnicas de artes gráficas do colega Barros. Eu limitei-me a ouvir, com a devida atenção e metendo pouco bedelho, toda essa torrente de cavaqueira cultural: suponho que também o Meira e o Sacadura. Afirma o Assis que as favas ainda não acabaram e que estará pronto para oferecer receita igual àqueles que faltaram ou não puderam ir desta vez. Concordo com isso pois quem não foi não sabe o que perdeu e confirmo que vale a pena. Quanto mais não seja só para passar momentos de grande quietude e serenidade num lugar como aquele, quase bíblico, vestido de verde e mar, coberto de céu imenso, animado por trinados e gorjeios, pelo ramalhar da folhagem tangida pela brisa, pelo cicio mitológico do oscilar dos pinheiros no montado. Vale mais que qualquer poema e é o melhor que se pode aproveitar nesta vida. O resto é palavreado, como diz o inteligente! Para além de tudo, fiquei com a impressão de que todos gostaram de ir á fava.