2012-07-29
A. Martins Ribeiro - Terras de Valdevez
Por indecente e má figura, o género humano foi expulso do Éden e desde então carregou sempre na sua alma o castigo desse pecado original. Saudoso da sua felicidade, quando descobre uma réplica do que se lhe afigura um pretenso paraíso aí vai ele, correndo ansioso e carente, para usufruir das delícias perdidas. E tudo vale para o conseguir. Assim aconteceu ontem, num dia propício, no cantinho do Assis, local de privilégio onde se descansa o corpo e o espírito. Sítio deveras apetecível como convém a um paraíso. A propósito de nos encontrarmos com um companheiro nosso, um irmão mais velho que veio de longe, de muito longe, meia dúzia de AARs, inveterados pecadores de tais andanças, lá convergiu no cimo daquele cabeço entre o céu e o mar. E ali paramos a refrega diária numa tarde inteira, com a despreocupada ilusão de que a paz não terminará nunca mais. O casal Guerreiro vindo todos os anos das terras de Vera Cruz para repousar uns dias no ninho que o viu nascer, o Manuel Vieira, exímio Chefe de culinária que confeccionou uma deliciosa feijoada á transmontana, o Meira que forneceu um néctar de estalo da sua lavra, o Alexandre compulsivo palrador de filosóficas chachadas, eu próprio, o anfitrião e, haja Deus, mais dois novos parceiros que se juntaram a este grupo de pândegos. O Nabais e o Bernardo Cardoso que forneceu umas toneladas de camarão fresquinho como se tivesse sido pescado no mar ali perto. Uma mesa farta, cheia de irresistíveis tentações, vinho digno de Deuses olímpicos, frutos produzidos na horta do Assis, genuínos e simples, doces trazidos para delícia dos lambões, pão imprescindível para um ágape sagrado. Imaginem como se passou; íamos falando, entre deleites de sabores e apagadas securas de garganta: contava-se uma história e chupava-se impudicamente um camarão, partilhava-se uma experiência própria e trincava-se um delicioso fisalis, divagava-se sobre uma utopia e saboreava-se uma tralisquinha de esquisito queijo artesanal. Dissertou-se sobra as agruras da vida, sobre as recordações da juventude, sobre o amor, sobre o inato romantismo presente no coração da gente e aqui, vejam lá, alguém imaginou uma enseada tranquila que amainava o vento forte e desabrigado tornando-o numa suave e fresca brisa que ia perpassando pelo bronzeado corpo de uma mulher idealizada, espreguiçada na areia como deusa pagã e lhe revolvia com meiguice os cabelos soltos. Digo-vos: não foi um sermão de montanha onde se pregaram as bem-aventuranças porque foi muito melhor que isso; um céu aberto, um momento para relembrar, um pecado para repetir. Ao pensar nisto que ninguém se lamente nem sinta inveja porque só não esteve lá quem não quis, pois a porta esteve e está sempre aberta. Podem chamar-nos tudo, podem criticar tais extravagâncias, podem torcer o nariz, mas nós é que estamos certos e escolhemos a melhor parte. Bem hajas, Assis, promovo-te a santo por nos proporcionares um cheirinho a céu!