2012-10-03
A. Martins Ribeiro - Terras de Valdevez
Desculpai se eu hoje não vou falar em coisas agradáveis, como "fodas", cabritadas, alvarinhos, castanhas, fisális, dióspiros e "cornelhos". Deixai-me dar um grito de socorro, pois uma bochornosa angústia se vai apoderando de nós todos. Sei que não devia falar de mim mas também sei que, falando de mim, estarei a falar de milhões doutros concidadãos cujo infortúnio é igual ao meu. Nasci (e bem) num lindo recanto deste belo País, num tempo difícil duma cruenta guerra mundial, porém, nunca vi nada como nos tempos de hoje. Trabalhei mais de 40 anos ao abrigo de regras que aceitei e cumpri, usufruindo, no fim, daquilo que me prometeram. A tristeza e a ignominia é que, dum momento para o outro, como sombras demoníacas saídas do esqualor das trevas e dentre o cerrado nevoeiro da injustiça, surgiu uma iníqua e perversa quadrilha de ladrões que, sedenta de pilhagem e subvertendo unilateralmente todas as regras e compromissos, extorquiu, espoliou e confiscou todo o resultado do esforço e suor desse longo trabalho. Se nasci (e bem) num lindo e belo recanto deste mundo, também hoje se me torna certo que irei morrer (e mal) num insuportável e aterrador País, cheio de insaciáveis e monstruosos predadores. Assim, do “de profundis” da minha angústia e da minha agonia, clamo a Vós, Senhor; Senhor ouvi o meu grito de revolta e tende de nós misericórdia! Espalhados por carreiros e caminhos, por montes e vales, como manifestação da piedade deste Povo íntegro e piedoso, podem ver-se pequenos nichos de fé chamados de “alminhas” que eu muito respeito e venero; então volto a pedir ao Céu que, no devido tempo, coloque num deles a minha alma para poder fugir deste pavoroso inferno a que fomos condenados. E se um dia passardes por um desses singelos monumentos, rezai ao menos uma curta prece de redenção, pois lá poderá descansar uma alma que foi minha.