2012-11-25
manuel vieira - esposende
O dia de ontem estava escuro de núvens e ligeiramente frio. Em Cabanas as chaminés fumegavam e de longe a paisagem parecia natalícia, amaciada pela lenta nebelina entre montes.
Na "cabana" do Assis sentia-se o afago da lareira e lentamente o grupo se foi juntando.
O último foi o José de Castro que prometera saciar-nos com umas entradinhas de alheira e paio dos lados do Pinhão, primorosos em generosidade gustativa. Um vinho do Porto branco daquela vila duriense, com uma subtil casquinha de limão requintou um brinde à amizade.
O Castro ia justificando a proveniência dos enchidos enquanto deslizava a faca bem afiada em largas fatias que iam desaparecendo sobre pão fresquinho de mistura de milho.
Na cozinha aprimoravam-se os rojões com outras subtilezas de porco que iam acompanhar um arroz guloso de estrutura bem minhota.
Dispôs-se a mesa e a panelinha a fumegar empratou generosamente de arroz de sarrabulho bem escurinho e de carnes desfiadas, quentinho e de comer à colher.
Saboroso, com os cheiros pronunciados dos cominhos e o toque contrastante do limão a fraturar a substância das carnes porcinas, este arroz de sarrabulho enchia a alma, acolitado pelos rojõezinhos e tripinhas enfarinhadas, mais o bucho, o fígado e sangue cozinho bem passados no tacho, bem ao modo das gentes do vale do Lima.
À sobremesa a macieza de um leite creme sobre bolacha torrada com cobertura de canela e em uso no Minho nos dias de sarrabulho, seguiu religiosamente a receita tradicional. O que distingue este leite creme de outras receitas é a particularidade da bolacha que absorve lentamente a humidade do creme , a que se junta o polvilhar da canela como substituto do açucar queimado por ausência da ferramenta adequada, mas que completa bem.
O grupo era de 8 e tivemos a companhia do Padre Mário da Lixa, amigo do Assis e que foi uma presença muito agradável.
De tarde usamos a lareira do Assis para assar as castanhas com outras cozidas para satisfazer preferências, acompanhadas de uma jeropiga abafada pelo Meira na sua quinta que produziu também os vinhos servidos durante o lauto almoço. Completamos o lanche com as alheiras trazidas pelo Castro, que eram magníficas na sua consistência e sabores.
A tarde esteve sempre sombria mas na "cabana" do Assis o clima é sempre bom. Mas as tardes deste tempo também são curtas e a luz do dia foge sem contemplações. Tivemos que dar os abraços aos que ficaram e eu e o Meira rumamos aos destinos da partida matinal.
E destes Encontros e Reencontros se vai reforçando a AAAR, quase sempre a uma boa mesa que em tempos de inverno aquece o corpo e anima a alma.