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2012-12-05

alexandre gonçalves - palmela

O RIO DA ESPERANÇA

 

Há um tempo atrás, armei-me em geógrafo e fiz correr nestas paisagens devastadas o rio da indignação. Para que as margens o não detivessem com a sua hipócrita legitimidade, prometi um outro rio, menos visível, mas igualmente real, que é a esperança. Onde nasce esse rio? Por onde passa? Qual a sua foz? Será possível indignar-se e manter acesa a esperança? Não são conceitos contraditórios. Nem a raiva é absoluta, nem a esperança é ficar sentado, à espera dum salvador. São dois rios que correm para o mesmo oceano. Desligados são a desordem, que qualquer general de aviário pode arrasar em manhã de mau humor. Unidos, são o começo da justiça e da liberdade. É claro que não se trata das chamadas virtudes teologais, tão inúteis como solenes. Não é a resignção ingénua, defendida pelo Sr. Policarpo, segundo o qual não é nas ruas que se defende a democracia mas sim respeitando as leis democráticas, produzidas pelos órgãos de soberania. Essa resignação aguentou meio século de salazarismo. Em nome da esperança cristã, puderam esperar sentados, durante séculos, povos inteiros, a quem se pregou que a felicidade não é coisa deste mundo, mas do que há-de vir.

O rio da esperança nasce num fio de água límpida, dessa que corre pelas montanhas abaixo. Juntar-se-á a outros milhares de fios de água, até formar um caudal imparável, capaz de submergir imperadores, ditadores, exploradores e outros violadores da dignidade humana. Este rio será uma nova ÉTICA, para uma humanidade em mudança, que de repente se viu a morar na mesma aldeia que é o mundo. É preciso acordar deste sono imenso, que é aceitar passivamente as verdades gerais, veiculadas pelos novos catecismos estatísticos. Em cada homem há um homem único, sem numeração possível, sem qualquer possibilidade de caber em cálculos. E cada homem deve portar-se como único e exigir que como tal seja tratado. Por isso, esta esperança exige de todos um constante trabalho de casa. O homem não nasce feito. Tem que se fazer a si próprio. Tem que se construir ao longo da sua vida. Em solidariedade e não em concorrência, num movimento de vasos comunicantes, descobrindo-se a si mesmo através dos outros. Descobrindo os outros através de si mesmo.

Esperar é acreditar. É encarregar-se de si.  É não sobrar nem desistir. É informar-se e formar-se. É participar. É fazer cidade. É denunciar as fontes putrefactas, que envenenam a terra. É ter coragem  e incomodar. É não deixar dormir nem cidadãos nem instituições. Em suma, é habitar a vida e as casas, e praticar a alegria como um direito. HAVERÁ OUTRA MANEIRA DE JUSTIFICAR A EXISTÊNCIA, que embora breve é a única oportunidade de adquirir sentido? 

2012-12-04

Assis - Folgosa - Maia

Amigos meus,

Saúde para todos, mas sobretudo para quantos se encontram em estado de recuperação.

"Na tua casa ainda somos felizes" disse o Aventino. As coisas acontecem muito naturalmente mas a passos lentos. Doutra forma, a queda era certa e a divisão entre os AAARs mais que evidente. - Como disse em Cabanas e conforme o princípio filosófico anuncia "não se ama o que se desconhece", a presença entre nós do Pe. Mário de Oliveira, no passado dia 24 de Novembro, foi um acontecimento que considero normal. Já não era a primeira vez que ali tinha estado, com muito agrado de ambos, dele e meu. Desta vez, houve a novidade de vários colegas terem a oportunidade de o poderem ver, cumprimentar pessoalmente e com ele conviver e até de poderem ter uma ideia clara da sua personalidade. - Houve uma verdadeira empatia entre ele e todos os presentes. Como desejo comum, ficou o de nos voltarmos a encontrar mais tarde e, se possível, com muitos outros AAARs, desejo sublinhado por alguns ssociados que não puderam estar em Cabanas no dia 24. - O Pe. Mário deixou para cada um dos presentes o seu 'O Livro dos Salmos /versão TERCEIRO MILÉNIO, também para ateus', todos eles com dedicatória e assinatura pessoal. Agradeço me remetam a direcção pessoal por Email a fim de eu os poder enviar por correio o mais rapidamente  possível. É um livro que todos gostarão de ler e meditar, assim espero. Ele é como que a Refeição da Palavra que, por falta de tempo ou talvez por mesa a mais, dada a generosidade de todos os presentes, faltou no encontro do dia 24 de Novembro. Espero que, em próximos encontros, a Refeição da Palavra seja mais farta, mesmo que tenhamos de cortar ao tempo e à quantidade de bens comestíveis, não à sua qualidade.

Como na minha, na casa de todos os AAARs continuaremos as ser felizes, amigo Aventino. Não tenho dúvidas.E não precisamos de ordenar "silêncio..."

O meu abraço fraterno

2012-12-03

manuel vieira - esposende

"Na casa do Assis é que se é feliz" como dizia o Aventino, mas não só.

O Davide já regressou a casa com as vistas afinadinhas e tem que lhes dar algum descanso. Como convém!

Em breve teremos disponível na casa de cada um a nossa revista Palmeira, o mensageiro privilegiado que bate a todas as portas.

Em leitura branda tenho sobre a mesa "O Livro dos Salmos" do Padre Mário de Oliveira, que merece uma abordagem de espírito aberto.

2012-12-02

manuel vieira - esposende

Foi suave a mensagem do Viterbo. Notícias boas de que tudo correu bem e agora será o tempo também a contribuir para uma boa recuperação. Foi bom "escutar" em palavras próprias essa boa notícia.

Também o Davide vai fazer uma pequena intervenção oftalmológica  já a partir de amanhã e junta-se à lista de colegas com tratamentos mais cuidados e para ele vai um abraço amigo.

 

2012-12-02

AVENTINO - PORTO

E AQUELES QUE FICARAM

Na casa do ASSIS é que se é feliz.

( e o meu pai a dizer silêncio, silêncio, que as paredes têm ouvidos. E o meu pai a dizer guerra civil de Espanha, cinco anos, combatente, republicano, clandestino, depois a Legião Francesa, a fronteira, França, de novo a clandestinidade, a Gendarmarie a expulsá-lo, repatriado, Portugal, Salazar e a miséria)

Na casa do ASSIS é que se é feliz.

(Soalhães. Marco de Canaveses. E o meu pai a contar-me, criança de oito ou nove anos de idade que eu era. Silêncio. À lareira da minha casa velha velha, de um país velho, de um ditador velho. Na Freguesia ao lado havia um padre. O padre era convidado para almoçar aos domingos em casa da senhora, casa senhorial, proprietária, rica, criados e criadas, caseiros, regime, Salazar. O padre foi, o primeiro domingo, à mesa com a senhora, mesa longa, farta, os dois, as criadas a servirem).

Em casa do ASSIS é que se é feliz.

( e o padre a dizer: se os criados não vierem comer para esta mesa ao nosso lado eu não como nada e não volto cá. O meu pai a contar-me e esta criança encantada, o meu pai encantado, o sonho, a liberdade, a igualdade, um mundo novo imaginado que nunca, nunca, vim a conhecer).

Em casa do ASSIS é que se é feliz.

(o padre era o padre MÁRIO DE OLIVEIRA, vim a saber muitos anos mais tarde, infância passada, seminário passado, Coimbra e o cheiro a liberdade).

E assim se foram os sonhos com que o meu pai, ateu, republicano, anti-clerical e sonhador me foi encantando, num misto de sonho e de mentira, num  misto do imaginado e do possível. Depois, houve uns tipos que se disseram padres e me expulsaram do seminário. Uma carta a 17 de Agosto de 1970 dava a notícia. Bela ou monstruosa ainda não sei. O que sei é que o futuro é este dia de hoje. Ausente do terno afecto que me tiraram; presente da rectidão, da honra, da lealdade, do carácter com que o seminário me fez cidadão, português, Aventino.

(Corria o meu terceiro ano do curso de direito da Faculdade de Direito da Academia de Coimbra. Os jornais diziam, os jornais falavam Padre Mário de Oliveira, julgamento no Porto, Tribunal Plenário. E lá vim eu, manhã cedo, cinquenta escudos de combóio, esperança a rodos, (e as palavras de meu pai a ecoarem, os olhos de meu pai, os sonhos de meu pai pela liberdade).

Ao tempo, o regime estabelecia que os estudantes de direito, entre outros, naturalmente, tinham preferência nas salas de audiência dos tribunais portugueses. E este sonhador lá rumou adentro pelas portas de ferro do Tribunal de S. João Novo, polícias á porta, polícias pelos corredores, polícias na sala. Estudante da Faculdade de Direito. Coimbra, disse-lhes. Cartão na mão. Pose empertigada. Seguro que "aqui ao leme sou mais do que eu". E o polícia: a sala está completa; não pode entrar. E barrou-me o caminho. Completa de Pides? perguntei-lhe eu. Completa, respondeu-me esse miserável cidadão).

Bem haja Padre Mário de Oliveira. Bem hajas, meu querido ASSIS. 

Na tua casa ainda somos felizes. 

 

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