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2013-01-22

Ismael Malhadas Vigário - Braga

Sobre a amizade e o seu sentido, gostei sempre muito deste texto. É possível que Pessoa tivesse conhecimento deste escrito, pois antes de ser poeta, necessariamente, que também foi um grande leitor. E sabemos que lia muito os autores greco-latinos e os alemães (Nietzche e Shophauer eram autores da sua preferência)

(E agora digo eu: não queiramos demais desta vida humana que nos és dada.

Sejamos fiéis a esta natureza que que nos anima.

 Sorvamos o hálito natural que nos originou.

Vivamos com a tolerância de que somos caminheiros de um destinho que pouco compreendemos. )

Nietzsche: Amizade Estelar


"Nós éramos amigos e nos tornamos estranhos um para o outro. Mas está bem que seja assim, e não vamos ocultar e obscurecer isto, como se fosse motivo de vergonha. Somos dois navios que possuem, cada qual, seu objetivo e seu caminho; podemos nos cruzar e celebrar juntos uma festa, como já fizemos – e os bons navios ficaram placidamente no mesmo porto e sob o mesmo sol. Parecendo haver chegado ao seu destino e ter tido um só destino. Mas, então, a todo-poderosa força de nossa missão nos afastou novamente, em direção a mares e quadrantes diversos, e talvez nunca mais nos vejamos de novo – ou talvez nos vejamos, sim, mas sem nos reconhecermos: os diferentes mares e sóis nos modificaram! Que tenhamos de nos tornar estranhos um para o outro é da lei acima de nós: justamente por isso deve-se tornar mais sagrado o pensamento de nossa antiga amizade! Existe provavelmente uma enorme curva invisível, uma órbita estelar em que nossas tão diversas trilhas e metas estejam incluídas como pequenos trajetos – elevemo-nos a esse pensamento! Mas nossa vida é muito breve e nossa vista muito fraca, para podermos ser mais que amigos no sentido dessa elevada possibilidade. – E assim crer em nossa amizade estelar, ainda que tenhamos de ser inimigos na Terra".

(Nietzsche, A Gaia Ciência, aforismo 279)

2013-01-21

Arsénio Pires - Porto

Já que estamos em maré de Fernado Pessoa, aqui vai mais um belo poema dele.

Parece que feito também para nós!


"Um dia a maioria de nós irá separar-se.
Sentiremos saudades de todas as conversas atiradas fora,
das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos,
dos tantos risos e momentos que partilhámos.

Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das
vésperas dos fins-de-semana, dos finais de ano, enfim...
do companheirismo vivido.

Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.

Hoje já não tenho tanta certeza disso.
Em breve cada um vai para seu lado, seja
pelo destino ou por algum
desentendimento, segue a sua vida.

Talvez continuemos a encontrar-nos, quem sabe... nas cartas
que trocaremos.
Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices...
Aí, os dias vão passar, meses... anos... até este contacto
se tornar cada vez mais raro.

Vamo-nos perder no tempo...
 
Um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias e
perguntarão:
Quem são aquelas pessoas?
Diremos... que eram nossos amigos e... isso vai doer tanto!

- Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons
anos da minha vida!
A saudade vai apertar bem dentro do peito.
Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...
 
Quando o nosso grupo estiver incompleto...
reunir-nos-emos para um último adeus a um amigo.
E, entre lágrimas, abraçar-nos-emos.
Então, faremos promessas de nos encontrarmos mais vezes
daquele dia em diante.

Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a
sua vida isolada do passado.
E perder-nos-emos no tempo...

Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não
deixes que a vida
passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de
grandes tempestades...
 
Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem
morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem
todos os meus amigos!"

                              
                            Fernando Pessoa

2013-01-21

manuel vieira - esposende

Não conhecia este poema de Fernando Pessoa intitulado "Aniversário" e o Aventino encaixou-o na perfeição com a sua arte batida de conversar com a gente enchendo de silêncio a mesa, enquanto o nosso Ribeiro fazia anos. 80!

Lá fora a chuva batia na vidraça acossada pelo vento.

É bom voltar a escutar o poeta:

“No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais       copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...”

Não vou comentar o impulso de “Álvaro de Campos” neste poema de sensações que contrapõe o tempo de infância ao tempo presente como também o fez o Martins Ribeiro no seu último post.

Só relembrar que é destes momentos à mesa que se constrói a vida boa e com alma.

2013-01-20

A. Martins Ribeiro - Terras de Valdevez

Caros amigos e companheiros.

A efeméride já lá vai e será irrepetível. Isto de cumprir aniversários, é uma normal ocorrência das nossas vidas que começa logo quando nascemos. Os primeiros anos, por serem ainda verdes, provocam euforia pois apenas vemos neles o início duma jornada que pensamos nunca irá terminar. Quando, no entanto, começam a pesar devemos ponderar algumas distinções: por um lado, achamo-los interessantes porque nos mostram a distância já percorrida e sentimo-nos alegres por estar ainda metidos na jornada mas, por outro, fazem-nos divisar ao longe a meta de chegada, cada vez mais próxima, o que nos entristece porque, lá chegando, nos iremos desintegrar no pó das estrelas.

Fui um dos mais acérrimos cultores do amor e também da amizade. Tendo amigos sinto-me realizado e estando com eles atinjo o nirvana da felicidade. Desta forma, foi para mim um orgulho e um privilégio ter conhecido e fazer parte da nossa Associação, pois ela me permitiu encontrar um ror de grandes e sinceros amigos que, depois dos meus, para mim estão acima de tudo. E a prova disso, além de muitas outras mais, foi o procedimento da passada sexta-feira, muito bem preparado, embora através de surpreendentes contornos. No meio de tão ilustres e carinhosos companheiros senti-me imerso num cálido banho de profunda amizade e, apesar dos meus poucos merecimentos, quase tive a sensação de me julgar um homem importante. 

Oitenta anos! E que são oitenta anos? No mensurável espaço deste mundo não representam sequer o incerto bruxulear da chama duma vela, um repentino fogo-fátuo, ou o mortiço estralejo duma brasa de carvão que se desfaz. 

Por isso, aqui estou agora para agradecer a grandiosa dádiva de afecto, de alegria e de convívio com que me presenteastes na comemoração do outro dia. Foi um bocado que, nos anos que ainda me possam restar, nunca irei esquecer. Quisera prolongar esses momentos por um tempo cósmico, ao redor duma sagrada mesa muito maior e onde se sentassem todos os AARs, sem excepção. Tenho, para mim, o Vivat como um Hino  da nossa mítica amizade, uma melodia que tanto pode ser ajustada á vida como á morte. Se vos agradeço por ma terdes cantado na vida, também haveria de gostar que, se possível fosse, ma entoásseis na morte.  

Nada mais tendo para vos oferecer, deixo-vos o meu afectuoso abraço de gratidão.

2013-01-19

manuel vieira - esposende

Foi um sábado farto em chuva desde a manhã mas o destino rumava aos Arcos onde reside o nosso colega Martins Ribeiro.

Juntamo-nos 17 no Alto da Prova, de onde se avistava o casario antigo de Ponte da Barca, para celebrar os 80 anos de vida do nosso Decano, um momento que foi mantido em completo segredo e que apanhou de surpresa o nosso aniversariante ao deparar-se à entrada do Restaurante com tantos colegas que lhe vieram dar um abraço. Saiu na perfeição!

Houve discursos e lembranças, um aperitivo duriense escolhido no Pinhão e enviado pelo Castro, champanhe do Diamantino, bacalhau na telha e posta mirandesa e cantou-se o Vivat.

Uma grandiosa jornada de amizade... e um grande abraço ao Martins Ribeiro.

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