2012-12-10
Ismael Malhadas Vigário - Braga
Lá está o Vieira sempre oportuno e qual aguilhão socrático a interrogar-nos, às vezes com umas interrogativas indiretas, como quem não quer a coisa, outras vezes plagiando uma dica ou, como refere Mikhail Baktine – dando réplicas, que são novas perguntas e respostas que se condimentam com novas perguntas, sempre num tom dialetizante.
Pois é Vieira... Não posso ficar indiferente ao tem tom... E tu mereces que a fala aconteça, que a tua réplica encangue noutras réplicas e se amplie em círculos concêntricos de todas as forças centrípetas e menos centrífugas. Porque a inércia pode convidar os menos afoitos e, ainda que haja a emoção, o delírio, a falta de vergonha e de pudor d’alguns para mexer com outros e assim sucessivamente, vamos à volta de nós e desafiamos o além de nós.
Pois é, também recebi a dita cuja, a nossa querida Palmeira. E no meu caso, senti-a muito personalizada, vinha acompanhada de um post-it endereçado pelo Arsénio a dar conta da minha colaboração, que muito me sensibilizou. O meu texto, que não me canso de reler, já me fez emocionar várias vezes, pelas recordações irrepetíveis de natais passados. Como é que fui capaz de escrever este texto tão íntimo, tão pessoal e de repente dar-me conta das sensações, soluços e apertos na garganta que tão reprimidos ao longo dos anos tinham sido remetidos para um inconsciente longínquo. Neste caso, o repto do Arsénio para colaborar foi libertação terapêutica. Obrigado a todos por isso. A Palmeira também tem essa função.... Os meus amigos da aaar são família, só eles podem compreender uma parte do meu ser, no fundo uma certa génese do que hoje sou, que não se explica em palavras, mas tão só na comunhão dos sentimentos enlaçados em memórias comuns do tempo em que ainda eramos folha em branco, no tempo em que tempo em tudo sorvíamos com espanto, ansiosos por uma libertação que julgávamos próxima, mas que se calhar ainda não alcançámos.
Num mundo às vezes tão desumano ainda é bom sentirmos a força de pertença e de sentido que os nossos amigos têm para nós. Permitem-nos o desabafo, a comunicação íntima, a dúvida, o aconchego, a generosidade, sobretudo neste nosso saite, como refere o Nabais: “exprimem-se os estados de espírito mais diversos”. E nele acontece a fraternidade. E às vezes sabe bem ler tantas falas que inebriam o nosso eu, tantas falas que de repente achamos que poderiam ser por nós escritas. E mesmo quando recebemos notícias tristes de falecimentos e doenças, é um aconchego sentir a solidariedade dos colegas, através desta tecnologia que aproxima o coração à distância de um clic.
Ismael Vigário