2013-02-22
Arsénio Pires - Porto
Também eu li (e reli) com muito gosto o texto do Ricardo Morais com o título “O Homem e os Deuses”.
Penso que é pena que ele não tenha figurado como um artigo na nossa rubrica “Pontos de Vista” como, aliás, também o Vieira já referiu.
Só pelo alerta do Vieira é que o fui procurar pois ele estava escondido e esquecido no lugar dos comentários a um outro artigo que pouco tem a ver com o tema que o Morais focou.
Quero dar os meus parabéns ao Morais pela excelente síntese histórica e “doutrinal” que nos ofereceu desta difícil relação do Homem com os deuses, com o poder e com dinheiro. Tudo muito ligado como o Morais bem nos mostrou.
Tão sugestivo é o artigo do Morais que não resisto a tecer algumas considerações que a releitura do texto me suscitou.
1. Penso que não devemos fazer uma leitura selectiva da história de modo a proclamarmos que os não-crentes em Deus são assassinos, depravados e desumanos. Os factos não nos permitem tal conclusão.O que os factos nos permitem afirmar é que alguns não-crentes são isso tudo, mas que a maioria deles são pessoas normais, que lutam abnegadamente pelo bem-estar de todos, que nem sequer lhes passa pela cabeça matar alguém, que só querem o bem dos outros e por eles são capazes, até, de dar a vida.
2. A mesma conclusão é forçoso que tiremos em relação aos crentes em Deus.
Tanto os crentes em Deus como os não-crentes em Deus são capazes do melhor e do pior.
Tanto a religião como a anti-religião podem influenciar alguns dos seus seguidores a cometer (e a fazer cometer…) actos de bondade e actos de total desprezo pelo homem. Os absolutismos, a verdade total num lado só, são uma das maiores tendências do género humano e fonte de grandes atropelos à humanidade. Eles, os absolutismos, deviam ser radicalmente banidos das nossas sociedades.
Friedrich Nietzsche já há um século que nos alertava ao dizer que existe algo na natureza humana que faz com que os nossos sistemas de crenças sejam igualmente capazes de inspirar grandes actos de bondade ou grandes actos de depravação.
Seremos ainda, e só, um projecto de Homem?
3. Parece-me evidente que a agressão à dignidade humana pouco ou nada tem a ver com a crença ou descrença em Deus mas sim com o Homem em si.
Pelo contrário, a luta pelo bem da Humanidade, pela justiça universal, pelo fim da exploração desumana, pela paz baseada no amor, essa sim, tem a ver com a crença. Só os Homens de Fé conseguem ser Homens de Boa Vontade. E, Homens de Fé podemos ser todos: os crentes e os não crentes em Deus.
Parabéns, Morais, pelo teu excelente artigo.Como eu gostava que ele pudesse sair na Palmeira mas, infelizmente, o espaço de podemos dispor tal não o permite.