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2013-06-07

José Manuel Lamas - Navarra-Braga

As águas e as trutas do rio Vez, na praia da Valeta, serão de boa qualidade?
 Li no jornal Correio do Minho na página 22 na edição de 6/6.,
  Foi avaliada como má a qualidade das águas do rio Vez, no sítio da praia da Valeta, após analises realizadas pela APA (Agencia Portuguesa do Ambiente).
 Ao receber tal relatório,o sr francisco Araújo,(presidente da camara) para provar o contrário, resolveu encomendar um estudo científico, a ser feito por investigadores da Universidade do Minho. E a terminar, o sr Francisco Araújo garante que enquanto se realiza o tal estudo científico, quem se vai encarregar de demonstrar que as águas do Vez são de excelente qualidade. _  são as trutas que por lá abundam, os patos que nidificam nas margens mais as lontras que por lá passam de vez em quando.      
  Será fiável tal demonstração ?  Talvez seja boa ideia, perguntar ao nosso Decano Martins Ribeiro. Até a próxima e que seja breve.   Abraço a todos.

 

2013-06-06

Ismael Malhadas Vigário - Braga

Quando abro o computador, vou sempre ao nosso sítio. Hoje encontrei o texto do Alexandre. E, como sempre, uma delícia. Tinha ideia de abrir o tal sítio e debruçar-me sobre o trabalho : uns testes estafados de uma turma do 9º ano que são o reflexo de um país em cacos. Mas o texto do Alex segurou-me até ao fim. E fico sempre com uma sensação empolgante: o Alex, com a sua palavra, toca-me. E li-o até ao fim e mais leria se houvesse… Sempre aquela sensação de que o nosso colega, com a sua palavra me põe a pensar e a sentir sobre a escrita que as palavras mostram. Um mundo sempre novo, mesmo que sejam sempre as nossas eternas palavras. E há amor nas palavras, e há ternura nas palavras e há a vida ou a ausência dela. Ao ler o texto do Alexandre tenho sempre a tentação de o partilhar com os amigos. E porque sinto esta sensação? Quando o Alexandre escreve, toca num pedaço da vida, numa ternura, num desejo, numa sensação épica, num desconsolo pusilânime, numa fresta da vida que é preciso preencher. E fá-lo, com a ternura e a magnanimidade do seu verbo. E recorre aos gregos, fonte máxima das suas imagens inspiradoras: à entidade racional e irracional do ser.

2013-06-06

manuel vieira - esposende

Ler o Alexandre com a riqueza prosaica e o preciosismo linguístico que satisfaz sempre, é um privilégio dos que convergem neste espaço.

O amor encaixa sempre nos seus textos e nas suas conversas e destinei-lhe estas linhas fresquinhas de hoje em mera narração imaginada e curtida. Qualquer semelhança de nomes é mera coincidência:

“O padre Zé erguera a mão direita em gesto de bênção final, dedos ligeiramente encolhidos e a cruz arejada em movimento solene, quando avistou o Alexandre ao fundo da igreja , diluído na penumbra do recanto, pertinho da pia batismal, granítica de traço largo e redondo.

Herege”, balbuciou baixinho enrugando o tez chisnado pelo verão quente das Beiras….

O Alexandre ouvira tocar o sino e olhando pelo vidro baço da curta janela empoeirada pelo tempo avistou Luz do Céu, fresca de cabelos soltos, vestido leve a seduzir os ares de uma adolescência madura.

“Vai fermosa e não segura” lembrou o Alexandre refazendo o grande poeta e acelerou as vestes batendo a porta a caminho da missa dominical.

A fragrância baldia do ligeiro caminho misturava-se com a sensualidade esbelta em passo esguio de Luz do Céu que passava já o umbral da porta da igreja.

O Alexandre aligeirou o passo, levantou com jeitinho o ferrolho da porta e bateu-a suavemente para fazer escutar a chegada.

Luz do Céu pressentira movimento e atirou um ligeiro olhar para a entrada, ajoelhando-se de seguida e benzendo-se em ar recolhido, rodando os cabelos soltos em escondido sorriso.

Alexandre encostou ao gradeamento rude do baptistério e escolheu o ângulo certo da visão angelical deixando no ar a ofegância do caminho apressado e da ansiedade ligeira.

Durante a missa esgrimiu ligeiros laivos de tosse em movimentos espaçados a confirmar presença e esteve ausente do padre Zé.

Dizem que o Alexandre trouxera saberes do seminário que deixara e exibia-os no banco corrido do pequeno largo da aldeia, lembrando de amiúde o episódio dos vendilhões do templo e os ares críticos de uma fé deserdada que chegara célere aos ouvidos do vigário.

 

O padre Zé fletiu longamente e atirou o olhar sobre o altar até ao fundo e de novo, muito baixinho, repetiu o murmúrio: “Herege”…

2013-06-05

Ismael Malhadas Vigário - Braga

La questione non è fare del bene quanto entrare in relazione … passare dalla violenza alla tenerezza: la tenerezza è quando il nostro corpo, il nostro animo, il nostro spirito sono unificati. Essere a proprio agio con il nostro corpo. La tenerezza è aver assunto la propria sessualità, non averne paura, non temere la relazione con l’altro. La tenerezza è il modo in cui una madre porta in braccio il suo bimbo, il modo in cui un infermiera cura le ferite. La tenerezza è mai fare del male a un povero. La tenerezza è una qualità di ascolto, un modo di toccare. Amare qualcuno non vuol dire fare delle cose ma rivelargli il suo valore. Tu hai dunque un messaggio da dare: la tenerezza. E questa tenerezza s’impara in comunità: “noi siamo tutti poveri, tutti feriti. Abbiamo tutti bisogno di mostrare il nostro potere. La comunità è il luogo dove si ricevono gli shock, dove s’impara a perdonare. Io nella vita comunitaria ho scoperto la mia stessa violenza. Ma oggi posso dire che, quando leggo sul giornale che un uomo ha ammazzato suo figlio, non dico “E’ cattivo”. Dico: capisco se io non fossi stato in comunità, se non fossi stato sostenuto avrei potuto fare lo stesso genere di cose.»
 
2013-06-04

alexandre gonçalves - palmela

 

 

TEMPO DE CÓLERA

 

O grego explicava que tudo provinha da lei dos contrários. Não confirmo nem desminto. Mas considero que este tempo, que nos cabe na recta final do "nosso futuro", está atravessado por esses dois pólos: de um lado, o esplendor de maio, as searas de junho, a terra fértil, a enseada amena do desejo; do outro, este país ferido de morte, porque uma elite infectada e impune faz apodrecer pessoas e instituições. De um lado o amor, do outro a cólera. A Europa do norte, egoísta e hipócrita, ignora e odeia a Europa do sul, desprezando este clima, esta paisagem, esta história. Amor e ódio desenvolvem-se assim como plantas de estimação, cujos frutos só podem ser amargos e venenosos.

Depois do apedrejamento desferido por M. Ribeiro, depois das múltiplas interjeições políticas que afloraram a este site, é indiscutível que a polis, e tudo o que lhe diz respeito, integra a listagem das nossas urgências temáticas. Até porque o "estado social" ameaçado inclui a nossa idade como vítima preferencial. Contrariamente ao que aqui se escreveu, em política não foi tudo dito. Ou melhor ainda, em política não se vive do que se sabe, mas das mentiras que se dizem e das verdades que se ocultam. E custa entender os propósitos daqueles que prometeram explicitamente retirar-se destas questões, como se isso revelasse uma grande atitude ética. Convém não esquecer que a nossa memória "pedagógica" nos vai encontrar numa redoma de vidro, quimicamente pura, totalmente alheia ao mundo real da época. Enquanto aprendíamos o sexo dos anjos, nas ruas ao lado gritava muita gente por um país novo. Mas hoje deixemos a polis, e a cólera que a envove, para quem a semeia. Pelo menos hoje, trinta de maio dois mil e treze,  quero falar de itapoã, uma praia do sul que Vinícius escolheu para falar de amor.

                                                 PRAIA  DE  ITAPOÃ

 


É uma esplanada alta e demorada. Já vamos na terceira cerveja mas a palavra não flui. É assim o meu amigo, calado e triste. Comento o mar, que é de leite. Observo os azuis do mar e do céu, que me comovem de esplendor. Insisto na montanha que temos atrás e ao lado. O Alberto apenas sorri. Estás igual a ti próprio, diz ele, não mudaste nada. Ou se mudaste, foi para pior. Conhecemo-nos na década de setenta, ainda na faculdade. Depois, fomos fugindo pela vida fora, algumas patuscadas, encontros esporádicos. Após um longo intervalo, foi ele que me viu e chamou. Sentamo-nos por aí, perguntou. Não nos sentámos. Impossível. Ainda trabalho. Mesmo assim, prometemos um almoço. Foi aqui, nesta esplanada. Está magro. Está triste. Está velho. Dói vê-lo assim vencido, ele que arrastava consigo uma auréola de glória. A certa altura, saiu-lhe, tudo falhado. Nem dinheiro, nem mulher, nem filhos. Acabo de me aposentar. E o que me apetece é perder-me. Fugir. Mas já é tarde. Acabei antes do tempo. E calou-se, como estivesse cansado de tantas palavras.

Peguei no mesmo tom. Que quase nada ia bem. Que a vida amorosa acabou no início. Quando me aposentar, talvez...,concluí eu. À quinta cerveja, o Alberto vai falar. Já não há ninguém na esplanada e a tarde, embora quente, descai de lado, com o areal completamente vazio. Trouxe-te aqui por duas razões. Primeiro, faço anos hoje. Segundo, foi num dia de anos distante que eu estive aqui vivo pela última vez. Sorri curioso e esperei que continuasse. Terceiro, foi aqui, nestas "areias de oiro", que eu, não como tu me conheceste, mas como hoje me vês, que eu nasci.

Alberto contou. Após a faculdade, fugiu ao serviço militar e foi parar a Paris. Teve que fazer de tudo para sobreviver. Nos últimos anos, conseguiu um doutoramento, de duvidosa utilidade. A vida amorosa era-lhe prioritária. De jardim em jardim, de bosque em bosque, fez "estágios sexuais" privilegiados. Mas quando regressou a Portugal, veio sozinho e desiludido. Com muitas feridas expostas, atravessa Lisboa de abril como um herói, embora se sentisse um cobarde. Consegue um lugar de professor na Faculdade de Letras. Resiste sem esforço aos sucessivos assédios femininos. Ganha algum prestígio como docente e decide fazer carreira universitária. As feridas, sobretudo a "grega" (assim chamava a uma paixão morena e fulminante com uma descendente de Helena de Tróia), foram sarando. Economicamente está desafogado e dispõe-se a olhar um pouco mais para as alunas. Os primeiros casos, contra a sua vontade, não passam de jogos amorosos inconsequentes. E até "inocentes", como ele lhes chamou. Mas a idade cresce e o desejo também. Quando surge uma tal Bárbara, tudo se precipitou. Foi num dia de aulas. Desde outubro, a cumplicidade crescia das mais diversas maneiras. Tudo muito discreto, como convém a um professor e a uma aluna. Numa alegre manhã de maio, no café do bar, ela sugere. Porque não hoje? A transgressão estava trabalhada até ao pormenor. Quinze minutos depois, já corriam sobre a ponte do tejo. O carro só parou aqui ao lado, diz Alberto. Soltámos corpos, roupas e todos os desejos e corremos pela areia intacta. Ninguém nos podia ver, ninguém nos podia julgar. Vês aquele morro, ali no meio do mar? Se falasse, só ele podia dizer que tudo isto foi verdade. Sabes o que eu fiz? Como nos planos não fora incluído o fato de banho, só disse para ela, desculpa, não olhes! Não posso perder isto! Era a natureza integral. Atirei-me e prestei provas do meu brio atlético. Cheguei, subi e gritei. Toda a baía se enterneceu com a minha audácia.

As cervejas de um e de outro já não se contam. A história já me agarrou também a mim. Só que a mim nada aconteceu em directo. Mesmo em diferido, eu olho o morro e penso em Bárbara que não conheço. O mais empolgante estava para acontecer. Alberto fala por uma vida inteira. Quando me calar é para sempre, justifica-se. Esbracejo no alto do morro. Esqueço o meu passado melancólico. Grito para a baía, para a serra, que maternalmente nos protege. E...pasmo de surpresa. Pelo mar dentro, acenando com a última peça de roupa, vejo Bárbara nadar para o morro. Jogo-me donde estou. E vou até meio da distância que nos separa. Dá-se aí um tremor de terra, na serenidade transparente desta água, na pureza absoluta de um abraço. Deitámo-nos de costas em cima da água. Ela fez de proa e eu fiz de popa. As pernas encaixaram umas nas outras e fizemos um navio que vogou sobre as ondas distraidamente. Quando chegámos ao areal, selámos para sempre um encontro do tamanho do mar. Já depois de casados, vínhamos aqui frequentemente. Celebrámos aqui dez anos de vida comum e alguns aniversários. O último recua cerca de vinte anos. Tantos como os que Ulisses demorou até regressar a Penélope.

Alberto está com os olhos à  beira das lágrimas. A serra já projecta sombras na enseada, que neste momento acumula vinte anos de ausência. Eu não resisti. Acabaram porquê? Eu não acabei. Eu nunca saio bem destas coisas. Em rigor, eu não acabo. Foi por isso que se deu aqui a minha morte. Explica um pouco mais, meu amigo. Parece que às vezes me queres confundir. Não, não quero, esclarece Alberto. Eu ando cheio de gente. A Bárbara não aturava tanto passado. E quando um dia lhe disse que ela se parecia com a grega, ela ficou a falar grego. Eu vi a Bárbara do avesso. E achei que estaria de partida. Havia no ar uma gravidez adiada, por mútuo consentimento, pensava eu. Um dia viemos aqui para comemorar. Fins de maio, como hoje, mais ou menos. Era um sábado, havia muita gente, a cerveja correu mal. O morro, disse ela, uma treta, coisa de adolescentes tardios. Já de regresso a casa,  ela disse que lhe andava a custar muito uma conversa urgente. Eu concluí, não é preciso, só com muito amor é suportável a existência. E nós já não temos muito, é isso? Era. No dia seguinte, após o banho matinal, ela dormia ainda, peguei numa folha em branco e anotei: Vou-me embora. A minha vida é noutro lugar. Tenta esquecer a dose de culpa que me cabe. E levo comigo todo o meu passado, tu incluída de um modo muito particular. E a grega de Paris, obviamente! Mas não me despeço com alívio, como se deitasse ao mar uma carga excessiva. Levo-te com ternura, como se foras alimento para uma longa viagem. Levo-te com todos os cuidados, como se tiveras os mesmos vinte cinco anos que um dia entraram despidos pelo mar dentro, para o encontro mais doce da minha vida. Boa viagem para ti e não apagues o meu nome, como se estivesse escrito na areia da praia. 

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