2013-06-08
A.Martins Ribeiro - Arcos de valdevez
Companheiros e amigos todos:
felizmente começo a entrar quase na antiga rotina, após a conclusão de vários revisões ao canastro, com análises, ecografias, cardiogramas, exames rectais, (livra) e toda uma parafernália de outros procedimentos que o desgaste do tempo nos aporta. Parece que o caruncho ainda vai preservando algumas coisas boas como umas feijoadas, cabritadas,lambuzadas de pudim do tal abade de Priscos, tudo bem regado com o alvarinho de estalo que nada tem a ver com o tal Álvaro dos pastéis de nata.
O Alexandre apareceu por aqui com um texto mirabolante, evocativo dum amor romântico inspirado na fatal contemplação de partes excitantes, alvas e proibidas, de sedutora visão que incautamente o fizeram cair em tentação, vejam lá, no santo limiar de uma pia baptismal como bem acentua o Né Vieira.
Entendo que tudo o que é bom se deve aproveitar desde que não faça mal, caso contrário não passa de tempo perdido que nunca mais poderá ser recuperado. Mas, abençoada aparição que, pecaminosa ou não, permite ao Alexandre escrever, ainda hoje, tão bela prosa á qual o Ismael Vigário dá o devido realce.
Por último, o amigo Lamas é que me deixou embatucado com a poluição da praia da Valeta, assim vilipendiada pela obscena bojarda de um qualquer jornal ou televisão e que, cá pelo burgo, tem feito correr alguma tinta e fervilhar de ânimos desencontrados; uns verberando, outros defendendo, alguns mais encolhendo os ombros de indiferença.
Claro que os indignados com tal "atoarda", sobretudo os ditos responsáveis, trataram logo de encomendar um estudo sério e conclusivo de que não é nada disso e que tais águas estão mais límpidas e cristalinas que uma nascente do paraíso e que as trutas que nelas remansam são mais saborosas e frescas que um salmão de aviário. Por isso, caro amigo Lamas, nem hesite em servi-las aí no seu restaurante pois o êxito será mais que garantido e só lhe aumentará a fama.
Mas, isto aqui para nós; no pico do verão, o rio Vez torna-se num fio estagnado, sem correnteza, recebe os dejectos da lavagem de carros duma estação de serviço a montante, depois na praia não se vê água nem areia tapada como está por uma espantosa multidão de corpos quase nus, de velhos e novos, todos suados, imagina-se que esvaziando pingos amoniacais e "estreptococos fecalis", cuspidelas e ranho, quem sabe até miasmas sequentes a beijos ardentes de paixão. São águas muito frescas e quem disser o contrário é um má-língua porque o estudo científico da Universidade do Minho não mente.
Escrevia Alexadre, o Herculano, referindo-se aos bretões que pareciam grunhir quando falavam: "… o Mundo a dizer que os bretões grunhem e os bretões a grunhir que o Mundo mente!" E que mais vos posso dizer eu? Até um dia destes.