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2013-07-07

A. Martins Ribeiro - Terras de Valdevez

👦

VISÃO DE DOIS MUNDOS

Diz a canção de Coimbra, quase toda ela envolvida no seu inveterado romantismo, sendo por isso que eu tanto gosto dela:

Para que quero eu olhos,

Senhora Santa Luzia,

Se não vejo o meu amor 

Nem de noite nem de dia?

E é a pura verdade, aos anos já que eu não via quase nada, não só amores, como nada mesmo e, como sabeis, agora que rectifiquei um deles - a seguir será o outro - santo Nome, agora vejo desse olho como um lince vê dos seus dois, vejo o Alpha e o Alleph, vejo muitos amores, aqueles que desejo e me interessam, vrjo com outra visão mais penetrante, vejo com o prazer do milagre, vejo como um homem de corpo novo, de esperança renascida; já escrevo, já conduzo como numa pista desimpedida e larga. E nem sabia mas, na verdade, não via mesmo nada, era quase um cego e aproveito para dizer ao Gaudêncio que os amores dos anos 50 não eram nada arrevesados: eram verdadeiros, românticos e por isso é que eu gostava deles. Agora é que são diferentes, prosaicos, despachados mas eu sei-lhes dar a volta. O Alexandre, conforme narra no seu tópico, não fez mais do que eu também fiz nessa terra de ÁGUA TODO O ANO, que fica a meia dúzia de metros da entrada em Ponte de Sor, vindo da cidade de Abrantes e na estrada de Montargil em direcção a Mora, Pavia e Évora. Também a fotografei para mostrar aos amigos, sobretudo pelo exotismo da  sua denominação. Só não vivi lá qualquer aventura, apenas por lá passei, mais que uma vez. E creio que é uma terra que não deverá morrer de sede, pois água não falta por essas paragens dado estarem banhadas por uma importante barragem. 

Com o calor que, finalmente, se tem feito sentir nestes dias, parece reinar uma paz forçada e calma que me convida a sentar no "púlpito" da minha casa, conhecido de muitos de vós, não para arengar a um qualquer fantasmagórico auditório mas para sentir o frescor da aragem da noite. Ás vezes dormito, outras deixo-me enfeitiçar pelo argênteo sortilégio da lua cheia. Num dia destes, ao contemplar a imensa mole do Outeiro Maior, que se vê desse meu recanto, deixei divagar o espírito pelas paragens esotéricas de mundos que não conhecemos mas que sabemos que existem por deixarem em nós marcas de transcendência e eternidade. E lembrei-me de que, no meu primeiro ano de casado, a minha mulher, amor já definitivo e, por isso, despido de aventura, tinha sido colocada um tanto compulsivamente e no exercício do seu magistério, numa das muitas aldeias perdidas nos córregos da serrania que abraçam estas belas terras de Valdevez. Era um povoado isolado, selvagem, primitivo, onde ardia, de forma inextinguível e contínua, o sagrado fogo das lareiras e, lá no fundo, cortado por um regato límpido e sussurrante. Não havia estradas, nem transportes, nem sequer uma simples bicicleta: só mesmo a caminhada por carreiros cobertos de pedregulhos por entre tojos e carrascas nos podia levar até lá. Veio-me então á memória que, certa vez em que, como de costume, fui passar o fim de semana com ela devia regressar na segunda feira para voltar ao trabalho, sendo forçoso sair por volta das quatro da manhã, descer por angustas veredas, por incertas penedias, por vezes escorregando por fundos barrancos. Ora nessa noite, no sopé da parda mole do Outeiro Maior, esborrachado pelo silêncio constritor do Infinito, estacando a alma junto á ermida do Senhor da Paz, deu-me para olhar o alto do cume. E que vi eu? Um Céu negro, dum negrume profundo, encrustado de estrelas tão tremeluzentes e brilhantes que logo me lembrou um mundo que alguém me tinha contado, habitado por Deuses, um reino de fadas, de duendes, de anjos esvoaçantes e translúcidos, uma plaga onde não podia existir dor, nem tristeza, nem maldade, nem sofrimento. Nunca tinha visto nada assim e a sensação de paz era tão intensa que lá permaneci muito tempo contemplando tal maravilha como se, de repente, estivesse a sonhar. Nesse lugar indefinido só poderiam estar os Justos, a Mãe de nosso Senhor e a minha santa mãe que Deus tem, todos aqueles que ajudaram os seus irmãos, todos os que se sentiram perseguidos pela injustiça, todos os que sofreram e passaram fome, todos os que foram roubados, todos os perseguidos, todos os atribulados, todos os amores que morreram, todos os missionários que proclamam o verbo da esperança, todos os coros dos anjos, toda a benção e toda a bondade. Absorto na bem-aventurança foi  então que, como num estalar de dedos, um agitado estremeção me desconcentrou daquele êxtase e me obrigou a olhar para baixo onde se abriam cavernas escuras, precipícios aterradores, ravinas medonhas, sombras de gigantescos penedos assombrando a noite, córregos profundos que pareciam conduziam a subtérreos avernos. E foi-me dado ver outro mundo: um mundo tétrico onde reina o medo, donde provinham gritos raivosos do choro e ranger de dentes de inditosos condenados e almas penadas, um mundo feito de masmorras e cadafalsos, um mundo onde só podiam reinar nigromantes e demónios, porque nele só poderiam entrar os ladrões, os parasitas, os agiotas, os políticos, os corruptos, os juízes, os assassinos, os agnósticos, os tiranos, os calaceiros, os pedófilos, os panascas, os torturadores de animais e todos aqueles que atormentam os seus semelhantes. 

Espantado e temeroso corri monte abaixo, seguindo por veredas conhecidas, até á povoação onde encontraria o transporte para terminar o regresso. 

Começava já a raiar a luz da alva quando, meio azoinado ainda pela emoção, me invadiu a certeza de que, nessa manhã, me tinha sido dado perceber a existência de dois mundos opostos e distintos que a imaginação apenas podia conceber. Porque nunca tinha visto nada igual nem Céu tão lindo como aquele!

 

2013-07-05

alexandre gonçalves - palmela

 

                             ÁGUA TODO O ANO

 

Desde há muito tempo que atravesso o Alentejo no verão. E na planície em fogo, tropeço inevitavelmente neste grito irónico, ÁGUA TODO O ANO, que dá nome a uma aldeia que morre de sede. Antigamente, quando eu respirava futuro por todos os poros, chegava ali num volkswagen, eroticamente redondo, que me acompanhou cerca de vinte anos. Não morreu em combate. Larguei-o de vez, não por incompatibidade de feitios, mas porque a sua manutenção me subvertia o orçamento. Só então percebi que o meu escasso sucesso amoroso se devia mais a ele do que ao dono. 

Quando chega o verão, vêm-me à boca, cheia de sede, essas duas trivilialidades, o carro e a aldeia. Como se a paisagem e a travessia fossem elas mesmas feitas de água pura, a brotar da infância. Fotografei a placa de muitos ângulos, de muitas cores, de muitas intenções. Há-de ser o título dum livro, que hei-de escrever. Tenciono cumprir a promessa na eternidade. Aí não me vão faltar nem tempo nem leitores. Mas a palavra água não a largo, não a troco, nem a adio. O grego e o romano, e muitos portugueses de excelente extracção, preferiam o vinho. Mas aquela Madalena bíblica só tinha água para dar. E foi o que Jesus Cristo lhe pediu. Sem desprimor para os apóstolos das confrarias vínicas, nem quaisquer propósitos de imitar ninguém, era isso que eu pediria a uma jovem morena, em cujos suados braços deslizasse uma gota de água.     

Falo do verão que agora começou. Já não temos nada que alguém veja. Já não temos nada que alguém deseje. Nas praias, os nossos corpos só são toleráveis se discretamente nos embrulharmos na areia. E fizermos do  silêncio a nossa sábia presença. Mas nós pagamos na mesma moeda. Retiramo-nos para a esplanada, lemos o jornal e aguardamos que venha setembro com urgência. Até lá, despejamos mais algumas cervejas, dizemos banalidades e ocultamos os desejos na memória. O pior é que a memória não dorme. Sugere uma quinta protegida por cães de guarda. De noite, ou num recanto de arbustos, ou numa esquina de café, qualquer ruído acorda os sentidos passados, como rafeiros ferozes. Não é o ladrar que nos incomoda. É antes o assalto súbito, os dentes afiados, e a tentativa da dentada fortuita. É antes uma sede que perdura. Uma tarde em vão parada na consciência. Um alentejo sem fim, onde a vida arde sem razões no horizonte. Antigamente, quando respirávamos futuro, um carro mais velho do que nós era mais que bastante para acreditarmos num amor cristalino, a brotar da fenda duma pedra ou dum tufo de juncos. Hoje, inclinados para o areal, esperamos que chegue setembro.

2013-07-02

manuel vieira - esposende

Depois da gostosa favada no cimo da montanha do Assis, um intervalozinho de silêncio até poderá saber bem e ajuda a uma digestão fragmentada.

Veio a terreiro o Gaudêncio incomodado com tanto silêncio que lhe pareceu um velório e tantas vezes veio o cântaro à fonte que entendeu abrir a torneira.

É verdade que eu já várias vezes comecei a escrita para quebrar as ausências mas bem depressa concluí que outro deveria abrir a porta e assim aconteceu.

Estava à espera do Martins Ribeiro, agora com nova visão das coisas, a suceder ao escrito do Peinado mas valeu o Gaudêncio, até porque o nosso decano ainda anda impressionado com o crime de faca e alguidar que aconteceu há uns bons dias mesmo por baixo da sua janela e que foi contado na imprensa.

É verdade que por estas alturas e com o calorzinho a aflorar por todas as bandas, pese a ameaça de um verão mais frio, alguns colegas estejam em debandada para o gozo de umas imerecidas férias, entendendo-se que as férias deveriam ser apenas para quem trabalha e como tal ficam ausentes destas digitalhices.

Bem batalha o Gaudêncio e instiga as vozes ausentes mas lembradas pelas suas presenças, mesmo que não sejam do seu paladar, mas parece que ainda falam mesmo calados.

 

2013-07-02

ANTÓNIO GAUDÊNCIO - LISBOA

E agora................... meus caros ?  

Depois do bródio faval, feita a digestão do mesmo e celebrada a qualidade do convívio, este sítio entrou num silêncio a que eu mais chamaria um velório.

Algumas "penas" que, ultimamente, tinham aparecido e que prometiam, calaram-se sem nos explicarem a perda do pio. Não me refiro-me a ninguém em particular mas recordo o nosso companheiro Cabral que, depois de um começo auspicioso, nos últimos meses, aos costumes disse nada............

O Aventino tem andado muito calado o que é mau mas (aqui só para nós)lembro-me que a sua última intervenção me deixou de boca um pouco à banda. O Arsénio anda, ou deve andar, em gestão de esforço. O nosso decano tem desculpa pois essa coisa do olho tem que se diga..........Espero que melhore depressa para nos voltar a contar aqueles arrevezados, mas sempre comoventes, amores dos anos 50.

O último moicano, que nunca tem negado fogo, é o generoso Peinado que  vai animando as hostes no seu estilo folgazão, divertido e sem preconceitos. Segue rapaz.................e que nunca as mãos te tremam..........

Deixo de fora o Alex porque aquela prosa fina, elegante e versando assuntos elevados, não pode surgir todos os dias, nem convém, pois a banalizaçao é meio caminho andado para o desinteresse. E essas tuas histórias demoram tempo a amadurecer por isso a ti não se te exige que escrevas dia sim dia sim pois o amor também cansa!!!!!!!!!

E já não digo mais nada pois, nesta altura, o velório já entrou naquele período em que, sem perder o respeito pelo defunto, passa-se o tempinho contando umas anedotazinhas, ligeiras, brejeiras mas cheirando a vida!!!!!!!!!! 

    

2013-06-23

António Peinado Torres - Porto

Bom dia

VIVA A FAVADA E A AMIZADE " Palavras para quê ? " O nosso presidente já disse quase tudo e como sempre em alto estilo de SUPLESSE.

 Apenas quero salientar dois pontos:

1º- Estes almoços servem para cimentar amizades, para reencontros com ausências de décadas, e sobretudo para festejar a VIDA.

 2º- Foi oportuna e muito interessante a intervenção do José Lamas, pois veio dar uma certa ALEGRIA a este site a originalidade da sua comunição, não estando presente corporalmente, esteve de facto connosco, como aliás outros AARS estiveram.

Pessoalmente fiquei encantado com a frescura revelada pelo LUIS GUERREIRO na conversação que mantivemos, a sua sabedoria e experiência continuam a fazer dele UM PROFESSOR, mas acessível e sem qualquer ponta de arrogância ou de vedetismo.

 Se estiver cá espero nova FAVADA no próximo ano e como dizem os BEIRÕES " BEM HAJA ASSIS E ESPOSA " Voltarei.Peinado

 

 

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