fale connosco


2013-10-21

JOSÉ MANUEL LAMAS - NAVARRA -BRAGA

 

Viver bem, dá-nos prazêr

A vida assim, é rica e bela

                                Não tivesse eu o que fazêr

Também ia até Palmela.

Resta-me a todos desejar bom apetite e tenham cuidado com a jeropiga. 

Aquele abraço.

Zé Lamas

2013-10-19

Alexandre Pinto - Palmela

O  CÍRCULO  DO  FOGO

 

Pois é, meu caro Vieira. A tua observação é mesmo dum profissional atento e meticuloso. E justo. As ervas do quintal dão muito trabalho, mesmo para aqueles que o não têm. Sem o teu serviço de continuidade, a mudez geral bradaria aos céus.

Os anos pesam mais do que deviam. E a escrita é uma actividade de risco. Mas a ironia não modifica os hábitos. E são de mais os perigos da existência. Às vezes, ocorre-me a ideia de que se morre de sede rente a uma fonte que não se vê, só porque aborrece trocar as minudências domésticas pela paisagem que está do outro lado da janela. Como se alguém pudesse encontrar conforto na rotina de mastigar tédios e cansaços, num ócio pardacento, sem raiva e sem urgências. Ler, escrever, abanar a cabeça e dizer não, eis um programa de tarefas infindáveis, que a sabedoria da idade impõe aos dias que passam. O grego fez do ócio a ocupação por excelência, fundando a civilização e a cultura, a cidade e a democracia, a liberdade e a ética da participação. As soluções clássicas caíram a pique. Hoje já não nos convencem nem a propalada teoria da concorrência nem o messianismo judaico-cristão. Uma prega a esquizofrenia social, o outro o angelismo da imaterialidade, como se a vida não fosse terrena. E em época de tanta aflição, dá-lhe a febre de fazer santos de atacado. O Céu está abarrotado de criaturas protectoras. Na linha de montagem, outras se estão a produzir, em jeito de aviário. Como se o mundo estivesse na iminência de se extinguir, caso não crescesse a população celestial. Este cristianismo, com Francisco ou sem ele, lembra os jogadores de xadrez, de Ricardo Reis: " Ardiam casas, saqueadas eram/As arcas e as paredes,/Violadas, as mulheres eram postas/Contra os muros caídos,/Traspassadas de lanças, as crianças/Eram sangue nas ruas.../Mas onde estavam, perto da cidade,/E longe do seu ruído,/Os jogadores de xadrez jogavam/O jogo de xadrez." A santaria distrai e consola, mas ignora o mundo louco  deste incipiente século XXI. E este pobre país traído, enganado de lado, de frente e de trás, é uma pequena amostra estatística, que a concorrência reduziu a zeros. Quem transformou os antigos anciãos, sábios e dados ao pensamento, cheios ainda duma ternura adiada, quem os pôs no lixo, nos copos de três, nos bancos das esquinas e jardins, nos corredores dos hospitais? Podemos ser cães mudos? Pedimos a Fátima que salve Portugal? Será que não lemos, nem analisamos, nem sequer cultivamos a suspeita? Ou será que já não amamos cousa nenhuma?

   Chamo a isto o círculo do fogo. No dia 8 de Novembro (o sábado que precede o S. Martinho), era óptimo que a formosa Palmela, mas não segura, ardesse aqui no chamado paraíso do SUL. O convite é extensivo a todo o território, especialmente ao elemento feminino, por forma a descontaminar a mente formatada por um longo exercício de crucificação. O desenho já está feito, a lenha está pronta, as castanhas já andam por aí, e o vinho já corre por aqui. Palmela, a última ilha de que a grande cidade ainda não se apoderou, é nesta altura quase líquida, tanta é a protecção de Baco aos suaves prazeres da terra. Espalhem a notícia, sigam os bons exemplos e evitem os maus. Tragam o que lhes der na gana criativa, menos o que os deuses pagãos dão em abundância. A partir das dez horas, os portões estarão escancarados. Não há controle de ingressos. Após o magusto beirão, a fogueira desenvolve-se naturalmente em várias frentes. O lume cresce ao ritmo da fala. E a fala apura-se, iluminada pelo espírito da hora, em prestações individuais. Duas coisas serão tidas como indiscretas: repetir ou citar alguma intervenção anterior, bem como optar por qualquer forma de silêncio. Cada falante disporá de um tempo obrigatório entre cinco e quinze minutos, não menos nem mais. Por fim, sem hora marcada, o moderador fará a última intervenção e encerrará o encontro, assustando a noite com o "BIBAT". Quaisquer outras informações estarão disponíveis pelos meios usuais.

Para concluir, creio que o site já passou por mores dificuldades. Reconheço indiscutivelmente a grande e oportuníssima intervenção do Ismael, cuja prosa contundente e austera quase assusta a geral placidez dos presumíveis leitores.   Faço-te daqui um repto: vem até aqui ao sul, onde, num esforço colectivo, derrubaremos este governo, e outros semelhantes que se espalhem nas adjacências, bem como a humanidade que os gerou no seu pérfido ventre. Traz a cábula e senta-te à mesa, para celebrarmos a festa de estarmos vivos. Se falamos, se escrevemos, se rimos, e produzimos vãos pensamentos, é porque estamos muito vivos e nos recomendamos. As belas Senhoras que se apressem, porque nós não chegamos para as encomendas, mesmo que a cada um caibam sete e meia. Chamo ainda a atenção para o breve comentário do Rosa Gaudêncio. A concisão levada à máxima ganância. Isso estimula  e mostra que há leitores.

Acabo com raios e coriscos, feitos à pressa, porque  a bela Palmela está sob uma trovoada histórica. Lá nas regiões superiores, há fúrias que nunca por aqui se viram. A luz foi-se e as últimas palavras são escritas à vela e à pilha.

2013-10-17

Manuel Vieira - esposende

Eu sei que diariamente umas dezenas de colegas frequentam este site à procura de "novidades". Só por isso já se justifica a existência deste espaço mas é quase como passar à porta de um amigo e só olhar para o seu quintal a ver se ele "amanhou" a terra.

Curiosamente nos anos anteriores já se falava em castanhas nestas alturas, talvez porque o frio mais sentido instigasse à acção, à pretensão de um magusto de fumos sadios ou de ementas reconfortantes.

Não sei se é do tempo ou da ferrugem da idade mas que é necessário abanar esta dormência , lá isso é, pois vamos ter tempo para estar parados e temos de aproveitar os tempos que nos restam, como é costume dizer-se neste recanto.

Eu sei que o Orçamento de Estado para 2014 nos sufoca e por isso é bom respirarmos fundo em 2013 aproveitando o fantástico da amizade que ainda não foi taxada.

Gostei muito de ler o Ismael, com quem tomei um cafezinho a semana passada em Braga no Montalegrense e a sua criatividade e o Diamantino no relato a finalizar um Encontro e a quem dei há dias um abraço em Esposende.

A "música" do Lamas pretendeu inspiração mas todos se encolheram.

Conversei estes dias com o António Gomes que fez um esforço colossal para almoçar connosco em Sabrosa e testemunhamos o seu desconforto por doença mas as coisas estão agora no bom caminho com um tratamento adequado, sem a gravidade que se prenunciava. Ainda bem.

O nosso Davide também já está melhor e a fazer fisioterapia e alguns colegas vão-lhe dando o alento presencial e outros por telefone.

O nosso Martins Ribeiro está agora afinadinho de vistas e nada lhe foge à observação. E mais não sei...

Falta-me o Peinado, mas como anda desaparecido por estes lados vou procurar saber e...Voltarei!

2013-10-13

ANTÓNIO GAUDÊNCIO - LISBOA

Esta  "descrição alegórica " do Ismael retrata a nossa situação social com um realismo que até faz doer .

Dificilmente a "água"  virá e mesmo que venha ou virá tarde ou não chegará para todos. Possivelmente serão mais as ervas a secar do que as que irão  reverdecer.

Este povo, mesmo com os seus defeitos congénitos, não merecia o castigo de ter os maus condutores políticos que o levaram ao fundo do rio seco. ( Não lhe chamo «políticos», no sentido nobre do termo, porque isso é coisa que raramente tivemos na nossa história secular ).

Eu não sou ninguém para dar palpites mas confesso que gostei da forma engenhosa, e literariamente perfeita, que o Ismael usou  para nos  pintar um quadro,  actual e tenebroso do estado deste País.

2013-10-11

Ismael Malhadas Vigário - Braga

(Fonte de inspiração: Entrevista do Sr. Primeiro Ministro de Portugal em 9/10/2013)

Vieram de todos os pontos da pólis e juntaram-se à sua volta para o interrogar sobre o futuro,

o futuro, que o presente é um rio que corre seco nas suas enormes vidas.

Houve um tempo em que a água derrubou pontes, diques e margens. E da abundância do caudal transbordou lama, e pedras e revolta e desespero.

Um enorme vendaval e, onde antes eram estradas, nasceram agora becos lamacentos.

            Agora o rio vai seco, um fio de água no fundo do vale.

 As colinas apertaram o rio e, ele, como um fio, desafia a caminho do mar, com enorme desejo de o alcançar:

            Chego?!... Não Chego?!...

E os homens apolíneos esperam que a água do rio cresça, a torrente se forme, que ela possa de novo correr até ao mar.

O desespero acorreu à margem do rio, alguns precipitaram-se para se refrescar e a água era escassa.

Os primeiros a chegar ainda  e molharam os lábios secos de tão longa caminhada, num fio que ainda corria surripiado das “lájes” húmidas d’outras enxurradas.

Outros, os segundos, que vieram a seguir, olharam para o rio,

era uma imagem, uma memória d’outros tempos.

Os primeiros voltaram-se para os outros, entreolharam-se e não se falaram!...

Dai-nos da vossa água? –pediram os últimos. Os primeiros de olhos cabisbaixos responderam: - Não, não chega para nós.

E todos quiseram subir a colina, com um fôlego, que foram perdendo.

Estavam exaustos, veio-lhes um cansaço, um suor misturado em lágrimas que formava uma outra água que não dava para os saciar. Sabia a sal e a fel e ninguém a podia beber.

Os outros, os últimos a chegar ao rio, aqueles que olharam a memória do rio, não puderam humedecer os lábios, já tão mirrados e sequiosos de tanto caminhar.

 

Os dois grupos de homens separaram-se e nunca mais se reencontraram. Cada um seguiu o seu caminho: lugares que não levam a parte alguma. Soube-se depois que alguns foram dar à terra de ninguém. Nesse lugar não havia leis, nem mandantes de ordens, porque não havia ninguém para dar ordens. E chamaram a este novo lugar, o paraíso, a terra perfeita onde não havia a necessidade da necessidade, a loucura da loucura, uma terra fora da terra, um sítio utópico. E, passado algum tempo, alguém disse que estava farto de estar na terra de ninguém, pois tudo ali era um sensabor, um cansaço de perfeição, uma ausência de humanidade, sofrimento, angústia, de algo para disputar.

Alguém disse que estava farto de estar na terra de ninguém, e era melhor regressar à terra de alguém, onde havia alguma coisa para disputar. Sabiam que não era o paraíso, mas havia alguma razão para mandar, fazer, gritar, barafustar, reclamar ao vento, pedir ajuda às andorinhas, mesmo em voo e quando não param.

A terra de alguém nunca pode ser a terra perfeita, os seres que a habitam são incompletos, imperfeitos, egoístas, fazedores e pensadores do mal, mas são homens.

Na terra de ninguém, há apenas lugar para o sonho, a imaginação, o fantástico, o mito, os deuses, além das nuvens e de todos os espaços e palavra inomináveis.

 

A terra de alguém é mesmo muito imperfeita,

 mas é um mundo que ainda pode ser modificado pela ideia imaginativa do construtor.

É verdade que houve um tempo em que o sonho morreu e morreu várias vezes e houve compassos de espera e forte desejo do seu regresso.

Agora chegou o tempo do desespero, onde o sonho morreu, homens que partiram para uma terra incerta, outros  prostraram-se à vista da terra seca, árida e onde a brisa se esqueceu de levitar a erva seca e hirsuta que ainda desafia o mau tempo, a desconsolação.

As ervas hirtas e desafiadoras esperam por novos visitantes, alguém que as ampare, as vaporize, as levede e lhe faça companhia de um novo renascimento, uma janela aberta no horizonte.

            -“Nós estamos sós” – gritaram todas as ervas secas e ainda hirsutas.

“Queremos a companhia da água, de uma nova voz, de um outro olhar” – pediram todas ansiosas e a tremer ao vento.

Insistiram bramando aos quatro ventos –“Queremos água, uma gota de água” e repetiram todas unidas: “uma gota de água, uma gota… gota .. de água, que a nossa haste está quase a partir, socorro, por favor, já não podemos mais”.

 

 

 

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