2014-04-03
alexandre gonçalves - palmela
ESTEVAS DE MAIO
Parabéns Arsénio por essa distinção entre decidir e executar! É fácil defender uma ideia, mesmo que ela não tenha suporte na realidade. Mesmo que ela obtenha votos maioritários de circunstância. Mas as ideias, até quando exaltam o que de melhor existe na condição humana, carecem não só de oportunas decisões como também de generosos idealistas que as plantem no terreno. Vem isto a propósito da votação feita em Gouveia, segundo a qual o encontro anual da associação se devia fazer em Gaia de dois em dois anos. Dadas as circunstâncias, o debate não foi nem brilhante nem esclarecedor. Nem tempo havia para o ser. Uma relativa maioria aprovou a proposta mas não referiu o modo como se poderia levar à prática tal "decisão". Alguns pensarão que basta entrarmos por aqueles portões, que já não existem, para o encontro e os abraços funcionarem. Um pouco à maneira dos antigos combatentes da 1ª Grande Guerra. Juntam-se em redor dum monumento, inflamam-se num patriotismo retórico e depõem uma cora de flores. Monumento já temos. A antiquíssima palmeira aguarda, surda e muda, que arrumemos por ali os automóveis, que demos os abraços prometidos e façamos uma fotografia dos sobreviventes. Para haver algo mais, alguém teria de sair da sua rotina para criar um gesto novo que fosse. O que tem havido já não há. Nada ali acontece por obra do Espírito Santo. O Arsénio explicou tudo com excepcional clareza. Quem tem olhos para ver que os aplique. Que fazer? Quedamo-nos todos à espera de Godot? Arriscamos esbanjar por distracção estes anos acumulados em cumplicidade, em grandes momentos de festa, de cultura, de regresso a uma identidade?
Como em tudo na vida, também aqui há alternativas. Estamos já em condições de garantir uma viagem inédita, a todos os títulos continuadora dos melhores encontros já realizados. De resto, apesar de o rectângulo ser escasso, estamos muito longe de esgotar as oportunidades que se oferecem às nossas expectativas. E de ano para ano, com a aprendizagem que a experiência acumula, é possível proporcionar, às mais diversas sensibilidades, um conjunto de práticas e de bens de incalculável valor. O tempo foge, como dizem os relógios. Mas é urgente resistir. É imperioso não dar o flanco. Nem sentar-se diante dos televisores. Nem antecipar a funesta sentença. Viver é preciso. Vegetar é proibido. Somos herdeiros da sabedoria. Não a levemos connosco para o outro lado do mar.
Falemos do SUL. O sul é depois do Tejo, terra de sol, ainda ocupada pelos infiéis. Campos rasos de luz e de azul, que em maio se cobrem de infinitos matizes de "boninas" camonianas. Já explorámos o poente, num dos altos momentos de glória da associação. Recordam-se das vinte noras mouras que visitámos? Do concerto inverosímil em pleno barrocal algarvio? Pois bem, o Arsénio já o referiu. Eu corroboro. Beja espera por nós. O António Vaz será o anfitrião. Até lá, não há mar salgado, mas há mar de vinhas, de oliveiras, de estevas perfumadas, em plena flor de alegria e exaltação. Em redor da cidade e dentro dela, há um mundo pujante a renascer.
Atentos estai, porque do sul vem a feliz notícia. Se entretanto ninguém conceber uma alternativa com assinatura, ligada a Vila Nova e aos respectivos riscos, estejam de ânimo aberto, porque o SUL não dorme. O prazo é curto e exige agilidade e tempo, para qualquer das hipóteses. Beja é muito bela mas espera por MAIO, porque é em maio que ela cresce em esplendor. Portanto, se até meados de abril não houver gaia, entra inevitavelmente em acção a alternativa de Beja.
"Em Beja não vereis o arrebique
a sua escritura é mais sem ornamento.
Estética do recato.
Poesia que
vem de dentro.
Onde outras serão excesso Beja é pouco
mais de sombra que sol é seu circuito.
Procurai no recanto e no reboco.
Vereis então que Beja é muito."
M. Alegre