2020-09-10
aventino pereira - Porto
O QUE EU GOSTO É DE HOMENS
Nasci de entre um ventre e uma dor, não me lembro.
As vizinhas à volta, as minhas tias à volta, a panela de ferro ao lume e os panos todos quentes, a tesoura, o alguidar, as fraldas, os caldos de galinha e a porra toda de uma parafernália toda para exorcizar os livores que houvesse de verter, certamente,
oh! oh! Glória, traz a tesoura, grita a minha tia Maria Amélia,
deve ter sido assim, ou talvez o contrário de assim, é melhor não esquisofrinarmos a coisa e,
agora, defronte da campa vinte e três do cemitério de baixo da paróquia da minha solidão, a minha mãe,
Tino, já não temos passado, vem ver-me, traz-me flores,
e eu aqui estou com os meus amores, os meus amores são PESSOAS, o caráter, a lealdade, a grandeza, HOMENS quase sempre,
não vou a almoços ou reuniões, paróquias e seminaristadas onde haja as mulheres de quem, de alguém, de outrem, os meus amores são a honra, a lealdade, a palavra, os meus amores são HOMENS.
O que eu gosto mesmo?!
De HOMENS, homem e mulher, mas HOMENS.