2014-05-24
alexandre Gonçalves - palmela
ENCONTRO DE BEJA
Embiagai-vos amigos a tempo inteiro. Tudo o mais
é supérfluo. O tempo é um fardo horrível, que esmaga
os ombros e faz inclinar os corpos. Por isso, embriagai-
vos em continuidade. Como? Bebendo vinho, bebendo
poesia, bebendo virtude.
Charles Baudelaire
Não me morro por coisas nacionais. O título já abdicou do adjectivo original. É então mais um encontro entre muitos outros que já se fizeram e outros ainda que se vão fazer, dada a juventude apaixonada dos nossos corpos e das nossas almas. Mas não o faço sem insistir numa síntese brilhante que nos foi ocorrendo em sucessivas conversas.
Ponto 1. Não são os formalismos nem os estatutos que vão dar vitalidade à associação. Nem serão as assembleias solenes nem aquelas intervenções veementes, cheias de volume oral e escassas em conteúdos, que vão motivar os sócios para mais participação nas actividades associativas.
Ponto 2. Descendo ao chão real dos nossos dias, tais como são e não como podiam ser, vai ficando claro que os próximos encontros, sejam eles locais, regionais ou nacionais, só acontecerão quando, como e onde alguém ou alguns se propuserem dinamizá-los. A escolha de Beja só foi decidida depois de um grupo de "militantes" terem percebido que ninguém se quis chegar à frente para cumprir os "pactos" tão lucidamente invocados por especialistas. Gaia? Perfeitamente, desde que alguém ponha as mãos na massa. Mas esse alguém cansou-se. Pelos vistos, tornou-se insubstituível. Que avance o seguinte! A título pessoal, sugiro já três nomes, de indiscutível perfil: O Aventino, O José Maria Pedrosa e o Zé Rodrigues. Com eles já acredito que pode haver encontro nacional em Gaia. E eu serei dos primeiros a inscrever-me.
Ponto 3. Beja à vista. Anuncio uma excelente notícia. Os nossos jovens amigos de Brasília, Hirene e L.Guerreiro, já se inscreveram. Tê-los nesta viagem não é só uma enorme alegria. É um exemplo espantoso de mobilidade, de motivação, de repúdio do sedentarismo e da apatia. Muitos de nós irão tratar da vinha, da festinha dos netos, do aniversário de Santa Eufémia. O que me surpreende é termos um território estreito mas comprido e variado. E no entanto passamos de lado, não o procuramos nem o conhecemos. Há recantos paradisíacos de norte a sul, onde os deuses gloriosamente se passeiam comovidos com tanto esplendor. Têm de vir de longe almas curiosas para provarem esta luz, este clima, estas águas de época, para nos servirem de guias. Gaia e Porto são cidades encantadoras. Mas sabem realmente quanto custa servir aqui um programa motivador?
Ponto 4. Programa da viagem. Ainda não está totalmente concluído, nomeadamente no que se refere aos valores orçamentais. A estimativa provisória é que não excederá os 120 euros, incluindo a viagem de autocarro (que partirá de Gaia às 06.30), a dormida em hotel de 4 estrelas, dois almoços, um jantar e pequeno-almoço.
É conhecido o prestígio e o requinte da gastronomia regional do Alentejo. Não vale a pena insistir por aí. Almocei com o Vaz na terça-feira passada e pude confirmar com a boca o que os ouvidos já sabiam. Mas a força que nos chama para Beja é a grande planície, um apelo espiritual aos grandes espaços abertos, lavados, cheios de cores onduladas, que um brando vento de maio espalha na paisagem. A data escolhida é porventura a mais adequada a estes campos verdejantes, a estas casa brancas, a estes rostos morenos, que o sol modelou entre trigais, oliveiras e vinhas. São de mais os motivos para apressar a inscrição, não esquecendo que serão apenas 50 lugares. Vinde e vede que não há vinhos como estes. Não há poesia como a que os alentejanos criam para o seu cante. E não há virtude como a brancura infinita desta planície. Por isso, embriaguemo-nos desta leveza, desta cidade, deste alentejo esquecido.
Ó gloriosos filhos da palmeira,
inclinados em vão para a descida,
resisti à violência da ladeira
e retomai o ritmo da subida!
Só temos por limite a terra inteira,
e sabemos que é manhosa a curta vida.
Vinde neste navio para sul!
Vede que o mundo pode ser azul!!!