2014-03-09
manuel vieira - esposende
“Ó lampreia divina! Ó divino arroz, /comidos noite velha em casa do Julião /Sem ter ceias assim, o que há-de ser de nós? / Sofre meu paladar.”
Escrevia Afonso Lopes Vieira, sobre a lampreia recordando esses comeres no Julião das Iscas em Coimbra .
Na “cidade e as serras” Eça de Queirós descreve minuciosamente o escabeche de lampreia.
Refastelando-se na sua casa senhorial de Paredes de Coura, Aquilino Ribeiro, na sua obra “A Casa Grande de Romarigães” afirmava: “Não há como o arroz de lampreia, se lhe adicionarem uma colher de manteiga de pato”.
A lampreia à bordalesa é um guisado de ciclóstomo que nada tem a ver com o cozinhado francês e onde a forma de tempero e arranjo não se diferenciam da do arroz tão abundante nas práticas das casas minhotas.
” Com que gula a mastigo eu, em mesa que ma apresente opípara no arroz do tacho, em grossos toros aromáticos, ou à bordalesa, ou de escabeche, que nestas três artes se mantém ela tentadora e sápida”, como escreveu Couto. Viana.
Meu caro Aventino, mais que a abundância de palavras sobre a dita cuja serpente, tentadora e disforme em travessas fumegantes, valem os paladares divinais do arroz soltinho de comer à colher, ou os torinhos na espessura de dois dedos na suculência do molho que amacia o pão torrado ou o arroz sequinho de forno.
Um vinhão fresco das quintas protegidas do Alto Minho, de acidez macia e um borbulhar róseo e de aromas a marcar as fraldas da malga de porcelana alva que se eleva suavemente a desvanecer a sede, completa um repasto vasto em qualquer mesa larga onde nos assentemos para dar largas ao prazer.
Para rematar fica sempre bem umas Clarinhas de Fão, uns folhadinhos da mesma arte ou um leite creme com bolacha, de ferro quente ou canela a gosto ou um Abade Priscos. Em S.Frutuoso foi mesmo de comer à colher… e que bom!
Mas vou parar porque já não tenho cabedal para mais!