2010-01-10
Assis - Folgosa - Maia
Ismael, meu grande amigo, agora é que eu não sei por onde seguir.Fiz apenas os 3 anos de filosofia obrigatórios em Valladolid antes de entrar no campo da teologia, campo em que joguei apenas meio ano, já que bruscamente fui lançado no campo agreste do mundo.Sim gostei, mas nunca me considerei um filósofo.Por lá apareceu o "todo e a parte", o "ens a se" e o "ens ab alio"-já não sei se este último levava 1 ou 2 eles, mas também é um problema menor, desde que nos entendamos, tal como no caso da falta de acentos e pontos do aparelho do Arsénio, uma vez que o amigo Saramago já nos tinha instruído nesse particular, mesmo não concordando com as suas ideias, pelo menos no seu todo. Até aqui um parêntesis.- Pois é, Ismael,e nem faço referência, ou faço mas não ligo, aos teus saberes de poliglota.Fico-me com o meu português e pouco mais...Sinto-me muito grato aos meus mestres do passado e nunca lhes pagarei quanto deles recebi:sei que me deram tanto quanto eles tinham recebido. Como poderia não estar-lhes grato? - Aquilo que a vida cá fora me ofereceu, eles não podiam dar-me já que viveram sempre dentro. Lá dentro,eu era um menino, mesmo já com mais de 2 dezenas de anos, e pensava como um menino mas, uma vez fora, tive de começar a pensar como adulto, tal como diz S. Paulo.Foi o patriotismo que me levou como militar a Angola e por lá ficou.Comecei a ver o mundo de forma global,mesmo antes da globalidade económica, o Homem no seu todo. E foi lá que comecei a ver que realmente "a parte" (sempre a mais fraca) era espezinhada e que "o todo" era posto em causa precisamente por essa razão.A tal ovelha tresmalhada não só era procurada, como era perseguida.
Agora, Ismael, pergunto:porquê "não à maneira de João Baptista, mas sim à de Jesus"? - Será que no teu evangelho terão sido arrancadas as páginas das cordas usadas por Jesus no templo? Espero bem que não.- Com isto eu não quero defender qualquer tipo de violência, antes pelo contrário, nem defensor de qualquer terrorismo. Só que, ao ver tamanha desigualdade de situações entre as Pessoas, não posso deixar de me interrogar:"Quem semeia verdadeiramente o terror? Não serão todos aqueles que, encontrando-se no andar superior, exigem sacrifícios desumanos - uma vida de miséria - aos que habitam nos subterrâneos do humano? Como dar crédito, pois, àqueles que se valem dos meios de comunicação, de que se fazem donos, para falar de pobreza e vivem super-abundantemente em riqueza.- Não penses pois que me alegrei com o facto de o tal cardeal Etchegaray ter partido a perna.Não, até fiquei triste, pelas suas dores e pelo poder que ele representa,poder que não abona em favor da Igreja pobre de Jesus.- Isto aprendi-o cá fora e de modo muito particular na companhia do Pe. Henri, sobretudo durante os meses últimos de Julho, Agosto e Setembro, nas favelas de Fortaleza.- Desculpa-me, Ismael, se com as palavras que acabo de escrever te sentes ofendido. Não foi este o meu propósito, antes pelo contrário. O meu propósito foi apenas o de estreitar os nossos laços de amizade.Espero que assim penses.
Por isso aceita o meu abraço e o meu brinde de amizade, com maduro ou verde, tanto me faz.