Meu caro David
Com aquele abraço quero felicitar-te por dois motivos: a) por finalmente te teres decidido a intervir nesta nossa " conversa " e b) pela oportunidade e clareza da tua comunicação.
É pena que o teu repto de falarmos sobre "eventuais" casos de pedofilia na Quinta não vá ter seguimento. Não tenho qualquer tentação mórbida de saber se os houve ou não mas concordo contigo porque, como diz o ditado espanhol a respeito das bruxas, " que las hay, hay ".
Sobre os vigilantes já nem digo nada porque fui uma vítima desses generosos heróis da denúncia. ( Possilvelmente eu também ajudava e me punha a jeito de ser citado ). Uma vez o Madureira Beça até me fez ajoelhar e beijar os sapatos a um ou dois colegas nossos que tinham, ao que me lembro, o mérito de serem muito menos feios do que eu. Nessa cerimónia fui acompanhado por mais dois ou três parceiros mas, confesso, já não me lembro do nome deles. Como a cena, para que o castigo fosse mais retumbante, foi representada perante a "assembleia geral dos alunos" , pode ser que alguém se lembre dos meus outros companheiros de "martírio". Sobre as causas deste episódio tenho uma ou duas ideias mas vou guardá-las, porque são meras "hipóteses de trabalho" .
Força, David, a tua estreia foi muito auspiciosa e não vale desistas já.
Gaudêncio,
agradeço a tua mensagem elogiosa em demasia para comigo mas entendível num contexto de sã amizade que também sinceramente nutro por ti. Diácono tento ser todos os dias se diácono quiser dizer “servir” na medida das minhas possibilidades. Presbítero… não tenho inclinação para jejum celibatário nem possuo espírito paroquiano.
Alex,
ainda bem que já não tens desculpa para não vires a esta praça. Descortino na tua missiva uma quantidade de lava pronta a explodir (desculpa, estamos em maré de vulcões…). Tem cuidado para não interditares o espaço aéreo!
Então aqui vai.
Mais que andarmos para aqui debruçados do alto das nossas velhices tentando escavar e moer possíveis traumas passados, ou pregar na porta da catedral catilinárias sobre os padres pedófilos, penso que seria bom ouvir aqui opiniões sobre o que e como deveria ser a Igreja Católica. Esta atitude pró-activa teria bem mais interesse e, certamente, poderia ser bem mais útil.
Avanço alguns temas:
1. Ainda não eram passados 15 anos sobre o Concílio Vaticano II, e a Igreja Católica voltou a fechar-se sobre si mesma. A nível estrutural podemos dizer que ela é, hoje, comparável a uma lapa agarrada ao rochedo do passado.
2. A IC (como todas as Igrejas) defronta-se há já muito tempo com a “modernidade” e não a tem compreendido. Se não fala para o homem do nosso tempo, como pode ela anunciar convenientemente a Boa Nova de Jesus?
3. Uma das características da modernidade é a autonomia da pessoa: o homem de hoje define-se pela sua capacidade de tomar decisões e de afirmar o seu “eu” como responsável pelos seus actos. O discurso normativo morreu. A IC não tem que dizer aos outros o que é bom para eles, mas ajudá-los a encontrarem-se, a iluminar as suas consciências despertando-os para a solidariedade com os outros homens, com os animais, com a terra, com o Universo!
Jesus foi assim que fez: passou a vida a levantar homens e mulheres postos à margem, a torná-los responsáveis, a dizer-lhes que Deus é Pai e não um tirano, a ordenar: Levanta-te e anda!
Numa sociedade laica e pluralista ninguém pode querer impor a todas as pessoas um único código de conduta. Jesus não impôs limitações aos seus discípulos; respeitou sempre a liberdade do homem: Se alguém me ama… Se me queres seguir… Se alguém me escuta…
Apelou sempre à liberdade do homem!
4. A IC ainda não assumiu para si os valores que aconselha à sociedade. Um deles é a democracia. Vive num sistema absolutista: o padre tem que estar de acordo com o bispo e o bispo tem de estar de acordo com o papa. E este, com a sua Cúria, é o Imperador.
E neste organigrama, o povo é o rebanho que eles conduzem! Como se o Espírito de Jesus fosse propriedade privada do clero!
5. A IC não sabe comunicar a Boa Nova de Jesus para os homens de hoje. Vivemos num mundo de comunicação, imaginativo, inovador nos seus meios de chegar a todos. A linguagem da IC é arcaica, demasiado racional, e a sua liturgia é monótona, quase nada apelativa ao sentimento, repetitiva, cheia de fórmulas que ninguém entende!
É preciso muita fé para aguentar certas missas que deveriam ser “Comemoração da Ressurreição de Jesus”.
E tudo isto tendo em conta que temos por Mestre aquele que foi um comunicador por excelência, com uma linguagem clara e bela que arrastava multidões.
Venham daí!
Não há fome que não traga fartura e o debate com o meu amigo Martins Ribeiro, carregado de irredutibilidade jacobina da sua banda, acabou por despertar anseios de intervir de alguns colegas, com alguma curiosidade pelo aparecimento do Alexandre Gonçalves das bandas da terra do bom vinho, Palmela, que nem tempo tem para "afagar os ditos", embora esse constrangimento tenha mais a ver com a motivação do que com os ponteiros do relógio.
Não lhe faltarão as ditas musas e as Nereides inspiradoras, pois não são exclusivas das terras de valdevez e folgo em não estar só nesta invocação das portas do céu para afagar o futuro.
Agora que o debate está em 3D, afigura-se-me mais potencial de diversificar a temática, embora me aperceba que haja alguma sintonia na problemática que afecta a Igreja Católica, com o Gaudêncio a perspectivar funções de fé para o Arsénio, o que eu estranho pelas suas discordâncias de base, tanto quanto me tenho apercebido em alguns conteúdos.
Nesta dialéctica de palco a quem deve faltar tempo é ao Arsénio e tenho pena da distância que me não facilita a vida para estar presente no Encontro de Alcobaça (ainda não percebi se é de Fátima ou Alcobaça).
Mas vou invocar as Musas para que as coisas corram bem.
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